Sempre que vê notícias sobre “vacina de vento” – como ficaram conhecidos os casos de profissionais que usaram seringas vazias para supostamente imunizar idosos – Valquíria do Amaral se pergunta:
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– Como pode acontecer uma coisa dessas? A gente sabe que aplicar uma vacina exige seriedade. Sinto que devo fazer minha parte com competência e transparência para que esta pessoa não adoeça, pois se isso acontecer a culpa será minha – conta a vacinadora, que mora em Pouso Redondo, município com cerca de 18 mil moradores do Alto Vale do Itajaí.
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Funcionária da prefeitura desde 1995, a técnica de enfermagem fez especialização e desde então trabalha na sala de vacinação do centro da cidade. Vacinação é o setor que ela mais se identifica como profissional, embora saiba que a fincada no braço não é um ato muito simpático:
– Nunca esqueço de um menininho com três anos que chegou na porta com as mãos postas no peito. Perguntei o motivo e ele respondeu que estava rezando para a vacina não doer – brinca Valquíria.
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Outras vezes, a reação de carinho, como da garotinha de um ano e oito meses, que deu os braços para pegar um colo da vacinadora:
– São coisas que marcam a gente – lembra ela, emocionada.
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Com idoso é diferente, observa. A maioria que conversar, pede atenção, gosta de falar sobre coisas da vida.
– Vacinar é também escutar as pessoas, principalmente os acamados – explica a vacinadora.
“A gente não deve desistir dos objetivos no meio do caminho”
Valquíria se diz realizada profissionalmente. Um caminho marcado por obstáculos. A começar pelos estudos. A família morava no interior do município e nem adiantou o pedido da professora aos pais dela para que deixassem a menina continuar frequentando a escola:
– Terminei o quinto ano, mas para continuar teria que pegar ônibus e ir até a cidade. Meus pais trabalhavam na agricultura e tive que cuidar dos irmãos menores – recorda.
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Valquíria só retomou os estudos aos 18 anos, quando conseguiu emprego no hospital da cidade. Foi morar com uma tia, trabalhava no setor de limpeza durante o dia e à noite encarava o ensino fundamental. Na sequência, concluiu o ensino médio:
– Posso dizer que a gente não deve desistir dos objetivos no meio do caminho.
Valquíria mora a dois quilômetros da unidade de saúde. Como procura levar uma vida saudável – mora em um pequeno sítio de onde retira verduras e frutas orgânicas – gosta de usar a bicicleta. A rotina dela começa às 7h3omin e se encerra às 17h, de segunda a sexta, exceto em períodos de campanha.
– Já participei de muitos mutirões de vacinação. São dias importantes, pois focamos na saúde das pessoas – conta ela.
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Casada há 26 anos com Janoir Kalbusch, a quem diz receber muito apoio para poder dedicar-se ao trabalho, Valquíria se declara realizada na atividade que ajuda a salvar vidas:
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– Apesar das dificuldades financeiras, recebi boa educação na minha família. Entendi que não se pode parar, mas tocar a vida para a frente.
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