Deslizamentos e enchentes atuais são desastres construídos pela sociedade, diz geólogo

O grave deslizamento na BR-376, na divisa entre Santa Catarina e Paraná, e os alagamentos em diversas partes do Estado são resultados da ação humana, segundo avaliação de especialistas. O geólogo Juarês José Aumond, professor da Universidade Regional de Blumenau (Furb), afirma que desmoronamentos de terra e enchentes são desastres que acontecem por erros cometidos por pessoas durante fenômenos naturais comuns, mas que eles podem ser evitados.

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Para Aumond, é incorreto classificar estragos causados pela chuva em estradas e regiões urbanas como desastres naturais, visto que as áreas sofreram modificações e interferências dos seres humanos. A partir desta visão, ele afirma que o Brasil possui poucas situações de prejuízos que realmente são promovidas pela natureza.

— Desastres naturais só ocorrem quando tem terremotos, fenômenos vulcânicos. A maior parte dessas tragédias que nós estamos vendo são desastres construídos pelo homem — argumenta o professor.

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Apesar de ocasionados pelas fortes chuvas desde sábado (26), os atuais alagamentos e deslizamentos em Santa Catarina estariam ligados ao uso inadequado do espaço, de acordo com o geólogo. Ele relembra que áreas de planícies inundáveis próximas aos rios, como no Vale do Itajaí, são locais que não deveriam ter sido habitados, pois naturalmente servem para dar vazão às cheias.

Além disso, as tentativas para controlar os fenômenos da natureza e a geografia local podem causar mais prejuízos à população. Um exemplo dado por Aumond é retificação do rio Itajaí-Açu, que alterou a bacia hidrográfica local, provocando maior velocidade das águas gerando mais erosão e a perda de residências no entorno após o aumento do nível do rio.

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— A memória das pessoas não resgata. As pessoas acham que podem continuar dominando a natureza quando nós temos que nos adaptar à natureza. A natureza está aí há milhões de anos, em dinâmica contínua, se adaptando, porque cria processos contínuos de adaptação. Nós, humanos, chegamos ontem aqui e já queremos ir dominando tudo. Não podemos seguir tentando dominar a natureza — destaca.

O geólogo ainda aponta que os desastres provocados por humanos poderiam ser evitados, mas é necessário investimentos e preparo para lidar com situações comuns à natureza. Ao citar o deslizamento que deixou ao menos 20 veículos soterrados na BR-376 na segunda-feira (28), o especialista afirmou que esse tipo de desastre não afeta outros países com a mesma frequência que ocorrem no Brasil.

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— Qualquer situação é uma questão de investimento e técnica adequada. Você vê esse tipo de desastre na Europa? Muito pouco. Aqui, as empreiteiras faziam o suficiente para justificar o contrato, mas as rodovias não conseguem conter o escorregamento quando há uma situação delicada como a que temos na subida de Garuva a Curitiba. Uma rodovia que sobe a serra não é fácil, tem uma declividade muito elevada.

Chuva continua nos próximos dias

A previsão do tempo para Santa Catarina indica que quarta-feira (30) também será de chuva significativa, segundo Marcelo Martins, meteorologista da Epagri/Ciram. As regiões mais impactadas pela precipitação ainda devem ser o Litoral Norte, a Grande Florianópolis, Baixo e Médio Vale do Itajaí.

— Vai gradativamente melhorando de quinta (1º) para sexta-feira (2), quando a chuva vai dar uma boa trégua — adiantou Martins.

Os grandes volumes de chuva estão relacionados com um sistema de baixa pressão sobre o oceano que também possuem uma continuação do sistema entre os médios e altos níveis da atmosfera, entre 5 mil e 10 mil quilômetros de altitude. Favorece o aporte de umidade do oceano junto à costa e resulta nessas chuvas volumosas.

Veja o vídeo do deslizamento de terra na BR-367:

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