Esta segunda-feira (20), marca o Dia Nacional dos Celíacos e a campanha Maio Verde 2024, que tem por objetivo conscientizar a população a respeito desta doença autoimune, que está relacionada ao consumo de glúten, proteína presente no trigo, no centeio e na cevada. Segundo dados da Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil (Fenacelbra), cerca de 2 milhões de brasileiros sofrem com a doença. Deste número, 80% não têm o diagnóstico conhecido e 70% só confirmam a doença após os 20 anos de idade. 

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Uma em cada 100 pessoas no mundo, ou seja 1% da população mundial, apresenta a doença celíaca. Segundo o médico catarinense, gastroenterologista Nelson Cathcart Jr., que também é celíaco, a ação de incentivo ao diagnóstico é importante no alerta sobre os sintomas, bem como para ajudar na conscientização da população que convive com celíacos.

— Não sabemos exatamente como e quando um indivíduo acaba sendo acometido, já que a mutação para ter essa doença está presente em até 30% da população em geral, mas apenas 1% da população mundial e brasileira tem doença celíaca diagnosticada — destaca o médico.

Com o tema “Eu sou, eu conto. Você é, você conta“, a campanha do Maio Verde deste ano tem justamente o objetivo de incentivar a busca por diagnóstico e quantificação das pessoas que já foram diagnosticadas. Dessa forma, a Associação de Celíacos do Brasil pode utilizar essas informações tanto para elaboração de políticas públicas, quanto para garantir o respeito aos direitos das pessoas com doença celíaca e o tratamento adequado.

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10 alimentos com glúten que celíacos devem evitar

Segundo a Associação, no Brasil ainda não há informações oficiais sobre o número de diagnósticos já realizados, nem um estudo multicêntrico para saber o predomínio da doença celíaca na população. Na apresentação da campanha, a Fenacelbra declara:

“Embora o Ministério da Saúde tenha publicado um Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Doença Celíaca no SUS em 2009, continuamos sem dados oficiais sobre quantos somos e onde estamos. Acreditamos que um registro dos casos permitirá melhor monitorização e controle mais eficaz da doença, e o consequente cuidado integral que as pessoas afetadas merecem.”

A Fenacelbra elaborou um formulário eletrônico para recolher essas informações, gerando um mapa atual da incidência da doença celíaca no Brasil. Se você é portador da doença ou conhece alguém que seja, você pode acessá-lo aqui.

Como é feito o diagnóstico da doença celíaca

O diagnóstico da doença celíaca pode ser feito através de alguns exames de sangue e com biópsias, explica o gastroenterologista Nelson Cathcart Jr. Durante a endoscopia digestiva alta é possível fazer a coleta de materiais do intestino delgado e averiguar se há inflamação e atrofia dessas células. Estas alterações podem ser geradas pelo trigo e outros alimentos com glúten.

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Sinais e sintomas além do intestino

Diarreia, dor de barriga, barriga estufada, perda de peso e até mesmo o intestino preso são sintomas clássicos da doença celíaca. Mas, além do intestino, outras partes do corpo podem ser acometidas, como músculos e articulações, com aparecimento de dores, e lesões de pele, com bolhas e crostas. Nas crianças o atraso de crescimento é um dos sinais de alerta.

O médico destaca ainda que dores de cabeça, deficiência de ferro, vitamina B12 e outros nutrientes, osteoporose, osteopenia, infertilidade e alteração no fluxo menstrual de mulheres, também são sintomas que merecem alerta.

— Todas essas condições podem sim estar associadas com a doença celíaca e esses indivíduos merecem investigação. Por isso, é importante conscientizar que esses sintomas não sejam menosprezados quando crônicos, e que a pessoa procure o médico para fazer a investigação o quanto antes — alerta o especialista.

O médico ainda acrescenta que quando não controlada, a doença pode favorecer o aparecimento de câncer, como o linfoma.

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Como é viver sem glúten?

Desde 2003, após a publicação da Lei Federal nº 10.674, todos os alimentos industrializados devem apresentar no rótulo e bula, obrigatoriamente, as inscrições “contém glúten” ou “não contém glúten”.

O médico, que foi diagnosticado como celíaco aos 36 anos de idade, comenta que viver sem glúten não é uma tarefa tão fácil, mas ela já foi muito mais difícil:

— A Lei que obriga que as empresas apresentem nos rótulos de alimentos a composição com ou isento de glúten, foi um grande avanço para o bom controle da doença no nosso país — ressalta.

Nelson Cathcart Jr. comenta ainda que viver sem glúten é muitas vezes um desafio social.

— Às vezes você tem que ir para algum evento e fazer a refeição antes mesmo de ir a algum restaurante, pois não se sabe se lá terá alguma comida preparada adequadamente. Pois, se ela é feita no mesmo ambiente onde são manuseados alimentos com trigo, isso pode gerar uma contaminação nociva, causando danos ao intestino de quem tem doença celíaca — relata.

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Apesar de não ter cura, a doença pode ser controlada com uma dieta baseada em alimentos sem glúten.

— Diferente dos pacientes que tem algumas intolerâncias alimentares, até o momento não existe um remédio para a doença celíaca, no entanto existem estudos em andamento para que no futuro haja mais essa possibilidade de controle da doença — diz o médico.

*Sob supervisão de Andréa da Luz

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