Egoísmo, falta de diálogo, dificuldade no contato físico. Esses são alguns dos problemas encontrados no ato sexual por mulheres ouvidas pela jornalista catarinense Juliana Germann. Os depoimentos resultaram no Manual: O que os homens jamais devem fazer na hora do sexo (PalavraCom Editora).

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O livro começou a ser planejado depois de Juliana ouvir relatos de amigas sobre o tema. Percebendo que muitas das queixas eram comuns para diferentes mulheres, decidiu expandir o diálogo. Passou a entrevistar representantes de várias idades, classes sociais e culturas, e assim concebeu a obra.

Erros mais comuns no sexo com mulheres

– Pressa

– Egoísmo (o homem só está preocupado com o próprio prazer)

– Ausência de preliminares (o homem não estimula a parceira)

– Falta de experiência ao tocar as regiões mais sensíveis

Nesta entrevista, Juliana fala sobre a questão social e cultural que envolve a relação sexual para as mulheres e dá dicas do que os homens não devem jamais fazer na cama.

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O que te levou a escrever sobre esse tema?

Ele começou a ser desenhado ao acaso. Eu nunca tive a pretensão de escrever um livro sobre sexo. Mas eu morei muito tempo no Rio de Janeiro, quase duas décadas, e era muito comum quando eu saía com minhas amigas para beber, conversar, o assunto acabar caindo no sexo. E eu sempre digo que mulher, quando se reúne pra beber e conversar, sexo vai ser o tema da pauta. Pelo menos lá no Rio. Eu via que muitas relações eram comuns. Mulheres diferentes, com as mesmas reclamações. E como jornalista, começou a bater a curiosidade: será que os homens não percebem que algumas atitudes desagradam muito as mulheres na hora do sexo? Foi de uma forma despretensiosa que eu comecei a dizer que ia escrever um livro sobre o assunto, mas ainda na base da risada. 

Chegou um momento que eu falei: está na hora de levar isso adiante, de tornar isso real. Passei a entrevistar dezenas de mulheres, de diversas classes sociais, culturas e idades diferentes. Algumas com a cabeça bem aberta, outras mais fechadas. A partir destas conversas e entrevistas eu levantei os capítulos, 30, que constam no meu livro. Em forma de humor abordam as mancadas masculinas na hora H.

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Você consegue listar algumas coisas comuns que as mulheres disseram e que os homens jamais devem fazer na hora do sexo?

Muitas mulheres abordaram a questão do egoísmo do homem na hora do sexo. Eles estão simplesmente preocupados com a penetração e o próprio gozo, independente se a mulher foi devidamente estimulada ou não. Se ela gozou, se não gozou, se estava lubrificada, não importa. Eles estão somente interessados no seu próprio prazer. Essa foi uma relação muito frequente. É reflexo da nossa sociedade machista focada no homem e isso reflete no sexo. E tem coisas muito particulares. 

Alguns têm uma total inabilidade para mexer em partes sensíveis do corpo da mulher. E acabam fazendo de maneira que machuca. Muitas mulheres não gostam de sexo oral porque tem parceiros que não fazem da forma correta, que não tem a delicadeza de saber como mexer nesse ponto tão sensível. E aí surge outra questão que também ficou bem clara: muitas mulheres não falam. Elas ficam sem jeito de dar uma orientação, de mostrar para o companheiro do que mostrar, de dizer para ir mais devagar, fazer diferente. Elas ficam quietas e acabam se sujeitando a algumas coisas que não satisfazem. Falta esse diálogo, da mesma forma como falta os homens ouvirem.

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A relação da mulher com o sexo é também uma questão social e cultural. Como você trabalhou isso?

Isso é seríssimo porque, culturalmente, o sexo é focado no prazer masculino. Nós já nos permitimos ir além, dizer que não gostamos de algo. Nas gerações passadas, como minha avó, bisavó, sexo era meramente para procriar. Transavam, engravidavam, transavam, engravidavam. Eu fiquei bastante chocada com alguns depoimentos de mulheres que diziam que odiavam o ato, que nunca sentiram prazer na vida, que quando o marido faleceu foi um alívio. Teve uma pessoa que tinha lembrança da avó chorando porque ela dizia que o avô fez isso e aquilo com ela. Olha os traumas que a questão do sexo gera. Era associado a uma coisa suja, violenta, de mera satisfação para o lado masculino.

O prazer feminino ainda é um tabu?

No Rio, as minhas amigas eram mulheres muito independentes, abertas, então o sexo era assunto de uma maneira muito comum e descontraída. Nesse grupo onde nasceu o livro não existia tabu, não existia vergonha. Mas quando eu voltei a morar em Floripa, e onde eu lancei o livro, percebo que as mulheres são mais retraídas para abordar esse assunto. Não existe o lado descontraído e normal de abordar o sexo. Umas ficam sem jeito, outras não querem falar. Se eu tivesse que escrever o livro aqui em Floripa, creio que ele não teria saído. Eu não percebo essa abordagem mais tranquila do assunto. Percebo que as pessoas aqui são bem mais conservadoras. 

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No início eu tinha até uma certa vergonha de falar que escrevi um livro sobre sexo. Ficava imaginando o que as pessoas iam pensar de mim. Mas eu também tenho uma missão, eu entrevistei dezenas de mulheres, elas confiaram em mim as suas histórias. São histórias que é importante nós refletirmos a respeito. É um livro de entrevistas, de todas as mulheres, e é por meio dessa pequena obra que eu quero conscientizar que é obrigatório nós pensarmos no prazer feminino.

Teu livro também foi escrito para ser consumido pelo público masculino?

Os homens abrem o livro, começam a ler, dão a sua risadinha e deixam de lado como se não precisam disso. Mas na hora da compra, eles são os maiores consumidores. Não adianta comprar o livro, abrir, dar risada e não parar pra refletir. É importante ele pensar. O livro é uma média, sempre vai ter quem pense diferente. Ali tem muitas reclamações que são comuns, então é importante os homens pararem e prestarem atenção sobre no que eles podem melhorar. Eu percebo que ainda não há o desejo masculino de evoluir na questão sexual. Talvez a maioria ache que já está ótimo, que não precisa fazer nada diferente.

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Acredita que o debate sobre isso melhora a relação da mulher com o sexo, com o prazer e com o próprio corpo?

Tenho certeza. Essa obra começou pequena, mas cresceu pra algo muito mais sério, que é abordar todo o universo do sexo. E disso vamos pra outra frente, por meio de profissionais maravilhosos que eu conheci em Floripa e com quem aprendi muito. Vou dar um exemplo: fisioterapia pélvica, que muitas pessoas desconhecem. É uma técnica sensacional pra ajudar quem tem disfunções sexuais. Muitas pessoas sofrem sem saber que existem maneiras de melhorar. Para quem precisa trabalhar sua sensualidade, tem hoje profissionais especializadas em coach sensual, para explorar a autoestima e sensualidade feminina. Da mesma forma, muitas mulheres precisam trabalhar suas inseguranças. Começou a se descortinar uma série de possibilidades que eu própria desconhecia. Eu vejo que é possível para todos nós ter uma qualidade sexual muito melhor. Nós desconhecemos por vergonha e pelo fato de o sexo ainda ser associado a uma coisa suja, pervertida, e não como parte da nossa natureza.