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Na recepção esperam uma mãe com o filho pequeno no colo, duas senhoras e um jovem. Todos aguardam para serem atendidos pelo mesmo profissional, o médico de família Jardel Corrêa de Oliveira, em Florianópolis. O especialista que em alguns casos atende até quatro gerações da mesma família, precisa ir além da dor e da doença – e na próxima terça (18), ele comemora o Dia do Médico. Muitas vezes precisa ouvir sobre os problemas em casa e a relação conjugal para chegar ao diagnóstico mais preciso.

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Essa especialidade que prega uma visão mais integral do paciente, que analisa inclusive suas relações e contexto social, deve ganhar ainda mais relevância nos próximos anos, apontam especialistas.

– Muitos planos de saúde começam a perceber que os médicos de atenção primária reduzem custos, porque ele é resolutivo em mais de 80% dos problemas de saúde da sua população – diz o coordenador do Programa de Residência em Medicina Geral da Família e Comunidade da Universidade do Vale do Itajaí (Univali).

O modelo mais focado na atenção primária e em médicos generalistas já é realidade em países como Canadá. O conselheiro Aldemir Soares, integrante da Comissão Mista de Especialidades (CME) do Conselho Federal de Medicina – responsável pelo reconhecimento das especialidades e áreas de atuação médicas –, também defende que o modelo de assistência caminha para favorecer a medicina de família.

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– Ainda temos o reflexo dos últimos 30 anos de incentivo aos especialistas. Precisamos voltar atrás e fazer a população entender o papel do médico de família. Voltar a ter referência no médico, não na clínica ou no posto de saúde, fortalecer a relação médico e paciente – diz.

No Brasil e, principalmente em Santa Catarina, percebe-se a concentração de especialistas – que inclui a medicina de família, que também é uma especialidade. A publicação Demografia Médica no Brasil 2015, realizada por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), aponta que 67% dos médicos em atividade em SC têm título de especialista, enquanto no Brasil essa taxa é de 59%. No Estado, para cada médico generalista (sem especialização), há uma média de 2,03 especialistas, o que o coloca em quarta posição no país com maior proporção. No Brasil essa taxa é bem menor, de 1,41.

Hoje no país são 57 áreas de atuação reconhecidas pela CME, que derivam das 54 especialidades médicas. Nos próximos anos as áreas que devem ganhar destaque são as relacionadas diretamente à qualidade de vida e ao alívio dos sintomas dos pacientes, como medicina da dor, paliativa ou do sono.Para o ex-coordenador do curso de Medicina e professor há 32 anos na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Carlos Eduardo Andrade Pinheiro, as mudanças epidemiológicas significativas dos últimos anos impulsionam essas áreas de atuação:

– À medida que se resolveram os problemas de saúde de terceiro mundo mudou o perfil das doenças, então precisa mudar o perfil da especialidade. A tendência é aumentar bastante os cuidados paliativos, por exemplo.

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Menos dor, por favor

A dor está presente em todas as doenças que mais matam no mundo, além disso, a dor crônica atinge 30% da população, segundo a Organização Mundial de Saúde. Para tratar o problema foi reconhecida, em 2011, a área de atuação da medicina da dor.

– A dor aguda é somente um sintoma, como na apendicite, mas a partir do momento que vira uma dor crônica é uma doença – explica o anestesiologista Breno Santiago, de 38 anos, que atua há 12 na área.

O grande objetivo é cessar ou pelo menos diminuir a dor e assim devolver a qualidade de vida ao paciente. Para o anestesiologista, o trabalho vai além de dosar os medicamentos e realizar procedimentos minimamente invasivos para controlar a dor:

– São pacientes crônicos, que exigem do ponto de vista emocional, então precisamos nos doar mais. Muitos são depressivos, e a depressão aumenta a percepção da dor – conta o médico que atua no Cepon no controle de dor dos pacientes com câncer.

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Mas a parte gratificante, segundo ele, compensa todo esforço, como quando vê um paciente que volta a realizar atividades rotineiras depois do tratamento.

Maestro da família

– A gente é especialista na pessoa, não na doença.

