O Dia Internacional das Mulheres é celebrado nesta quarta-feira (8). Trata-se de uma data para reafirmar os direitos de 55% da população mundial, de acordo com a última estimativa realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) — uma maioria que ainda é oprimida, explorada e violentada, mas que vem mudando ao longo das décadas graças a uma agenda de lutas impulsionada pelo 8 de março.

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Nesta quarta, o dia é marcado por comemorações e simbolizado com entrega de flores e presentes, mas a origem nada tem a ver com isso. O movimento revolucionário na Rússia, em 1917, e o extinto Partido Socialista da América foram os precursores da data, que começou como Dia Nacional das Mulheres — em 1909, em Nova York (EUA).

O que é o Dia Internacional das Mulheres?

O Dia Internacional das Mulheres é uma data de mobilização para a conquista de direitos e garantias sociais de paridade de gênero e de combate à violência contra a mulher. Mesmo após mais de um século da primeira marcha, ainda há muita desigualdade.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em seminário realizado no dia 16 de setembro de 2022, elas ainda ganham 20% a menos que os homens no mundo todo. O estudo indicou que fatores como educação, tempo de trabalho, segregação ocupacional, habilidades e experiência impactam na desigualdade, mas que o machismo explica grande parte da diferença salarial.

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Outros estudos também mostram a gravidade das condições das mulheres no Brasil. Um relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), publicado na quarta-feira passada (2), mostrou que a cada dois minutos uma mulher é estuprada no país. O estudo teve como referência informações de 2019 da Pesquisa Nacional da Saúde (PNS), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde.

Qual a história do Dia Internacional das Mulheres?

O Dia Internacional das Mulheres não é consequência de determinado fato histórico, mas produto de um período de efervescência social que marcou o início do século XX. Isso é o que a cientista política Fafá Capela, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), explica.

— Esse período histórico foi um momento de efervescência política. São várias origens: as manifestações de 1909 em Nova York, a Conferência Internacional das Mulheres de 1910, em Copenhage, o incêndio na fábrica da Triangle Shirtwaist em 1911 e as russas em 1917. Todos esses episódios mostram mulheres lutando por condições dignas de trabalho — explica a pesquisadora.

O primeiro grande ato com o nome Dia das Mulheres, que na época era apenas nacional, aconteceu em 26 de fevereiro de 1909, em Nova York (EUA), e foi organizado pelo extinto Partido Socialista da América. Na ocasião, 15 mil mulheres marcharam por melhores condições de trabalho. No ano seguinte, no Congresso Internacional das Mulheres, a militante feminista Clara Zetkin propôs que a data fosse internacionalizada e assim surgiu o Dia Internacional das Mulheres.

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Outros movimentos orgânicos também consolidaram o marco. Em 23 de fevereiro de 1917, quando a Rússia estava em seu processo revolucionário, as mulheres entraram em greve por “Pão e Paz”. E foi esse feito que possibilitou o fim do czarismo, segundo o que foi descrito pela revolucionária Alexandra Kollontai, que em 1920 escreveu: “o Dia das Mulheres Trabalhadoras de 1917 tornou-se memorável na história. Nesse dia as mulheres russas ergueram a tocha da revolução proletária e incendiaram todo o mundo. A revolução de fevereiro se iniciou a partir desse dia”.

A acadêmica Fafá Capela pensa parecido. Para ela, as principais mudanças que aconteceram na história são consequência das necessidades das mulheres:

— A história do mundo é movida pela indignação das mulheres. Todas as revoluções começaram pelas mãos das mulheres. Naquele momento (Revolução Russa), as mulheres se organizaram para uma questão central: a fome. A pobreza extrema, baixa remuneração no trabalho, foram condições latentes para a ruptura. Há uma pesquisa recente que mostra que o comportamento político das mulheres é diferente. Elas pautam creche, transportes e alimentos porque a vida delas é conectada com o cotidiano. Então elas vão às ruas porque seus filhos estão com fome.

Além desses acontecimentos, o incêndio na fábrica da Triangle Shirtwaist, em 25 de março de 1911 também foi importante na construção da mobilização. Na ocasião, 130 operárias morreram porque estavam trancadas, para que cumprissem ‘adequadamente’ suas horas de trabalho, quando o acidente aconteceu. Entretanto, parte das intelectuais feministas nega que esse seja o fio condutor do movimento. Para elas, ter o incêndio como marco fundador da data é pensar que as transformações aconteceram por conta da morte passiva de trabalhadoras e não de uma agenda política por direitos.

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Mesmo com a origem radical, hoje grandes corporações ‘celebram’ a data. Para Fafá, o fato é positivo por dar visibilidade à causa, mas é negativo ao esvaziar o sentido.

— Eles [empresas] tiram a essência e colocam o Dia Internacional das Mulheres como uma data comemorativa, para parabenizar as mulheres. A essência não pode ser retirada, é uma data de luta, e o dia não deve reafirmar estigmas de gênero. Eu não quero ganhar uma flor, um bombom ou um cartão. Quero receber igual meus colegas homens e caminhar pelas ruas sem ter que sentir medo.

*Sob supervisão de Lucas Paraizo

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