A partir de setembro, 17 cidades catarinenses receberão profissionais da saúde pelo programa do governo federal Mais Médicos. O efetivo atenderá apenas 14% dos municípios catarinenses que tinham se cadastrado para receber os médicos. No país, apenas 6% da demanda foi atendida pelo programa. Para especialistas, o pouco interesse dos médicos reforça a alternativa de se trazer profissionais de outros países.
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Em Santa Catarina, serão 23 médicos distribuídos no interior e na Capital. A lista exclui 102 municípios que tinham se inscrito. Inicialmente, 45 médicos demonstraram interesse em atuar no Estado, mas apenas 23 homologaram a participação. Para o ministro da saúde, Alexandre Padilha, os números devem apontar novas possibilidades de parcerias.
– Tendo o quadro da distribuição, onde se concentra a carência, fica mais factível para o Ministério da Saúde buscar parcerias com países e universidades – afirmou o ministro, durante a apresentação dos dados ontem.
A professora de Medicina da Univali e especialista em Saúde Pública Rosaura de Oliveira Rodrigues acredita que a baixa adesão tenha sido um “não” para se trabalhar no interior. Ela concorda que o governo procure bons profissionais de fora que queiram vir.
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– O que não dá é para deixar a população sem médicos, seria muito corporativismo nosso – considera a professora.
Rosaura atribui a baixa participação dos médicos à falta de valorização dos generalistas
– como os solicitados no Programa -, fazendo com que muitos formados optem por se especializar em uma área. A própria questão do conforto e da vontade de receber salários mais altos também pode ter atrapalhado.
Outro ponto, segundo ela, é que muitos profissionais acham que precisam de muita estrutura ou tecnologia para conseguir atender, o que não corresponde à pratica. Na maioria dos casos, de acordo com ela, não é necessário atendimento em hospital ou apoio tecnológico, mas apenas profissionais que possam atuar em atendimento e prevenção. Para a médica, então, além dos investimentos em estrutura e incentivo para os médicos, é necessária uma mudança de mentalidade.
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– Tem que inverter a mentalidade também da população que acha que o melhor médico é o especialistas e colocar a atenção básica como prioridade. Também é necessário forçar os gestores a bancarem os direitos de sáude – considera.
O Ministério da Saúde decidiu prorrogar até próxima quinta-feira o prazo para confirmação de participação para os inscritos no programa. Uma segunda chamada para os profissionais começa no dia 15.
Polícia Federal investiga fraude
O presidente da Frente Nacional dos Prefeitos, José Fortunati, acredita que mais de 14 mil médicos fraudaram a inscrição justamente por um “sentido corporativista das entidades”. O ministério recebeu denúncias de boicote e pediu que a Polícia Federal investigasse o caso.
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Mais de 6 mil inscritos deixaram o número do registro profissional em branco. Outros 171 colocaram traços ou zeros nos espaços, além dos que puseram números inconsistentes.
Cidade que fica de fora sofre com rotatividade de médicos
Na lista das cidades que ficaram de fora da 1ª chamada do Mais Médicos está Entre Rios, no Oeste de SC. Apesar de não estar entre os municípios prioritários para o programa, a dificuldade em manter um médico atendendo pelo Serviço Único de Saúde é constante.
O prefeito João Maria Roque (PMDB) conta que, dos dois médicos em atuação na cidade, um já sinalizou que não ficará no ano que vem. Mesmo com a folha dos dois profissionais superando os R$ 30 mil mensais, a rotatividade é grande e muitos nem chegam a cumprir o contrato de um ano.
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– Ele preferem pagar multa para ir para uma cidade maior – relata.
A cidade decidiu investir mais no pagamento há cerca de quatro anos, quando chegou a ficar quatro meses sem médicos. A alternativa dos moradores era buscar atendimento em Xanxerê. Como Entre Rios ainda não foi contemplada pelo Mais Médicos, o prefeito deve buscar parceria com a Universidade Federal de SC para conseguir estagiários que possam trabalhar na região. A preocupação de Roque é proporcionar atendimento para a comunidade indígena da cidade e para a população carente.
– É um município pobre, depende desse atendimento gratuito.
Por enquanto, um médico trabalha em regime de 40 horas na cidade e outro, 20 horas. As despesas com saúde são mantidas pelo município, com apoio do Ministério da Saúde.