Brenda Dias, seis anos, é uma menina faceira que vai à escola, a festinhas de aniversário, passeia no parque e adora comer chocolate e brincar de Barbie. Ela faz tudo o que uma garota da idade dela pode fazer, com uma diferença: quatro vezes ao dia, Brenda precisa receber picadas de injeção para controlar os níveis de insulina em seu organismo.

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Quando tinha dois anos, ela deu um susto na família ao entrar em um quadro de cetoacidose, condição que causa uma desidratação profunda e pode matar. Teve de ficar quatro dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), período em que o diabetes tipo 1 foi descoberto.

– Em uma semana, ela perdeu cinco quilos, fazia xixi sem parar. Nós nem desconfiávamos que poderia ser isso. No posto de saúde, mediram a glicose dela e logo nos encaminharam ao ICD (Instituto da Criança com Diabetes), onde fomos acolhidos e ficamos por dentro de tudo. Foi assim, de uma hora para outra, e eu quase surtei – relembra Rita Dias, mãe da menina.

Quando saiu da UTI, Brenda precisou encarar uma nova rotina. Além de modificar sua alimentação, passou a realizar frequentes testes de dosagem do nível glicemia, o HGT, e a receber insulina algumas vezes por dia. Mais difícil do que adaptar a menina à nova realidade foi a família aprender a conviver com a doença.

– Achei que teria de largar o emprego, que ela dependeria de mim para tudo pelo resto da vida, 24 horas por dia. Foi assustador – lembra Rita.

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Passados quatro anos do diagnóstico, todos aprenderam a lidar com o diabetes, ainda que o aprendizado seja diário. O tratamento é feito com acompanhamento de uma equipe formada por nutricionistas, psicólogos, endocrinologistas, entre outros especialistas.

– Mesmo assim, não é nada fácil. Tem dias que ela chora, que sangra. Que ela quer comer mais doce e não pode. É preciso ser forte, ainda que o coraçãozinho de mãe doa – diz Rita.

Casos de diabetes tipo 2 aumentaram

O diabetes tipo 1 – como o de Brenda, a menina da capa – não pode ser prevenido, explica o endocrinologista Balduíno Tschiedel, diretor-presidente do Instituto da Criança com Diabetes (ICD). Os médicos têm visto, porém, um aumento no número de casos do tipo 2 da doença entre crianças, que era raro nesses pacientes até os anos 90. O distúrbio era mais comum em adultos obesos, sedentários e que tinham diabetes na família.

De acordo com a Federação Internacional do Diabetes (IDF, da sigla em inglês), esse fenômeno se deve à epidemia mundial de obesidade e da falta de atividade física entre os pequenos. Atualmente, mais de 200 crianças desenvolvem a doença a cada dia no mundo. Ao todo, existem mais de 9 mil crianças e adolescentes com diabetes no Rio Grande do Sul – apenas 4% sofrem do tipo 2, que pode ser prevenida com um estilo de vida mais saudável.

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Como se pode perceber na rotina de Brenda, crianças diabéticas não só podem como devem ter uma alimentação bastante variada. E, ao contrário do que se possa pensar, o cardápio inclui alimentos que a menina adora, como chocolate, tanto o diet quanto o normal. Segundo a nutricionista Rita Lamas, é importante que dietas do gênero contenham carboidratos com baixo índice glicêmico, como pães, massas e arroz integrais.

– De maneira geral, o paciente deve ter uma alimentação saudável, com frutas, carnes, verduras e legumes bastante variados, e sem grandes restrições. E, quanto mais correta for essa alimentação, mais doces ou eventuais “escapadas” poderão ser dadas, pois haverá compensação – ensina a nutricionista, ressaltando que cada paciente recebe um plano personalizado.

Um dia na vida de Brenda

:: 8h – Brenda acorda. A avó faz o HGT e aplica duas injeções de insulina. No café da amanhã, bebe um copo de leite com achocolatado diet e come duas bisnaguinhas ou duas fatias de pão com queijo.

:: 10h – Hora da fruta: banana, morango ou nectarina são as preferidas. Brinca de Barbie e toma banho para ir à escola.

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:: 12h – Brenda faz sua própria medição de HGT, e a insulina é aplicada pela avó. No almoço, ela não abre mão do arroz com caldo de feijão, com legumes ou verduras cozidos e uma carne magra. A sobremesa é sempre a mesma: chocolate diet ou comum (em quantidade indicada pela nutricionista).

:: 13h – Vai à escola em uma caminhada de 10 minutos. Na mochila, segue o glicosímetro (aparelho para verificar a glicose) para o caso de a menina sentir algum sintoma de hipoglicemia. Se isso acontece, ela vai à secretaria para fazer o teste com a diretora. O lanche da tarde é composto de um achocolatado de caixinha light, uma fruta e duas bolachas água e sal com queijo.

:: 17h20min – Ela mesma faz a aplicação da insulina. Depois, come outro lanche com leite e achocolatado diet e uma fruta ou uma bisnaguinha ou pão com queijo. Então, é hora de brincar.

:: 20h – Faz novo HGT antes da janta e aplica pela última vez no dia a injeção de insulina. A janta é semelhante ao almoço. Depois, é o momento relax: coloca o pijama, escova os dentes e vai ver filmes.

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:: 23h – Antes de dormir, bebe um último copo de leite com achocolatado, para evitar a hipoglicemia durante a madrugada.

Os sintomas

:: Sede e fome excessiva

:: Necessidade de urinar frequentemente

:: Visão turva

:: Infecções frequentes na pele

:: Fraqueza, fadiga e sonolência

:: Perda ou excesso de peso

:: Formigamento e perda de sensibilidade ou dor nas extremidades

Os tipos

:: Tipo 1 – Também conhecido como insulinodependente ou diabetes juvenil, é mais perigoso, porque, nessas pessoas, não há nenhum tipo de produção de insulina. Por isso, fica muito mais difícil simular as funções do pâncreas. Atinge basicamente os jovens até 20 anos, mas pode aparecer em qualquer idade. Ocorre porque o pâncreas não consegue mais fabricar a insulina. Seus sintomas manifestam-se rapidamente e demandam um tratamento intensivo, com doses diárias de insulina, controle alimentar e exercícios físicos.

:: Tipo 2 – Responsável por 80% a 90% dos casos conhecidos da doença. Neste caso, o organismo não produz insulina suficiente ou o corpo fica resistente à ação da insulina. Seu início está ligado geralmente a má alimentação, obesidade e sedentarismo. Atinge preferencialmente a população acima dos 30 anos, mas sua incidência tem aumentado entre crianças. Os sintomas aparecem mais lentamente. Quando diagnosticado precocemente, pode ser controlado com a mudança de hábitos alimentares e a prática de exercícios físicos. Casos mais sérios podem requerer aplicação de remédios via oral ou insulina.

A prevenção

O consenso da Associação Americana do Diabetes (ADA) recomenda que crianças de mais de 10 anos, com sobrepeso e mais dois fatores de risco (caso de diabetes na família, pressão alta) sejam testadas para o diabetes a cada dois anos. Se você tem histórico de diabetes tipo 2 na família, seu filho pode ter risco de desenvolver a doença, especialmente se a criança está entrando na adolescência, ganhou peso recentemente ou é sedentária.

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