Esqueça aquelas cenas de cinema, em que automóveis velhos são amassados por prensas gigantescas, compactados até se transformarem num pacote metálico que caberia na mala de viagem. No Rio Grande do Sul, carros aposentados têm um fim diferente. São esquartejados, peça por peça, e o que resta abastece siderúrgicas.
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VÍDEO: confira os momentos finais de um automóvel que será desmanchado
O Depósito de Peças São Borja, em São Leopoldo, desmancha entre cem e 120 automóveis por ano. Os irmãos Leandro e Luís Carlos Voese informam que são comprados em leilões oficializados pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Levados ao depósito, os veículos ganham a etiqueta de registro do Detran – a São Borja foi pioneira ao aderir à Lei de Desmanches, no dia 6. A primeira tarefa é descontaminar o carro, retirando restos de gasolina, óleo, líquido de freio e outros poluentes.
Limpo o carango, começa o garimpo das peças que estão intactas, por meio de ferramentas de mecânico, como uma prosaica chave de fenda. Motor, caixa de câmbio, volante, painel, sistema de transmissão são extraídos, etiquetados com o cadastro do Detran e colocados à venda.
Leandro diz que as peças são compradas por motoristas particulares, interessados em repor alguma que não esteja funcionando bem. É a procura do freguês que dita o ritmo do desmanche. Um Honda Civic ano 1998, que teve perda total numa colisão, vem sendo fatiado há dois anos.
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– Primeiro, vendemos as peças de primeiro nível – conta Leandro.
Depois da parte mecânica, é aproveitada a carroceria, também por pedaços. O serviço fica com um dos desmanchadores da São Borja, Luís Sandro de Farias, que usa uma serra elétrica dente de sabre para retalhar a lataria.
O Depósito São Borja opera há três décadas. Foi fundado por Leonardo Voese, 70 anos, pai de Luís Carlos e Leandro. Hoje, a empresa dispõe de empilhadeira para erguer as carcaças. No início, Leonardo desmontava Opala, DKW, Fusca, Chevette e Corcel no muque.
A família Voese aceitou a Lei dos Desmanches do Detran para evitar comparações com ferros-velhos clandestinos. O propósito é tirar o máximo de um carro que morre, dentro do permitido pela legislação. O que não pode ser reciclado – lataria amassada e para-choque quebrado – é repassado aos sucateiros.
A Comércio de Sucatas Picoli, de São Leopoldo, compra tudo o que os desmanches refugam. Coloca as latarias amassadas num caminhão e entrega nas siderúrgicas da Gerdau, localizadas em Sapucaia do Sul e Charqueadas.
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– A sucata de automóveis significa cerca de 5% do nosso negócio – afirma Rejane Picoli da Silva, responsável pelo comércio.
As siderúrgicas do Grupo Gerdau reciclam 15 milhões de toneladas de sucata ferrosa por ano. O material de veículos é bem-vindo, porque tem 70% de aço na estrutura. A reciclagem a partir de carros vem aumentando, mas não é possível, por enquanto, informar o percentual que representa no total derretido nos fornos.