É assim que Alexandre Borges Fortes, 39 anos, define o que é ser médico de família, especialidade que exerce há 10 anos. Seria como aquele médico de confiança da família, que era comum há alguns anos. Fortes vai além na definição:

– É como se fosse o maestro de uma orquestra, ele precisa conhecer cada instrumento muito bem, porque se algum começa a desafinar ele tem que perceber logo. Saber lidar com a diversidade é uma dificuldade. Enquanto o especialista focal se especializa num pedaço da pessoa, a gente se especializa na pessoa e no processo de adoecimento, com fatores emocionais, culturais e trabalhistas envolvidos – explica o médico.

O também médico de família Jardel Corrêa de Oliveira, 39, acrescenta que o papel dessa especialidade, que exerce desde que se formou em medicina na UFSC, é fundamental, pois o profissional acompanha a pessoa em todas as fases e conhece as relações, o contexto social e a família, o que ajuda no diagnóstico. Além disso, pode fazer o encaminhamento a outro profissional quando necessário.

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Como acompanham de perto cada família, é comum terem de realizar visitas domiciliares a pacientes que não podem ir até à unidade ou àqueles que abandonam um tratamento, por exemplo:

– A gestante que não veio na consulta, a criança que vive em área com risco social, fazemos a visita de acordo com a demanda – diz Oliveira.

Fortes, além da unidade de saúde, atende em consultório particular e afirma que o médico de família já ganha espaço inclusive nos planos de saúde.

Descanso saudável e necessário

Se você é daquelas pessoas que pensam que dormir é perda de tempo, então não sabe dos inúmeros benefícios dessas horas de descanso. A média de um terço da vida que passamos dormindo é essencial para a memória, repouso do organismo e recuperar as energias.

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Por isso a insônia crônica, por exemplo, que atinge 10% da população, deve ser tratada, mas qual profissional procurar? Há os que atuam na medicina do sono, como é o caso da neurologista Lucia Sukys Claudino, 42 anos, que em 2005 conseguiu a titulação na área. Ela cita alguns desafios para alcançar mais qualidade de vida com um sono tranquilo e na medida para o nosso organismo:

– Falta ainda informação, e muitos pacientes acabam recorrendo à medicação, preferem tomar remédio para dormir a procurar um especialista. Mas o grande problema para o sono é a vida estressante que levamos. Às vezes as pessoas nem reconhecem que os sintomas são de falta de sono, que impacta no humor, memória, libido e na atenção – explica.

Lucia acrescenta que os distúrbios do sono mais comuns são insônia, apneia e também sonolência excessiva diurna.

Até o fim

Ao andar pelos corredores do Centro de Pesquisas Oncológicas (Cepon), na Capital, há mais de 15 anos, e presenciar a agonia dos pacientes, por quem não havia mais nada a fazer e sofriam com intensas dores, a médica oncologista e atual diretora do Cepon, Maria Tereza Evangelista Schoeller, resolveu se aprofundar na medicina paliativa. Estudou no Canadá e ajudou a fundar na instituição catarinense um dos primeiros serviços de cuidados paliativos do país, referência inclusive da Organização Mundial de Saúde (OMS).

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– Cinquenta por cento dos nossos pacientes chegam tardiamente para a cura da doença. A maioria sabe do seu diagnóstico, então se trabalha com a esperança do dia, o que a gente pode fazer para melhorar a qualidade de vida, como manter a autonomia e a dignidade até a morte – explica Maria Tereza.

Na unidade de cuidados paliativos do Cepon atualmente são 18 leitos e 30 pacientes atendidos em casa. Com equipe multidisciplinar é feita uma abordagem social, psicológica e até um apoio de terapeuta ocupacional. A ideia é que o paciente volte a fazer atividades que lhe proporcionavam prazer.

– Nossos pacientes têm coisas para resolver, como reencontros e acertos de contas. Mas eles só vão conseguir fazer isso sem dor.

A médica comenta que os cuidados paliativos fazem parte de um movimento mundial, mas que no Brasil ainda é bastante incipiente. Em Santa Catarina, a expectativa é ampliar o treinamento em medicina paliativa, através de canais da Secretaria de Saúde do Estado.

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– Essa área deve ser vista como uma filosofia, de ver o paciente como um todo, como ser humano – resume a diretora do Cepon.

* Este conteúdo foi produzido pelo Estúdio DC, bureau especializado em conteúdo de marca