Na busca por mais produtividade no campo, muitas vezes, o cuidado com o planeta Terra vai ficando de lado. A exaustão do solo, a utilização exagerada de agrotóxicos e a monocultura são exemplos disso. Na safra de 2021 e 2022, a agricultura de Santa Catarina teve um prejuízo de R$ 4 bilhões por conta da chuva histórica que afetou o Estado, mostrando que quem mais perde, são os próprios catarinenses.

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No Dia Nacional da Terra, comemorado nesta segunda-feira (22), o Jornal do Almoço começou a apresentar uma série de reportagens com soluções para driblar os efeitos das mudanças climáticas que se agravam a cada dia.

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As mudanças climáticas devem tornar as instabilidades no regime de chuvas ainda mais preocupantes. Quem afirma isso é Juliano Araújo, o diretor do Instituto Internacional Arayara, uma organização dedicada à defesa do meio ambiente. Para ele, isso tende a agravar as desigualdades sociais, já que torna os alimentos ainda mais caros.

— Isso afeta por conseguinte a cesta básica, a cesta de alimentos que toda a família consome e também retira do prato das pessoas um alimento de menor custo e de maior qualidade — afirma Juliano.

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Cuidados com a água

Segundo o diretor, a meta é encontrar formas de produzir mais, com menos água. Para isso, a irrigação por gotejamento é uma boa opção, já que dá à planta exatamente a quantidade que ela precisa para se desenvolver. Esse método consiste em aplicar gotas de água diretamente nas raízes das plantas usando um sistema de gotejadores conectados a tubos ou mangueiras. Esse método ajuda a manter a umidade do solo ao redor das raízes e economiza água.

Também é necessário não contaminar as reservas subterrâneas, que abastecem as nascentes e os poços. Para isso, reduzir os defensivos químicos na produção é essencial. Em algumas propriedades catarinenses, esses métodos já são aplicados. Na propriedade de Olidemar Luzzi, em Chapecó, onde são produzidas frutas e hortaliças de forma orgânica, para se proteger das estiagens, ele conta que decidiu ir além:

— A gente se desafiou para ir pro lado da cisterna, com coleta da água da chuva. Assim, no momento de maior necessidade a gente tem água armazenada.

Nesta propriedade, em uma área de 2 mil metros quadrados de estufas, toda a chuva que cai é captada por calhas e direcionada para uma cisterna com capacidade para 400 mil litros de água. Ao longo de dez anos, Luzzi implementou esse sistema, o que o protegeu das secas e tornou sua propriedade mais independente da nascente que atravessa sua terra.

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— Eu acho que nós temos que preservar o planeta, porque se tu cuida e preserva, você vai ter lá na frente. Porque se você só destruir e poluir, quem sabe lá na frente, os nossos netos não vão ter uma água de qualidade, um alimento de qualidade — diz Luzzi.

Cuidados com o solo

Para cuidar da água, também tem que cuidar do solo. É isso que Ivan Carlos Chiapinotto, pesquisador da Epagri explica. Um solo sem cobertura fica exposto à erosão, que leva sedimento para os cursos d’água, e tem uma capacidade de absorção da água muito menor.

— Não somente leva a água embora, mas também os nutrientes que estão na camada mais superficial do solo. O solo funciona como basicamente uma esponja, se a gente puder ilustrar — diz Ivan Carlos.

Por essa capacidade de absorção do solo, os produtores podem aplicar a técnica do “telhado subterrâneo”. O professor da Universidade Estadual de Santa Catarina (Udesc), Cleuzir da Luz, observou que seus pais, Asilmo e Terezinha da Luz, estavam com dificuldade de produzir em suas terras por conta da falta de água.

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Cleuzir notou que a chuva absorvida na área, e nas redondezas, escoava, de forma subterrânea, até um ponto específico. Para aproveitar, ao máximo, e reservar essa água, a família separou uma área de mais ou menos 1 hectare, onde fica captada a água da chuva. Toda a chuva que cai nessa área escoa, por debaixo da terra, até uma fonte de água superficial.

— Fizemos um bolsão, colocamos pedras (mais ou menos 15 metros cúbicos) e aí ficou um grande açude, um grande reservatório subterrâneo que é onde estão esses três pontos de nascentes — explica o professor.

A água cai aos poucos do reservatório, alimenta as nascentes e é levada até a cisterna e até a casa da família. Lá, ela passa por um tratamento com carvão de coco ativado, que retira qualquer impureza e se torna própria para o consumo.

Hoje, Cleuzir pretende voltar a produzir alimentos em larga escala na propriedade da família. Com todos os cuidados para que o meio ambiente seja preservado e no futuro, seus filhos também possam produzir.

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*Sob supervisão de Luana Amorim

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