A gente quase não se dá conta, mas atrás das estatísticas que colocam Santa Catarina como um dos Estados com melhor cobertura vacinal do país, existe um profissional que soma para o êxito. Talvez a opinião pública até não reconheça, porém a saúde dos catarinenses passa pelas mãos deles.

Continua depois da publicidade

As vacinadoras, em grande maioria mulheres, são cerca de 1,5 mil na rede pública. Distribuídas em 1.102 salas espalhadas pelos 295 municípios do Estado, têm pensamento parecido com o de Salete Hoffmann, da Unidade Básica de Saúde de Angelina, a 70 quilômetros de Florianópolis.

– Além de formação técnica, nosso trabalho exige dedicação e responsabilidade. A gente lida diretamente com a vida, seja do bebê, ao nascer; seja do vovozinho que precisa se proteger de doenças como a gripe – diz.

Para vacinadores como Salete, trabalhar com saúde pública é quase missão. A atividade ajuda promover igualdade entre os catarinenses. Toda criança, seja rica ou pobre, tem acesso gratuito à vacina. More na mais movimentada Avenida de Balneário Camboriú ou esteja entre os 1,3 mil habitantes de Santiago do Sul, município com a menor população do Estado. Aplica-se, também, aos idosos. Sejam residentes em casas de repouso ou com autonomia para caminhar até o postinho do bairro para serem imunizados.

A história da vacinação no país é de evolução. Quem é da área, como Salete, reconhece que para melhor. A descentralização por parte do Ministério da Saúde ajudou e a parceria entre Estados e municípios deu resultado. As prefeituras passaram a ser grandes articuladoras junto aos Estados, enquanto o envio das vacinas ficou com o governo federal. Mas quem sabe onde estão as crianças, os acamados que não podem se deslocar para serem imunizados são os profissionais que estão na ponta.

Continua depois da publicidade

Recentemente, o Ministério da Saúde divulgou uma lista de 312 cidades com cobertura na vacina contra a poliomielite abaixo dos índices previstos. O dado mostrou que em algumas cidades catarinenses, nem a metade das crianças menores de um ano foram vacinadas. Na lista contavam oito cidades. Angelina não estava incluída:

– Vacina salva vidas. Doenças que causavam milhares de vítimas no passado, como varíola e poliomielite, não podem retornar. Isso seria colocar um trabalho de anos a perder – observa a vacinadora. 

Salete conta que tinha 13 anos quando decidiu trabalhar na área de saúde. Aproveitou que um posto seria inaugurado na comunidade Garcia, onde ainda mora, e pediu emprego. O gosto pelo ambiente limpo, onde todo mundo tinha que lavar as mãos e o cheirinho de remédios a despertaram para um curso técnico. Sempre gostou de tudo que tinha que fazer, mas a vacinação se tornou o xodó.

Entendia que era uma função diferente, pois trabalharia com prevenção e não doença. Algo realmente comunitário, e que implicaria diretamente na saúde das crianças e também dos adultos. 

Continua depois da publicidade

Foto: Editoria de Arte / DC

No começo havia poucas vacinas, e os métodos eram estranhos para os dias de hoje: 

– A gente esterilizava a seringa em panela de pressão. A vasilha tinha uma espécie de grade no fundo e se colocava o material ali – recorda. 

Tudo funcionava na base do papel: fichas, mapas de vacina, protocolos. No final do mês os registros eram encaminhados para as regionais de saúde. Mais um tempo de viagem e chegavam ao Ministério da Saúde, em Brasília. Sentia-se compensada quando via as estatísticas que colocavam Santa Catarina com o melhores resultados do país.

Foto: Editoria de Arte / DC

Salete recorda que mães e os recém-nascidos eram visitados em casa. Não havia ônibus para o interior e quase ninguém tinha carro. A frota da prefeitura era restrita. Por isso, as vacinadoras usavam os meios de transporte disponíveis. Até cavalos. Mas Salete preferiu algo que já a ajudasse a melhorar a própria saúde: a bicicleta. 

Continua depois da publicidade

– Colocava a caixinha de isopor com as vacinas no bagageiro e pegava a estrada. Chegar em casa das pessoas e imunizá-las sempre teve um grande valor para mim. Pode parecer até curioso, mas eu sou uma profissional que amo o que faço. 

Foto: Editoria de Arte / DC

Mesmo tendo que fincar o braço do outro e a bundinha das crianças? 

– A gente sempre imagina que é para o bem daquela pessoa – afirma a vacinadora. 

Por onde passa, Salete é tratada como autoridade. É o que ocorre na casa da família Hames, também no Garcia. Afinal, já imunizou três gerações: a dona de casa Claudete Hames, a filha Karine, 26 anos, e a neta Beatriz, quatro anos.

– Falando sério: ninguém gosta de tomar vacina. Por isso, contar com alguém que deixa a gente mais calma pelo carinho é muito menos dolorido – brinca Karine.

Continua depois da publicidade

Foto: Editoria de Arte / DC

Leia também:

 Vacinadores: responsáveis pelo bem mais valioso de muitas mães 

 Vacinadores: comprometimento com a saúde do outro 

 “Sem os vacinadores a coisa não anda”, diz representante do Ministério da Saúde 

 Confira a evolução da vacina no Brasil 

Leia todas as notícias do Diário Catarinense