O país teve em 2008 um total de 411 greves nos setores público e privado, o maior número registrado desde 2004, mostra um estudo divulgado nesta quinta-feira pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Em 2004, o Dieese retomou a publicação do balanço de greves. O aumento deu-se, sobretudo, por causa dos funcionários de empresas privadas.
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Em 2004, os trabalhadores de empresas privadas fizeram 114 greves, número que em 2008 saltou para 224. No setor público, o número de paralisações manteve-se praticamente estável, de 185 em 2004 para 184 em 2008. A maioria das greves (42%) foi encerrada no mesmo dia em que começou.
O crescimento na frequência das greves no ano está ligado ao forte crescimento econômico registrado até o terceiro semestre de 2008.
– O crescimento econômico proporciona um contexto favorável para que os trabalhadores ampliem conquistas e peçam melhora da remuneração e das condições de trabalho – disse o coordenador do estudo e supervisor do Sistema de Acompanhamento de Informações Sindicais do Dieese, Luís Augusto Ribeiro da Costa.
– É uma forma de os trabalhadores reivindicarem uma parcela desse crescimento – concluiu.
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O estudo mostra ainda que greves no setor público e privado fizeram com que trabalhadores deixassem de cumprir 24,6 mil horas de trabalho em 2008. A maioria das horas de trabalho foi perdida na esfera pública (17,4 mil horas ou 70,8% do total). Na área privada, foram descumpridas 6,9 mil horas ou 28,3% do total. Em greves feitas em conjunto entre os dois setores, deixou-se de trabalhar 232 horas (0,9% do total).
Reajuste salarial
A principal reivindicação dos grevistas em 2008 foi o reajuste salarial, estopim de 50% das greves no setor público e de 43,8% na iniciativa privada. Na esfera pública, causaram paralisações ainda os movimentos por planos de cargos e salários (36,4%), condições de trabalho (20,7%) e contratações (17,4%).
Na área privada, os motivos foram pedidos de auxílio-alimentação (30,8%), de participação nos lucros da empresa (23,7%) e contra o atraso nos salários (15,6%).
O Dieese analisou ainda o desfecho de 193 greves de que se teve notícia. Nesse grupo, 73% dos movimentos obtiveram êxito, parcial ou total. As manifestações de trabalhadores do setor privado foram mais bem-sucedidas – 80% terminaram em atendimento parcial ou total das reivindicações e, em 31% dos casos, todas as demandas foram atendidas.
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No funcionalismo público, os pedidos foram contemplados total ou parcialmente em 62% das greves – em 15% delas, foram atendidos por completo. Nas greves de estatais, o percentual de atendimento total ou parcial das reivindicações foi de 69% – 8% contemplados na totalidade.
O número de greves em 2009 deve ficar próximo ao de 2008, estima Luís Costa. Ainda não há uma projeção para 2010. Até junho de 2009, o Dieese registrou cerca de 250 greves, informou o responsável pelo estudo.
– Nos setores mais afetados pela crise, como autopeças e frigoríficos, você pode ter movimentos grevistas mais defensivos – disse, em referência às paralisações para manutenção ou renovação de condições de trabalho.
Apesar disso, Costa observa que o balanço de reajustes negociados em 2009, estudo ainda em preparação, mostra que a crise econômica não chegou a influenciar negativamente as negociações salariais. Uma prévia do balanço, com dados de cem negociações, indica que, comparado a 2008, mais categorias conseguiram pelo menos a reposição da inflação.
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