O futebol deu ao Brasil, após ter conquistado cinco vezes a Copa do Mundo e a revelação de grandes craques, o reconhecimento mundial como um dos países do futebol. No entanto, apesar da diversidade étnica dentro das quatro linhas, não há uma pluralidade em relação aos responsáveis pelos cargos de comando. Essa falta de diversidade nas áreas que comandam o espetáculo futebolístico foi tema de pesquisa no Centro de Desportos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
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O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do acadêmico Filipe Cardoso Rodrigues, apresentado em 22 de julho, tem como título “Desigualdade racial nos comandos do futebol brasileiro: Uma análise de discursos de personalidades do esporte”. O TCC é resultado da análise de 40 depoimentos de diferentes personalidades sobre a baixa representatividade negra em cargos de comando no futebol brasileiro. Foram analisados discursos de jogadores, ex-atletas, treinadores, jornalistas esportivos, dirigentes, especialistas na área social.
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O estudante, que obteve nota máxima com louvor, conta que a escolha do tema se deu a partir da provocação de que deveria buscar alguma inquietação pessoal. Por ser uma pessoa negra que acompanha o futebol brasileiro e conhecer pessoalmente atletas afrodescendentes que tiveram oportunidades negadas dentro do esporte no país, dedicou-se a pesquisar o assunto.
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Acessibilidade a cursos de qualificação
Para o acadêmico, parecia curioso que num país de maioria negra, onde mais de 56% das pessoas se autodeclaram pretas ou pardas de acordo com o IBGE, o número de baixa representatividade negra em cargos superiores no futebol não refletisse a realidade.
– Atualmente, nós negros estamos reféns da sensibilidade de dirigentes brancos para entender todo o contexto histórico. A grande maioria desses dirigentes negligencia o fato de que as oportunidades não são iguais para pessoas negras e pessoas brancas – diz.
Para mudar o panorama atual, sugere, é necessário que sejam feitas políticas de ações afirmativas que tenham como objetivo incluir pessoas negras em cargos administrativos, de gestão e direção dentro das instituições. Também é possível sugerir que haja uma maior acessibilidade aos cursos que qualificam os profissionais a se tornar treinadores ou gestores no futebol brasileiro, visto que esses cursos não custam barato.
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Ainda assim, Filipe não acredita que com um maior número de representantes negros em cargos de comando dentro de entidades esportivas possam coibir os casos de racismo que presenciamos dentro e fora dos estádios.
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– O racismo não vai acabar. Mas é possível acreditar que com um maior número de representantes negros nesses cargos de comando, pessoas que sentiram o racismo, pode haver uma maior sensibilidade e aumentam as probabilidades de que campanhas efetivas sejam elaboradas para conscientizar os torcedores e, consequentemente, reduzir os casos de racismo e de injúria racial no esporte e fora dele – pontua.
Elite nacional tem apenas um técnico negro
O acadêmico usa a atual situação de técnicos negros no futebol brasileiro para explicitar uma realidade desafiadora. No final do ano passado, enquanto ele pesquisava, Roger Machado e Marcão, estavam em evidência. Marcão fazia boa campanha no Fluminense, mas voltou para o cargo de auxiliar técnico. Roger Machado foi contratado pelo Grêmio e disputa a segunda divisão.
– Hoje, empregado na Série A, só temos o Jair Ventura de técnico que não é branco – cita.
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Jair Ventura começou o ano treinando o Juventude, de Caxias do Sul (RS), mas foi demitido ainda durante o Campeonato Gaúcho. Pouco tempo depois, foi contratado pelo Goiás e vem fazendo um trabalho acima das projeções do clube para a temporada. Filipe explica:
– O técnico negro mais representativo que tenho conhecimento no futebol catarinense é o Hemerson Maria, o qual teve algumas passagens por Avaí, Criciúma, Figueirense, Joinville e há poucos meses estava na Tombense, de Minas Gerais, que está jogando a série B desse ano. Na Série B também tem o Hélio dos Anjos, comandando a Ponte Preta, de Campinas (SP).
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O acadêmico usa a atual situação de técnicos negros no futebol brasileiro para explicitar uma realidade desafiadora. No final do ano passado, enquanto ele pesquisava, Roger Machado e Marcão, estavam em evidência. Marcão fazia boa campanha no Fluminense, mas voltou para o cargo de auxiliar técnico. Roger Machado foi contratado pelo Grêmio e disputa a segunda divisão.
– Hoje, empregado na Série A, só temos o Jair Ventura de técnico que não é branco – cita.
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Jair Ventura começou o ano treinando o Juventude, de Caxias do Sul (RS), mas foi demitido ainda durante o Campeonato Gaúcho. Pouco tempo depois, foi contratado pelo Goiás e vem fazendo um trabalho acima das projeções do clube para a temporada. Felipe explica:
– O técnico negro mais representativo que tenho conhecimento no futebol catarinense é o Hemerson Maria, o qual teve algumas passagens por Avaí, Criciúma, Figueirense, Joinville e há poucos meses estava na Tombense, de Minas Gerais, que está jogando a série B desse ano. Na Série B também tem o Hélio dos Anjos, comandando a Ponte Preta, de Campinas (SP).
