Joinville enfrenta pelo quinto ano consecutivo a epidemia da dengue. Desde o combate contra o mosquito, a prevenção, atendimento de saúde e até a vacinação, em todos os níveis de enfrentamento há presença feminina. Inclusive, em muitas ações, são as mulheres que estão à frente nesta guerra contra a dengue. Neste 8 de março, algumas delas falam sobre os desafios, as mudanças e as emoções de ser combatente nesta luta.
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Uma das frentes de trabalho é o combate às endemias. O município conta, atualmente, com 118 agentes, sendo quase 60% mulheres. Uma delas é Ione Schmidt, que atua há 10 anos como servidora. Quando começou, a agente atuava batendo de porta em porta para checar os focos do mosquito Aedes aegypti e falar sobre prevenção. Ione viu os casos saltarem nos últimos anos e recorda como era antigamente.
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– Quando a gente ia em uma residência a pessoa dizia: ‘poxa, vocês de novo? Mas está tudo certinho”. Algumas pessoas nem acreditavam que existia a dengue e a gente sempre tentando orientar da melhor forma possível. E aí, depois, começaram a ver que realmente a coisa era séria – lembra.
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Conheça as mulheres que atuam na linha de frente contra a dengue em Joinville
Em 2014, quando Ione iniciou como agente de saúde, Joinville registrou durante todo o ano 226 focos do mosquito. Até esta sexta-feira (8), 2024 já somava 3.873.
Ao contrário da época em que começou como agente, hoje em dia, Ione conta que as pessoas é quem têm procurado os agentes, fazendo as denúncias, pedindo para que haja fiscalização.
Além das visitas em casa, as agentes também são responsáveis pelas campanhas. Hoje em dia, Ione não atua mais de porta em porta, mas diretamente nas escolas e em empresas.
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Nas unidades de educação, Ione desenvolve um momento lúdico para falar sobre a dengue. Teatro, conversas, fantoches, brincadeiras. Tudo isso envolve o momento de combate e prevenção contra a dengue nas escolas.
– Eu agora estou envolvida bastante na palestra e na exposição. A gente levou para as escolas e está trabalhando com crianças. A gente vê que eles são multiplicadores de informações, eles levam, eles cobram, eles ajudam. Também com o projeto Detetives da Dengue. Eles se entusiasmam muito. Tudo que a gente fala, eles ficam com os olhinhos brilhando, querendo aprender cada vez mais. É bem legal – conta Ione.
Diante do envolvimento dos pequenos, há também as conversas. Algumas delas, muito tocantes. Na última semana, lembra a agente, um menino pediu para compartilhar uma informação durante a palestra. Com os olhos cheios de lágrimas, falou que a avó havia morrido vítima da doença.
– Ele disse: ‘minha vó morreu por causa da dengue. E depois minha mãe também pegou dengue e eu chorei muito, pedi a Deus para não deixar ela morrer’. Elas se preocupam bastante, impacta quando vê uma notícia dessa – diz.
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Apesar das surpresas que podem surgir com as crianças, o mais desafiador para Ione é lidar com os adultos.
– Ir nas residências, porque quando você vai lá, você quer fazer a vistoria, quer orientar e eles acham que o problema é sempre do outro […] Existe um pouco de resistência, então é desafiador – reflete.
Por isso, em meio a sabedoria e vontade de mudar o mundo das crianças, com seus olhares atentos à brincadeira e informação, Ione diz que é feliz.
– Hoje eu estou no local certo, no lugar certo, fazendo realmente o que eu gosto.
Combate à dengue após infecção
Além da mobilização nas campanhas e prevenção, outras mulheres compõem a linha de frente no combate à dengue, inclusive, após a infecção, quando os pacientes precisam de cuidados.
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Há 11 anos trabalhando na emergência, Suzana da Nunciação dos Reis, atual coordenadora da Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) Glória, vivenciou o caos da pandemia e, agora, o da dengue na rede pública de saúde.
– Trabalhei na UPA Leste durante a pandemia do Covid-19 e era um cenário mais pesado do que o da dengue. Apesar de ser um cenário grave, que está explodindo no município, a dengue é algo que a gente pode controlar, com orientação é algo que podemos controlar em casa – destaca Suzana.
