A desnutrição infantil no Brasil hospitalizou ao menos 380 bebês menores de um ano no Sul do país em 2021, segundo dados da Observa Infância, iniciativa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com a Unifase. O número, apesar de alto, representa o menor dos últimos 10 anos na região. Em 2022, não há dados de crianças internadas nos respectivos Estados.
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O maior número registrado no período foi de 477 hospitalizações, em 2019.
Para a pediatra nutróloga do serviço de nutrologia do Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, Ana Paula Aragão, não se sabe se a causa da desnutrição nos bebês hospitalizados vem de uma desnutrição primária, por dificuldade de acesso a alimentação, ou secundária a alguma enfermidade. A pandemia, conforme explica, nos últimos anos dificultou o acesso ao serviço de saúde, predispondo doenças a bebês e crianças.
— Sabemos que os distúrbios nutricionais podem causar uma série de problemas. Quando falo de problema nutricional, falo também daquele que não aparece aos olhos que é a Fome Oculta, um problema de saúde pública mundial, pois há carência de vitaminas e minerais, como o ferro, vitamina D, vitamina B12, zinco entre outros — explica.
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No ranking das regiões do Brasil, o Sul fica em terceiro lugar. Quem lidera a lista é o Nordeste, com 1.277 internações de bebês menores de um ano por desnutrição, seguido do Sudeste, com 706. O Norte e o Centro-Oeste possuem os menores números — com 303 e 273 internações respectivamente.
— A pandemia dificultou o acesso ao serviço de saúde pediátrico para a prevenção de agravos à saúde da criança. Tivemos dificuldade ao acesso/adesão a vacinação, predispondo elas a doenças que poderiam ser preveníveis, e aumentando os casos de desnutrição secundária — diz Ana Paula Aragão.
Mortes de bebês por desnutrição
Ao menos 74 bebês menores de um ano morreram na região Sul por desnutrição nos últimos 10 anos. Em 2021, no entanto, não houve registros de mortes pela Observa Infância, assim como em 2022. Em 2020, porém, sete bebês morreram.
O maior número foi registrado em 2009, período fora da série histórica analisada, quando a região teve 19 óbitos. Entre 2008 e 2010, o Sul registrou 54 mortes, ou seja, em apenas dois anos a região teve 74% das mortes que registrou em uma década.
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Para a nutróloga e pediátra, o maior acesso a informação tem facilitado a queda dos números, assim como a facilitação ao sistema de saúde pública.
Insegurança alimentar no Sul do Brasil
A insegurança alimentar no Sul do país atinge cerca de 50% da população residente na região. Apesar disso, os três Estados – Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná – representam o menor número de pessoas em situação de fome do país.
Nos últimos 10 anos, houve aumento gradativo de todos os níveis de insegurança alimentar na região. Entre 2012 e 2013, cerca de 14% das famílias estavam em situação de fome, o que agora atinge quase metade da população total, uma década depois.
Os estados do Norte são os que mais sofrem com a fome extrema, pelo menos 71% da população são atingidas pela falta de acesso a alimentos. Mesmo assim, a região não está entre as que registram menores taxas de hospitalização de bebês por desnutrição. A situação, segundo especialistas, acontece por um problema de saúde pública.
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A reportagem entrou em contato com a Secretaria do Estado da Saúde, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.
*Sob supervisão de Lucas Paraizo.
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