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O acadêmico usa a atual situação de técnicos negros no futebol brasileiro para explicitar uma realidade desafiadora. No final do ano passado, enquanto ele pesquisava, Roger Machado e Marcão, estavam em evidência. Marcão fazia boa campanha no Fluminense, mas voltou para o cargo de auxiliar técnico. Roger Machado foi contratado pelo Grêmio e disputa a segunda divisão.
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Jair Ventura começou o ano treinando o Juventude, de Caxias do Sul (RS), mas foi demitido ainda durante o Campeonato Gaúcho. Pouco tempo depois, foi contratado pelo Goiás e vem fazendo um trabalho acima das projeções do clube para a temporada. Filipe explica:
– O técnico negro mais representativo que tenho conhecimento no futebol catarinense é o Hemerson Maria, o qual teve algumas passagens por Avaí, Criciúma, Figueirense, Joinville e há poucos meses estava na Tombense, de Minas Gerais, que está jogando a série B desse ano. Na Série B também tem o Hélio dos Anjos, comandando a Ponte Preta, de Campinas (SP).
Pela primeira vez a CBF tem um presidente negro
Fundada em 1914 como CBD, a atual Confederação Brasileira de Futebol (CBF) é pela primeira vez presidida por uma pessoa negra em mais de 100 anos de história. Ednaldo Rodrigues, natural do estado da Bahia, assumiu o posto de maneira interina após o presidente eleito, Rogério Caboclo, se envolver em um escândalo de acusações de assédio.
Rodrigues irá presidir a instituição até o ano de 2026. Será que isso refletirá na questão de enfrentamento dessas questões raciais bastante comum no futebol brasileiro? Filipe acredita que sim. Mas com ressalvas.
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– É difícil que consiga mudar tudo sozinho. Precisa oportunizar pessoas negras dentro da CBF. Com essa união será possível acreditar que o combate à desigualdade racial tenha mais efetividade.
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Ao término do TCC, o acadêmico faz sugestões sobre o papel dos clubes na formação dos jogadores que futuramente pretendam acessar cargos de gestão.
– Os clubes são os principais agentes dessa tentativa de mudança de mentalidade, pois possuem o poder de influenciar os torcedores. Como uma boa parcela das pessoas que assumem cargos de comando no futebol brasileiro são ex-jogadores, é possível sugerir que os clubes incentivem atletas e ex-atletas a acessarem cursos profissionalizantes para a área, seja fazendo parcerias com instituições que ministrem os cursos, ou até mesmo financiando esses cursos – indica.
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As pessoas entrevistadas concluem que entre os principais fatores relacionados à baixa representatividade negra em cargos de comando estão aqueles ligados aos aspectos históricos que desencadearam a desigualdade social no país. O principal aspecto histórico é resultado do período pós-escravidão onde os negros, antes escravos, não foram oportunizados com políticas de inclusão na sociedade.
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A sequência quase que monárquica de comando nas instituições esportivas brasileiras também foi um fator citado porque é muito comum ver descendentes europeus em cargos de comando no Brasil, mas é raro ver um brasileiro (sem descendência) ocupando cargos diretivos.
– Tudo isso está ligado a esse racismo que foi estruturado e sistematizado pela sociedade brasileira para acontecer de forma sutil, sem causar alarde – pontua.
Camiseta com símbolos antirracista e perdas de pontos para clubes
Entre terça-feira, dia 23, e domingo, dia 28 de agosto, nos jogos das séries A e B do Brasileiro, e na Copa do Brasil – um símbolo antirracista foi estampado nas camisas dos clubes. A ação aconteceu na semana em que autoridades políticas, dirigentes e personalidades se reuniram para debater o ódio e a violência no futebol.

Com o apoio da Fifa e da Conmebol, a CBF organizou o Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol, no Rio de Janeiro. O evento teve a participação do cantor e compositor Gilberto Gil, além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e do presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, Mizael Conrado.
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– Não podemos fechar os olhos para o racismo e a violência no futebol. Se não quisermos ser parte do problema, temos que ser parte da solução. A CBF precisa estar à frente do debate – assegurou o presidente da CBF, Enaldo Rodrigues.
Entre as ações apresentadas esteve o Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol. Há oito anos, o Observatório da Discriminação Racial no Futebol vem catalogando casos de racismo, homofobia, xenofobia e machismo no esporte. A pesquisa é organizada por Marcelo Carvalho, diretor e fundador do Observatório da Discriminação Racial no Futebol. Pela primeira vez, em 2022, o relatório teve apoio logístico e financeiro da CBF.
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O levantamento deste ano tem farta documentação, registros feitos em estádios no Brasil e no exterior. Além de apoiar a pesquisa, a CBF se comprometeu defender maior rigor nas penas: perda de pontos para os clubes onde houver atos racistas e portões fechados nos jogos seguintes.
Veja entrevista com o ex-jogador Paulo Cezar Caju:
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