Uma equipe de astrônomos europeus pode ter testemunhado o despertar de um buraco negro em uma galáxia distante. As informações constam em um estudo divulgado nesta terça-feira (18). Registrado pela primeira vez em 2019, o evento cósmico foi visto por um telescópio dos EUA, que observou um “brilho incomum” a cerca de 300 milhões de anos-luz de distância. Na ocasião, dados evidenciaram que a galáxia, antes “calma”, próxima à constelação de Virgem, havia começado a brilhar de forma misteriosa. As informações são do O Globo.

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A equipe internacional resolveu investigar o “comportamento sem precedentes” e fez a descoberta de que a galáxia estava, aos poucos, irradiando mais luz e ficando mais brilhante, um evento diferente de qualquer outro já visto. De acordo com o estudo, o brilho repentino é causado por um enorme buraco negro que desperta no núcleo da galáxia.

Caso as descobertas sejam validadas em próximos estudos, esta será a primeira vez que cientistas acompanham, em tempo real, um buraco negro se tornando ativo.

Paula Sanchez Seez, astrônoma do Observatório Europeu do Sul (ESO, em inglês), na Alemanha, que publicou o estudo, ficou surpresa com a descoberta.

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— Esse comportamento não tem precedentes. Imagine que você esteja observando uma galáxia distante há anos, e ela sempre pareceu calma e inativa. De repente, seu núcleo começa a apresentar mudanças drásticas de brilho, diferente de qualquer evento típico que tenhamos visto antes — afirma.

Os buracos negros estão presente no centro da maioria das galáxias, podendo ter massas que são mais de 100 mil vezes maiores que a do Sol. Nos buracos negros, a gravidade é tão forte que a luz não consegue escapar, e aí as leis normais da física se rompem.

Os pesquisadores descobriram que a galáxia, chamada SDSS1335+0728, está emitindo muito mais luz em comprimentos de onda ultravioleta, óptico e infravermelho do que emitia antes. Eles chegaram à conclusão após comparar os dados do Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul com outros telescópios baseados na Terra.

Lorena Hernandez Garcia, do Instituto do Milênio de Astrofísica e da Universidade de Valparaiso, no Chile, fala sobre o que explica o fenômeno.

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— A opção mais tangível para explicar esse fenômeno é que estamos vendo como o núcleo da galáxia está começando a mostrar atividade. Se assim for, esta seria a primeira vez que veríamos a ativação de um buraco negro maciço em tempo real — afirma.

As descobertas da equipe, que devem ser publicadas na revista Astronomy & Astrophysics, devem fornecer informações valiosas sobre como os eventos cósmicos crescem e evoluem, segundo os pesquisadores. Elas também poderão ajudar a esclarecer o destino de Sagitário A, o buraco negro maciço localizado no coração da Via Láctea.

As explicações alternativas, como eventos de maré, onde uma estrela se aproxima demais de um buraco negro e é despedaçada, podem existir. É por isso que os pesquisadores destacam que serão necessárias observações de acompanhamento. Mas eles destacam também que eventos como estes costumam ser breves e iluminam as galáxias por não mais do que algumas centenas de dias.

— Com os dados que temos no momento, é impossível distinguir qual desses cenários é real. Precisamos continuar monitorando a fonte — disse Sánchez-Sáez.

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Para Claudio Ricci, astrônomo da Universidade Diego Portales, no Chile, os buracos negros são “monstros gigantes [que] geralmente estão dormindo e não são diretamente visíveis”.

— No caso do SDSS1335+0728, pudemos observar o despertar do buraco negro maciço, que de repente começou a se banquetear com o gás disponível em seus arredores, tornando-se muito brilhante — diz Ricci.

*Sob supervisão de Luana Amorim

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