A análise de diversos hospitais públicos e privados do Brasil revela que a cada hora são feitos entre quatro ou cinco diagnósticos em clínica geral, aponta a auditoria contratada pelo governo do Estado para ajudar na elaboração do Plano de Gestão da Saúde. Se um médico repetir o desempenho nos hospitais públicos de Santa Catarina será considerado o funcionário do mês. Nas três unidades avaliadas pelos consultores – Hospital Celso Ramos, Hospital Regional de São José e Maternidade Carmela Dutra – foi verificado um, no máximo dois atendimentos por hora em clínica geral.
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A mudança passa pela profissionalização da administração com diretores de hospitais podendo receber o mesmo salário do governador, R$ 15 mil mensais. Mas para isto eles precisarão atingir metas e apresentar qualidade no trabalho. Também serão obrigados a ter dedicação exclusiva ao cargo, o que não ocorre hoje, quando é comum dividir a função com outra atividade A consultoria identificou que é comum um médico cumprir num único dia as 20 horas contratuais – emendar o turno de trabalho com plantão de oito horas e mais quatro de atendimento ambulatorial e só aparecer no hospital na semana seguinte.
Na teoria, com o diretor engajado serão chamados apenas os profissionais mais produtivos. Ele também organizará as escalas para não faltar anestesista ou instrumentista porque as falhas influenciarão no contracheque. O governo também criou atrativos para os médicos com estabelecimento de cotas mínimas e o que passar será recompensado com valores que chegam até duas vezes a remuneração do SUS. Desta maneira, deseja-se mudar a cultura do setor. Quando um equipamento quebrar, por exemplo, todos entenderão que têm algo a perder e buscarão uma solução rápida.
O Sindicato dos Médicos informou que na próxima semana vai analisar o plano do governo e se pronunciar a respeito. Sobre os índices de produtividade, o presidente da Associação Catarinense de Medicina, Aguinel Bastian, disse que desconhece os dados, mas discordou dos números. Ele afirmou que os profissionais catarinenses atendem até cinco pacientes por hora em clínica geral, principalmente nas emergências.
Ensaio para superfaturar compras
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Uma passada nos cafés próximos ao prédio da Secretaria de Saúde uma hora antes dos leilões era reveladora. Os concorrentes dividiam a mesma mesa e abriam as ofertas que cada um faria pelos lotes que seriam negociados.
Numa conversa nada inocente eram discutidos os interesses de cada fornecedor e ensaiado o teatro de uma falsa concorrência. A encenação se desenrolava quando era aberto o pregão de cartas marcadas que terminava com o Estado pagando entre 20% e 25% a mais que o valor de mercado.
A descoberta foi feita pela auditoria internacional contrata pelo Estado para balizar o plano de gestão lançado nesta semana. Os técnicos se debruçaram em 35 dos quase 10 mil produtos comprados pela Secretaria de Saúde. Pode parecer pouco, mas eles representam metade das despesas anuais de R$ 500 milhões em insumos para os 14 hospitais administrados pelo governo e que fazem um milhão de atendimentos por ano.
Diante deste cenário não é à toa que o plano de gestão tenha a reformulação do setor de compras como um dos pilares. O objetivo da mudança é audacioso – poupar R$ 100 milhões por ano. Logo, não surpreende que o futuro superintendente do setor será um auditor.
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Mas a ambição do projeto não para aqui. Ele pretende enxugar uma estrutura burocrática que requisita 65 assinaturas para uma simples compra num organograma paquidérmico que engloba 21 departamentos.
Estrutura atual permite irregularidades e omissão
Mais do que atraso nos processo, a estrutura atual abre brechas para mal-intencionados e permite a completa omissão dos envolvidos.
Neste modelo funciona a figura do não comprometimento com uso da burocracia para escapar de responsabilidades. As alterações programadas pretendem enxugar o setor com o recrutamento dos funcionários mais produtivos e a simplificação das compras numa única central que substituirá as 21 existentes. A ideia é dar um rosto para o setor com pessoas que serão responsabilizadas por eventuais desvios.
Outra mudança considerada crucial é na forma dos pregões, que passarão de presenciais para eletrônicos. A modalidade atrai mais participantes, não somente aqueles com estruturas existentes em Santa Catarina. O plano ainda prevê que o tamanho dos lotes seja ampliado numa tentativa de incluir fornecedores internacionais e inclusão das compras até em bolsas do exterior.
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