O dilema para quem nasce no dia 29 de fevereiro do ano bissexto é sempre o mesmo: em qual dia comemorar o aniversário, já que a data se repete apenas de quatro em quatro anos? Este é o caso de Kemilly Bortolin, que completa 16 anos nesta quinta-feira (29).
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A jovem relata que o fato gera curiosidade entre as pessoas, que a enchem de questionamentos e até duvidam da situação.
— As pessoas ficam bastante surpresas. Eu lembro que uma vez tive que mostrar até minha identidade para realmente comprovar que eu tinha nascido dia 29 de fevereiro. Foi um momento bem marcante — lembra.
Fora de ano bissexto, Kemilly diz que costuma comemorar o aniversário no dia 28 — um dia antes da data oficial. Isso porque se considera ansiosa e, também, para fazer a festividade em seu mês de nascimento. O dia 29, no entanto, tem sabor especial.
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— 29 de fevereiro é muito gratificante porque, querendo ou não, eu estou vivendo minha data. Porque é totalmente diferente de uma pessoa que faz aniversário na data certinha dela. Comigo isso acontece só de quatro em quatro anos.
Apesar do fato ser curioso, a adolescente se sente privilegiada pela data de nascimento.
— Me sinto muito especial porque, querendo ou não, é meio difícil das pessoas em volta de mim esquecerem de meu aniversário — brinca.
Veja fotos do aniversário de 16 anos da jovem
Pais foram alertados por enfermeiras sobre a data
Lucilene Bortolin, mãe da jovem, conta que Kemilly veio ao mundo por meio de parto normal, em um procedimento bastante tranquilo. A mulher conta que a previsão era de que a menina viesse ao mundo no dia 21 de março, no mesmo dia em que o esposo comemora aniversário, mas a bebê foi “apressadinha”.
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Quando deu à luz, a família nem se deu conta da data, mas foi rapidamente alertada pela equipe médica. O pai, Edson da Silva, resume o momento como “emocionante”.
— Eu e minha esposa não estávamos apegados à data, ficamos sabendo pelas enfermeiras, que ficaram muito eufóricas. Elas começaram a sentir muita alegria e dizer “Ó, essa menina é bissexta. Hoje é dia 29 de fevereiro, é uma bebê que nasceu em um momento único”. Então, foi elas que nos alertaram, nós não tínhamos conhecimento da data — recorda Edson.
Os pais contam que nunca tentaram mudar a data de aniversário da menina, já que sempre é um momento especial, principalmente porque o dia se repete apenas de quatro em quatro anos.
Quando o ciclo se repetir novamente, Kemilly já terá 20 anos. Para ela, a informação traz um mix de sentimentos.
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— Será uma nova fase na minha vida. Eu já vou estar na faculdade, vou estar seguindo minha vida já adulta. Agora eu sou uma adolescente, mas o que será quando eu fizer 20? Vai ser uma vida completamente diferente do que eu estou lidando agora — complementa a jovem.
Como são feitos os registros de nascimento
Em Santa Catarina, desde os anos 2000, 1.215 catarinenses nasceram no dia 29 de fevereiro, de acordo com dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen). Flávia Lagemann, registradora civil e diretora da Arpen-SC explica que o registro de uma pessoa que nasce neste dia segue o parâmetro de qualquer registro de criança que nasce no país, conforme a Lei nº 12.662, de 2012.
Ou seja, a certidão será registrada em 29 do ano bissexto em questão, contendo as mesmas informações de comuns, como nome, sobrenome, hora, naturalidade e filiação. Quanto ao dia da comemoração do aniversário, Flávia diz que a polêmica já é maior e que gera até brincadeira.
— As pessoas gostam de dizer que só fazem aniversário uma vez a cada quatro anos, então se a pessoa viver 100 anos ela terá 25 anos. Mas não é assim que funciona. Ela pode escolher, então, a data que ela quer comemorar, se 28 de fevereiro ou 1° de março, mas a data de nascimento sempre vai constar na certidão ou em todos os outros documentos dela — complementa.
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Por que existe o ano bissexto?
O ano bissexto é uma herança do calendário romano e foi instituído há cerca de 2000 anos, pelo imperador Júlio Cesar. Marcelo Girardi, físico e professor do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), destaca que o dia extra foi estabelecido para adequar o calendário ao ano solar.
Como a volta do planeta Terra é feita em 365 dias, cinco horas, 48 minutos, essas quase seis horas que sobram precisam ser compensadas, já que, de quatro em quatro anos, isso dá 23 horas e 12 minutos — ou seja, quase um dia a mais. Por isso, segundo o físico, no calendário juliano foi definido que fevereiro deveria ter um dia a mais, formando, assim, os anos bissextos.
— O calendário que a gente segue tem um propósito bem específico, e este propósito é acompanhar o ciclo das quatro estações do ano. Se o calendário não fosse corrigido para manter essa coesão, ano após ano, a gente sofreria uma defasagem continuamente. No final do processo, após séculos e séculos, a gente teria as estações todas trocadas em relação às épocas que a gente conhece. Então a gente teria o inverno em fevereiro, o verão em julho e isso modificaria todo sistema de produção, o plantio, agricultura a colheita, enfim, todos os nossos hábitos de vida e economia — exemplifica.
Em 1852 a contagem sofre uma nova alteração. Isso porque, com o passar das décadas, o calendário juliano também fica defasado e é substituído, então, pelo calendário gregoriano, promulgado pelo Papa Gregório XIII.
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Com a mudança, conforme Girardi, em geral, com pequenas exceções: todos os anos centenários, que são os que terminam em 00 e não divisíveis por 400 perderam a característica de serem bissextos. Por exemplo, o ano 1900 não foi bissexto, assim como 2100, 2200, 2300 também não serão. Agora, 2400, 2800 serão anos bissextos. Isso gera, em nosso calendário atual, 97 anos bissextos num ciclo de 400 anos — o mais próximo que se chegou de acompanhar o movimento solar.
— Essa defasagem era de dez dias e, por isso, gerou o tal do “mês da confusão” lá em 1582. Porque o dia 4 de outubro foi seguido diretamente pelo dia 15 de outubro. mas cuidado: 4 de outubro do calendário juliano, e 15 de outubro do gregoriano. teve a supressão pra alinhar o calendário civil ao ano solar — finaliza.
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