Encurralada por forte desvalorização do peso, a Argentina foi obrigada a anunciar, nesta sexta-feira, medidas para afrouxar o controle cambial que vigora desde 2011 e, a partir de segunda-feira, voltará a permitir poupança em dólares.

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O agravamento da desconfiança internacional fez com que a moeda do país vizinho despencasse quase 9% na quinta-feira e acendesse o alerta no Brasil e em outras economias emergentes.

Atento ao risco de contaminação, o Banco Central (BC) confirmou que monitora os desdobramentos na crise cambial no terceiro maior parceiro econômico do Brasil e possíveis reflexos nas exportações. Outro sul-americano em turbulência, a Venezuela demonstrou inquietação e anunciou ontem a redução no limite para gastos com cartões de crédito e saques feitos para quem viajar ao Exterior.

Neste mês, o peso argentino já perdeu 22%, maior queda desde março de 2002, quando o país enfrentava a crise que levou ao calote da dívida. Para especialistas, o agravamento é resultado da longa série de medidas de intervenção na economia, descumprimento de contratos, maquiagem da inflação e confrontos com o capital privado desde que o casal Kirchner chegou ao poder.

Para Cláudio Gonçalves, professor do MBA em gestão de risco da Trevisan Escola de Negócios, o estopim da crise foi a combinação de desvalorização de matérias-primas, desaceleração do crescimento do emergentes e leve recuperação das nações mais ricas, o que foi interpretado pelos investidores como sinal para bater em retirada.

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– Há insegurança em relação a políticas adotadas por alguns governos, como Argentina, Venezuela e Brasil – diz Gonçalves, ressalvando que, apesar de o Brasil sofrer a mesma pressão externa que afeta a Argentina, o mercado global tem maior confiança no país.

Embaixador na Argentina entre 2002 e 2004, o vice-presidente emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais, José Botafogo Gonçalves, teme consequências negativas para o Brasil caso a crise cambial no parceiro do Mercosul se aprofunde. No Rio Grande do Sul, acrescenta Botafogo, os danos poderiam ser ainda maiores.

– Se a Argentina for à breca, será muito ruim para as exportações brasileiras e para as gaúchas em particular – reforça Botafogo, citando setores como calçadista e máquinas agrícolas.

O câmbio oficial na Argentina fechou em 8,01 pesos, alta de 3,3%. O paralelo caiu 8%, para 12 pesos.