No momento em que o mundo se debruça sobre o racismo no esporte, a homofobia também mostra sua face repugnante. E assim como o jogador de futebol Daniel Alves deu um ‘olé’ na ignorância – que veio na forma de uma banana atirada em sua direção durante um jogo do Barcelona -, Digão, líder do Raimundos, desferiu uma ‘guitarrada’ na intolerância manifestada no show da banda em Jaraguá, na sexta-feira, dia 2.

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A hostilização a um beijo gay na plateia acionou a fúria do músico, reação que ganhou aplausos nas redes sociais e ressonância na imprensa ao longo do fim de semana, e abriu novamente a ferida da discriminação sexual.

Tudo transcorria normalmente na casa de shows The Way quando dois rapazes resolveram demonstrar explicitamente a afeição entre si durante a apresentação da banda de rock, balada que integrava os Jogos Universitários de Comunicação Social (Jucs).

Segundo testemunhou Kamila Piovesan, acadêmica de administração e comércio exterior que auxiliava na produção do evento, o beijo foi recriminado por seguranças da casa, que teriam encaminhado o casal para a saída. Notando a confusão do palco, Digão parou o show, foi informado do ocorrido e, de acordo com Kamila, esbravejou:

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– Quer dizer que dois meninos estavam se beijando e foram expulsos? Que m**** é essa? Estamos na era do amor, não da agressão. Se eles ainda estiverem na casa, peço que os amigos os tragam até aqui.

Cerca de cinco minutos depois, os rapazes – um deles identificado como estudante de jornalismo da UFSC -, em lágrimas, foram levados ao palco. Assim que apareceram sob os holofotes, receberam apoio não só dos demais integrantes do Raimundos como da plateia, que os ovacionou. Digão foi além e pediu para o casal repetir o beijo, no que foi prontamente atendido. Carinho dado, seguido de um abraço entre os rapazes e novas demonstrações de apoio do público, o guitarrista completou:

– Em que ano estamos? É 2014, p****! Cadê o respeito?

Depois, o show foi retomado. De Jaraguá, a banda partiu para Curitiba, onde pegou um voo para Barbacena (MG). Antes, postou um comentário sobre o ocorrido em seu Facebook oficial:

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– Aprendam! Respeitem as diferenças! Todos somos seres humanos. Ser diferente é normal!

A reportagem tentou falar com Digão, mas, por meio do empresário do Raimundos, foi informada de que o músico – cansado e a caminho de casa – não iria falar.

Empresário concorda com Digão, mas defende seguranças

No momento da confusão, Thiago Mattos, sócio-proprietário da boate The Way, estava em um camarote e não viu o que aconteceu. Após o incidente, ele conversou com o chefe de segurança que abordou os rapazes. Segundo o funcionário, o casal se excedeu nas carícias, o que gerou constrangimento em algumas pessoas na plateia.

O segurança pediu que o casal parasse e, nesse momento, parte do público que estava ao redor se manifestou em favor dos jovens. Foi aí que Digão os chamou ao palco. Thiago conversou com o vocalista após o show e diz apoiar o discurso do músico, pois também é contra o preconceito com homossexuais, mas defendeu o procedimento do segurança. Segundo Thiago, independentemente da orientação sexual, carícias exageradas devem ser repreendidas.

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A reportagem tentou contato telefônico com um dos rapazes, mas até a noite de domingo a ligação caía na caixa de mensagens.

– Ninguém pode ser discriminado por sua opção sexual. Se um beijo entre heterossexuais não ofende ninguém, entre homossexuais também não pode. O raciocínio é bem simples, meu caro – enfatiza o advogado e especialista em direito civil Rogerio Gomes, de Joinville.