Os dois tubos por onde passavam as águas de um afluente do Rio Perequê (conhecido popularmente como Mansinho), sobre a Estrada Geral do Sertão do Trombudo, em Itapema, estão fechados. Pilhas de madeira e lama impedem que o curso d’água siga seu caminho natural. Do outro lado da rua, um filete de água corta o que hoje é mais barro e lodo. Nem os peixes aparecem mais por ali. Logo ao lado, dá para ver as águas entrando na lagoa de captação que abastece Itapema.
Continua depois da publicidade
O Rio Perequê é a principal fonte de abastecimento das cidades de Porto Belo e Bombinhas. E esse desvio seria ilegal. É o que garante um relatório feito por técnicos da Casan, Fundação de Amparo ao Meio Ambiente de Bombinhas (Famab), um engenheiro ambiental e um biólogo. O documento foi enviado à Câmara de Vereadores de Bombinhas, que promete tomar uma medida judicial contra a Águas de Itapema. Os rizicultores do Sertão do Trombudo devem fazer o mesmo.
Um tubo instalado logo ao lado dos que hoje estão bloqueados joga água para a lagoa da Águas de Itapema. Produtores de arroz da região, que chegaram a ser acusados de terem desviado o curso do rio, preferem não aparecer, mas informaram que o desvio foi feito no fim de dezembro.
– Chegaram a divulgar na imprensa que nós éramos os culpados. Mas porque a gente faria um desvio para dentro da lagoa deles (Águas de Itapema)? – questiona um agricultor, que não quer se identificar com medo de represálias.
– Na época, isso aqui ficou cheio de urubus, aproveitando para comer os peixes que estavam mortos – conta um deles. A situação é perceptível para qualquer um que estiver no lugar e foi comprovada por um relatório produzido. Aliás, há divergências até na nome do curso d’água.Os rizicultores garantem que ele já é o Rio Perequê, mas a Polícia Ambiental e a Águas de Itapema dizem se tratar de um afluente.
Continua depois da publicidade
– Faltar água aqui no verão é normal. Mas esse ano foi demais. Ela trabalha como faxineira em uma pousada e também é zeladora de algumas residências, na Praia de Bombinhas.
Na tarde desta sexta-feira, pensou em limpar algumas dessas casas, mas a falta d’água fez ela mudar os planos. O jeito foi aparar os arbustos.
– Enquanto isso, o serviço vai acumulando – lamenta. Não é só no trabalho que dona Isabel sofre. Na casa dela, que fica no Bairro José Amâncio, a família não ficou sem água ainda porque o marido de Isabel improvisou.
Continua depois da publicidade
– Ele pegou uma caixa de 500 litros emprestada do vizinho e comprou um motor para bombear para casa. Como somos só eu, ele e uma filha, e todos trabalhamos fora, não chegamos a sentir tanto. Mas já aconteceu de ter de usar água mineral para cozinhar.
– A tubulação que permite passagem da água está obstruída por tábuas e material de entulho. O impacto para nós é enorme, porque dependemos deste rio para o abastecimento – destaca o engenheiro ambiental da Famab Elton Gonçalves, que acompanhou a vistoria.
O Ministério Público será notificado nos próximos dias, e a prefeitura de Bombinhas estuda uma ação judicial contra a empresa Águas de Itapema. As administrações municipais de Bombinhas, Porto Belo e Itapema também devem se reunir para buscar uma solução para o problema.
Continua depois da publicidade
A empresa reitera ainda que as ações feitas no local são de conhecimento da Polícia Ambiental e tem licenciamento. A Fundação Ambiental Área Costeira de Itapema (Faaci) também afirma que não há desvio. O presidente da Fundação, Leonardo Nunes, informa que técnicos do órgão confirmaram que o rio se trata do Mansinho, e que não há irregularidade no local.
– Existe um acordo de cavalheiros entre Itapema e Porto Belo, mas não há obrigação deste rio ser usado para abastecer as cidades vizinhas. Por isso o que foi feito ali é um bloqueio em razão da lagoa bruta estar com pouco volume em Itapema – detalha.
De acordo com a Polícia Ambiental, porém, a ação no Rio Mansinho tem sim problemas. O comandante Enio Sérgio Nedochetko diz que será entregue na segunda-feira um processo ao Ministério Público de Itapema em que consta uma autuação à empresa. O documento aponta que houve irregularidade no represamento de água nas últimas semanas, no Rio Perequê e em seus afluentes.
Continua depois da publicidade