As trajetórias dos candidatos a vice-presidente nas chapas de Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) guardam semelhanças. Oriundos do interior paulista, Aloysio Nunes (PSDB) e Michel Temer (PMDB) formaram-se em Direito na Universidade de São Paulo (USP) e chegaram a ser companheiros de legenda no PMDB. Mas as coincidências param por aí.

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Eleito vice-presidente em 2010 ao lado de Dilma, Temer tem perfil quase antagônico ao adversário. Natural de Tietê (23/9/1940), católico praticante, é conhecido pelo estilo conciliador e discreto. Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, também recebeu o título de doutor honoris causa do Instituto de Direito Público (IDP) e é considerado um dos maiores constitucionalistas do país. Diferentemente de Nunes, evita polêmicas, atuando como articulador e moderador entre os partidos que compõem a base do governo petista. Elegante e formal, é admirado pelo talento político que o levou à presidência da Câmara por três oportunidades e ao comando nacional do PMDB, que exerce desde 2001.

“PT está no rumo de derrota acachapante”, diz Aloysio Nunes, vice de Aécio

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Confira o que pensa o candidato a vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff, Michel Temer:

As pesquisas apontam empate técnico entre Dilma e Aécio. Seria um indicativo de que grande parcela da população não está satisfeita com o governo?

Em primeiro lugar, há uma grande margem de indecisos. Em segundo, convenhamos, esta semana (semana que passou) foi muito própria para o candidato Aécio. Afinal, ele recebeu o apoio da família Campos (de Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco), o apoio da candidata Marina Silva, e os índices continuaram os mesmos. Aliás, tínhamos ideia de que o índice dele fosse crescer neste período. E não cresceu. Ora, isto é um indicativo de que, nos próximos 10 dias, Dilma deverá crescer e, portanto, nós venceremos as eleições, especialmente porque a rejeição da Dilma caiu razoavelmente. Esta é uma análise preliminar.

O fato de o senhor apoiar José Ivo Sartori (PMDB), que nacionalmente apoia Aécio Neves (PSDB), não lhe constrange?

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Não. Acho que deveria ser o contrário. Sou obediente às convenções. A convenção nacional decidiu uma coisa, e eu acompanho a decisão. A estadual decidiu nesta direção, e eu acompanho a decisão da convenção estadual.

No primeiro turno, seu partido dividiu-se entre Aécio, Dilma e Marina. Agora, segue rachado. Como o partido pretende lidar com isso tanto agora, na reta final da eleição, quanto depois?

São duas coisas. Em primeiro lugar, muitas vezes nos Estados, como aqui no Rio Grande do Sul, você tem o candidato majoritário não tendo condições de apoiar a nossa chapa. Mas é curioso como o PMDB, como instituição, nos apoia. Você verifica a grande reunião de prefeitos e vice-prefeitos que fizemos aqui no primeito turno. Foram 108 prefeitos e 80 vices que apoiam o candidato do PMDB aqui no Rio Grande do Sul, mas nos apoiam na área nacional, obedientes à convenção nacional. Agora está se repetindo esse mesmo fenômeno. Temos a dificuldade do nosso candidato aqui do RS para apoiar a chapa, em função da realidade local, mas temos o PMDB mais uma vez unificado em torno da nossa candidatura.

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O senhor é um político low profile, mais articulador do que mentor das decisões governamentais. Em um segundo mandato, o senhor deve seguir nos bastidores ou pretende atuar mais à frente do governo?

Bom, é o meu temperamento, né? Sempre foi assim. Um temperamento de quem consegue articular e, muitas vezes, reunir contrários. É claro que, embora eu seja low profile, quando há necessidade de uma decisão mais firme, eu a tomo. Já aconteceu isso em vários momentos da minha vida pública. No governo Dilma, vou continuar com o mesmo papel. E, quando for necessário para defender as cores do PMDB e o nome do Brasil, serei talvez mais vigoroso do que esta moderação que uso com muita naturalidade.

Embora continue sendo a segunda maior bancada, atrás do PT, a representação do PMDB na Câmara caiu de 79 para 66 cadeiras. Qual será o impacto disso para a governabilidade?

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Na verdade, os partidos todos viram diminuir as suas bancadas. Você vê que até o PT diminuiu o número de deputados federais. E nós somos quase a primeira bancada. Estamos muito próximos da primeira bancada. Ou seja, o PMDB continua com uma força política extraordinária, seja na Câmara Federal, onde tem a segunda bancada, seja no Senado Federal, onde é a primeira bancada.

Em entrevista a ZH, o senador Pedro Simon disse que o PMDB degringolou a partir do governo José Sarney, quando passou a “gostar de ser governo”. Qual é a sua opinião?

Não se trata de ser governo, mas de assegurar a governabilidade. Você sabe que, ao longo do tempo, nos vários governos, os planos que foram úteis ao país só prosperaram e foram aprovados porque o PMDB assegurou a governabilidade. Então, produzimos um efeito muito benéfico ao país. O que o PMDB quer é assegurar a governabilidade para o bem do povo brasileiro. É isto que o partido tem feito ao longo do tempo.

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O PMDB tem participado de todos os governos, independentemente do vencedor. Boa parte do PMDB já está com Aécio. Isso significa que o PMDB estará no poder, ganhe quem ganhar?

Bem, não vou trabalhar com hipóteses. Minha única hipótese hoje é ganhar a eleição. E tenho a certeza de que nós vamos voltar a governar, por uma razão singela: é que o instituto da reeleição não visa a reeleger pessoas, visa a reeleger planos de governo. Então, como Dilma e o nosso governo fizeram muito pelo país, e aí vou colocar toda a modéstia de lado, tenho absoluta convicção de que o eleitorado vai, em face do instituo da reeleição, colocá-la para continuar os planos que foram bem-sucedidos nesta quadra histórica brasileira.

Como o senhor vê o PMDB em uma reforma política?

A reforma política é indispensável. Eu mesmo, se for possível, vou sair em uma cruzada pelo país para fazermos uma grande reforma política, que cabe, naturalmente, ao Congresso, mas deve ter o apoio do Poder Executivo e também da sociedade brasileira.

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