As expectativas para o turismo catarinense na temporada seguem otimistas, mesmo após um dia de forte desvalorização do peso argentino no país vizinho. Nesta quinta-feira, a moeda sofreu sua maior queda desde a crise econômica de 2002, com o dólar subindo mais de 40%, depois de o governo de Mauricio Macri ter acabado com as restrições em vigor desde 2011. A moeda argentina fechou o dia a 13,40 pesos o dólar para a compra e 14 pesos para a venda, que representa uma valorização do dólar acima de 40%.

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Para o presidente da Santur, Valdir Walendowsky, apesar da forte mudança cambial no país vizinho, os planos dos argentinos nas viagens para Santa Catarina devem sofrer pouca alteração:

— Pelo que nós estamos percebendo, a maioria já está com tudo contratado: pacotes, hotéis, voos. Não deve ter impacto, não. Pessoal lá guarda dólar. Eles fazem tudo em dólar. Eles vão vir. Já estão vindo, aliás — afirmou.

A expectativa para a temporada de 2016 é de crescimento no fluxo de turistas do Mercosul. Segundo a Secretaria de Turismo de Santa Catarina, haverá fretamento de três voos diários da Argentina neste verão, enquanto havia apenas um nos anos anteriores.

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No Costão do Santinho, as reservas para janeiro já estão confirmadas. Segundo o diretor comercial do resort, Rubens Régis, o impacto das variações cambiais no país vizinho não devem ser grandes neste verão.

— Para janeiro os argentinos já compraram. Está tudo pago. Para fevereiro pode ser que tenha algum reflexo. Falei com um argentino hoje e ele me falou que a estimativa é que um dólar fique a 18 pesos. Mas o impacto não vai ser muito grande para este verão. Quem tinha que comprar já comprou. As pessoas virão, vão poder gastar no cartão de crédito. Vai vir uma massa grande (de argentinos neste verão). Muitos já pagaram o aluguel das suas casas, em especial aqui no Norte da Ilha — afirmou.

Fim das restrições cambiais era pedido de empresários

O fim das restrições cambiais era um persistente pedido dos empresários, do campo e dos mercados pelas distorções criadas para importar e exportar. O economista Nicolás Dujovne disse que “a chave do sucesso da eliminação das restrições é que se chegue a um nível de 14/15 pesos o dólar, que o governo não dê marcha ré com a liberalização e que a transferência de preços não seja muito alta”.

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Consultores estimam que a intenção do novo governo é que se fixe em 14,50 pesos o dólar, o que implicará uma forte desvalorização com o risco de que seja repassada aos preços do varejo, que há semanas têm aumento de até 60% em produtos da cesta básica.

– O preço do dólar será decidido pelo mercado. Mas também terá um Banco Central com as ferramentas necessárias para intervir se o dólar subir ou cair muito – afirmou Prat-Gay, do JP Morgan.

Bilhões de dólares nos cofres

Prat-Gay estima que entrarão nos cofres argentinos “entre US$ 15 e US$ 25 bilhões nas próximas quatro semanas”. Tal valor é maior do que os US$ 10 bilhões considerados necessários para poder liberar a compra e venda da divisa.

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A medida abre a possibilidade de que cidadãos e empresas possam comprar ¿até US$ 2 milhões sem restrições¿, apontou Prat-Gay. Até agora, as pessoas só podiam adquirir US$ 2 mil por mês.

– Quem quiser importar ou exportar, ou comprar dólares pode, ninguém o perseguirá – declarou o ministro.

Com uma economia estagnada, um déficit acima de 7% do PIB e uma inflação que ronda os 30%, segundo consultorias privadas da terceira economia da América Latina, “não havia muita margem para continuar adiando essa decisão”, afirmou o relatório da consultoria argentina Ecolatina.

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A eliminação do controle cambial na Argentina soma-se a uma agitada semana em que, em menos de sete dias como presidente, Macri eliminou impostos a empresas agropecuárias e à indústria. Além disso, cortou em cinco pontos uma taxação (de 35% para 30%) à soja.