O desmatamento acumulado na Amazônia nos últimos 12 meses foi 116% maior do que o acumulado dos 12 meses anteriores, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Entre junho de 2007 e maio de 2008, foram derrubados ou degradados 7.666 km² de floresta, comparado a 3.543 km² no mesmo período de 2006 a 2007.
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Os cálculos são do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), cujo relatório de maio foi divulgado nesta quarta-feira. A área impactada no mês foi de 1.096 km², praticamente igual à de abril e equivalente ao território da cidade do Rio de Janeiro. Mato Grosso, Estado do governador Blairo Maggi, foi responsável por 54% do desmatamento registrado nos últimos 12 meses, 59% do registrado em maio e 69% do acumulado nos primeiros cinco meses do ano.
De um total de 3.730 km² de floresta derrubada ou degradada entre janeiro e maio, 2.571 km² estão dentro do Mato Grosso, segundo o Deter. Roraima aparece em um distante segundo lugar, com 464 km² (12%), e o Pará em terceiro, com 383 km² (10%) desmatados.
O relatório de maio foi divulgado com um mês de atraso pelo Inpe para permitir uma checagem mais apurada dos dados – conseqüência de um enfrentamento político com Maggi, que contestou os números dos boletins anteriores.
Pela primeira vez, as imagens do Deter, de baixa resolução, foram comparadas a imagens do sistema Prodes, de alta resolução, o que permitiu fazer uma separação entre áreas de corte raso (onde a floresta foi completamente derrubada) e áreas de degradação progressiva (onde ainda há árvores de pé, mas a floresta já foi severamente impactada).
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Do total de 1.096 km² de desmatamento detectados em maio pelo Deter, 544 km² (cerca de 50%) foram verificados em maior detalhe com base em imagens do sistema Prodes, que tem resolução de 30 metros, comparado a 250 metros do Deter.
Resultado: 88% das áreas do Deter foram confirmadas como desmatamento, divididas em 59,5% de corte raso, 23% de degradação florestal alta e 5,5% de degradação moderada ou leve. Os outros 12%, aproximadamente, foram “falsos positivos”: áreas de floresta erroneamente detectadas como desmatamento.
Segundo o diretor do Inpe, Gilberto Câmara, o erro deve-se, na maioria dos casos, a uma “contaminação” do sinal da floresta pelo sinal mais intenso de um desmatamento adjacente, o que acaba confundindo o satélite.
Esses falsos positivos não foram excluídos dos 1.096 km² detectados originalmente pelo Deter. – Quem fez o Deter foi uma equipe e quem fez a avaliação foi outra. A avaliação só detalha o que foi detectado pelo Deter, não altera os números – afirmou Câmara.
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Ele lembra que há também o oposto: falsos negativos, áreas desmatadas que não foram detectadas. Com relação aos 23% de áreas altamente degradas, segundo Câmara, é preciso que pelo menos metade das árvores tenha sido derrubada para que isso seja computado – ou seja, para que a copa da floresta se torne tão fragmentada a ponto do solo ficar visível abaixo dela:
– São áreas realmente muito alteradas, ou o satélite não enxergaria.
Otimismo
O desmatamento detectado em maio foi apenas ligeiramente menor do que o registrado em abril deste ano (1.123 km²) e em maio de 2007 (1.222 km²). A comparação entre meses, porém, deve ser feita com algumas ressalvas técnicas e ambientais.
A principal delas é a variação na cobertura de nuvens, já que os satélites não “enxergam” através delas. A área desmatada no Pará, por exemplo, saltou de 1,3 km² em abril para 262 km² em maio, principalmente por causa das nuvens. No primeiro mês, só 11% do Estado estava visível, comparado a 41% no mês seguinte.
No total, 46% da Amazônia estava encoberta em maio, comparado a 53% em abril. Em vista disso, Câmara avalia a queda no desmatamento como um sinal positivo, ainda que tímido, de que o ritmo de destruição da floresta pode estar diminuindo:
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– Enxergamos uma área maior, incluindo todo o Arco do Desmatamento, e ainda assim a área desmatada foi menor. É algo que me deixa esperançoso.
A mesma ressalva de nuvens precisa ser feita com relação à comparação do acumulado de 12 meses.
– As condições de observação esse ano tem sido muito melhores do que no ano passado, o que influencia muito nos números – explica o coordenador do Programa Amazônia do Inpe, Dalton Valeriano.
– O ideal é olhar isso dentro de uma curva de vários anos – completa.
O desmatamento detectado pelo Deter no período de junho a maio dos últimos quatro anos, começando em 2004, foi de 13.278 km², 10.628 km², 3.543 km² e 7.666 km².
O boletim de junho do Deter deverá ser divulgado no fim deste mês. A estatística anual oficial (do período agosto-julho), calculada pelo Prodes, só fica pronta no fim do ano, e incluirá apenas as áreas de corte raso.
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