Ainda que a pandemia tenha sido mais intensa, Suzana ressalta que, atualmente, a dengue tem sido extremamente agressiva na cidade nos últimos anos. Em 2023, foram 39 óbitos pela doença e, neste ano, já foram 10.
Diante do cenário preocupante da dengue, Suzane foi transferida para a UBSF do Glória que, atualmente, é uma das três unidades sentinelas de atendimento contra a doença e, também, abriga a Central de Hidratação 24 horas.
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Com isso, a profissional trabalha no atendimento dos pacientes que contraíram dengue. Para o local, são encaminhados moradores de diversos bairros com casos mais graves da doença, o tipo B e C, que apresentam desidratação forte e até sangramentos.
Conforme as horas passam, a unidade vai enchendo. Suzana “abre” a unidade de manhã cedo e, devido ao volume de atendimento, às vezes precisa sair tarde da noite. Toda a vida é impactada e o cansaço chega. Ainda assim, se os pacientes precisam, os trabalhadores da saúde estendem sua jornada em horas extras para garantir atendimento.
– Os casos estão mais desafiadores. É como se a dengue sofresse uma mutação, é como se o mosquito nos desafiasse. – cita a técnica em enfermagem.
Vacina chega em Joinville
Para a vacinação da dengue começar em Joinville, foi necessária a atuação de Nicoli dos Anjos, que é coordenadora de Imunização da Secretaria da Saúde. É ela quem faz a distribuição das doses por toda a cidade.
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– Aqui no nosso setor, a gente recebe as informações oficiais e as técnicas. Tentamos simplificar a informação, deixar de uma forma mais clara para passar a todos os técnicos das salas de vacina, bem como a distribuição dessas doses. Para isso, a gente avalia quantas crianças tem em cada território para poder mandar aquelas doses. As unidades solicitam as doses e a gente faz esse encaminhamento e remanejamento se for necessário – explica Nicoli.
Hoje, o desafio de coordenar a equipe é entender como será a adesão da vacina da dengue e instigar a imunização. Nicoli explica que, quando uma família chega na sala de vacinação, os técnicos estimulam que a criança saia com a caderneta completa, mas nem sempre é possível.
Em todas as unidades, os servidores devem ofertar as vacinas faltantes na caderneta e, quando há negativa, devem anotar o ocorrido no sistema.
– A gente vive um momento com muitas fakes news e isso é um embate para a gente. Conseguíamos alcançar altos índices vacinais, Santa Catarina como um todo, e de uns dois anos para cá a gente vê essa cobertura caindo, de forma geral. Os pais se sentem descrentes da vacina, parece. E tem essa falsa sensação de segurança porque os pais não veem mais as doenças como antigamente, surtos de sarampo e catapora, mas pode acontecer novamente – destaca.
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Agora, os profissionais que trabalham na distribuição da vacina precisam, também, implementar a imunização da dengue no discurso. Hoje, são ofertadas 19 diferentes vacinas na rede pública. E a vacinação de crianças é ainda mais desafiadora.
– Existe a resistência, várias picadas, e isso dói no coração do pai, da mãe, mas a gente sempre orienta para que façam logo, para que o filho fique protegido, do que fique retardando a situação.
Porém, no caso da vacina da dengue, esta resistência não é tão sentida. Nicoli comenta que, na verdade, as pessoas chegam e pedem a vacina da dengue e acabam deixando outras de lado.
Conforme a coordenadora de Imunização, até a manhã de quinta-feira (6), cerca de 24% das doses de vacina contra a dengue que chegaram em Joinville foram aplicadas. Apesar dos números, que poderiam estar mais altos, Nicoli comemora a chegada do imunizante.
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– Ela acabou de ser incorporada no calendário básico infantil e de adolescentes. Então chegou faz poucos dias e também é uma novidade para nós, mas enxergamos como um grande ganho, justamente neste período que Joinville está passando por essa epidemia – lembra a coordenadora.
Neste que é o quinto ano consecutivo que a cidade enfrenta a epidemia da doença, as mulheres e toda a Secretaria de Saúde seguem no combate à dengue, desde os focos até às infecções. Mas, as servidoras apelam:
– Limpe os seus quintais, o mosquito está dentro das casas, ele está depositando os ovos nos quintais das residências. Claro que existem outros problemas como terrenos, baldios e tudo mais, mas se cada um fizesse a sua parte, dentro de casa, não teríamos tantos problemas como vivemos hoje – ressalta Nicoli.
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