Em 1984, a lista dos aprovados e das aprovadas do vestibular de Medicina da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) tinha o nome de Joanita Ângela Gonzaga. Agora, 37 anos depois, o nome consta no crachá de Joanita como uma servidora hierarquicamente importante, o de superintendente do Hospital Universitário. A nomeação recente, em 22 de fevereiro, ocorre em um dos períodos mais emblemáticos da instituição devido à pandemia. 

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– Frio na barriga? Dá, sim. Mas acredito na possibilidade de crescimento, por mais adverso que seja o momento. Estou superintendente, mas junto comigo existe uma grande e dedicada equipe que está fazendo todo possível para o bem dos pacientes – diz Joanita.

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Até ter o nome indicado pelo reitor à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), Joanita chefiava a Divisão Médica do hospital. Mestra em Ciências Médicas, ela é apaixonada pela área da Hematologia, na qual se tornou especialista, e chefiou o serviço no HU. Joanita nasceu em Brusque, no Vale do Itajaí, em uma família de classe média.

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O pai foi um ex-pracinha e também alfaiate, enquanto a mãe cuidava dos oito filhos. A caçula tinha o sonho de tornar-se médica, mas as perspectivas não eram boas devido à situação financeira da família.

No antigo segundo grau, a escola pública foi o caminho, até chegar à UFSC, onde os livros bastante caros eram pagos com a pensão do pai, em prestações. Joanita recorda que era uma estudante ansiosa para acompanhar a rotina hospitalar. Dedicava-se muito aos estudos e raramente passeava. Exceto para dar uns bordejos em hospitais da região. 

– Eu nem tocava no paciente. Mas gostava de ver os profissionais cuidando deles.

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O começo do estágio no Posto de Saúde da Serrinha, no complexo do Maciço do Morro da Cruz, em Florianópolis, foi marcante. Por essas coisas da vida, muitos moradores da comunidade são usuários dos serviços do Hospital Universitário que agora ela dirige.

“Rir ou chorar junto com o paciente só nos coloca mais próximos dele”, defende Joanita

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A prática da medicina humanizada, a qual se aproxime do paciente continua sendo um dos propósitos da superintendente do Hospital Universitário: 

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– Rir ou chorar junto com o paciente só nos coloca mais próximos dele e nos faz compreender melhor seu problema. Tocar no paciente, examinar, é outro fator importantíssimo para podermos fazer o diagnóstico diferencial – comenta a médica. 

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Joanita sabe que os homens continuam sendo maioria na medicina brasileira. Dos cerca de 502 mil profissionais, pelos menos 57% são do sexo masculino. A presença feminina cresceu, especialmente na faixa etária mais jovem e as moças superaram os rapazes. Nos cursos de Medicina também aumentou a presença de mulheres dando aulas em relação a anos anteriores. Sobre o comportamento dos professores exigentes que teve ela diz: 

– Considero que a cobrança não tinha a ver com o fato de ser mulher, mas pela condição de aluna. Independente da condição de gênero, os professores eram muito exigentes e detalhistas com o ensino e a aprendizagem.

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Dados da participação das mulheres no segmento da saúde no Brasil (Foto: Arte NSC)

Casada há 28 anos com um arquiteto paulistano de quem agregou o sobrenome Del Moral, sem filhos e com quatro gatos em casa, Joanita acredita que o momento adverso imposto pela pandemia possa resultar em crescimento.

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A superintendente cita o livro “A busca do Sentido”, de Vicktor E. Frankl, no qual o ex-prisioneiro do campo de concentração de Auschwitz, relata a experiência e as situações difíceis vivenciadas naquele ambiente de dor, sofrimento e privações.

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O autor conta como, frente a essas situações, as pessoas que sobreviveram conseguiram reagir e buscar um sentido para a vida após a dolorosa vivência. 

– Penso que sempre é possível ganhar alguma coisa.

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