O designer Rubens Leopoldo Behnke, 57 anos, ainda se emociona quando fala do trabalho na fábrica da Busscar, em Joinville. Trabalhou lá por 18 anos e se orgulha do ambiente que havia entre os colegas que hoje estão espalhados pela região Norte de Santa Catarina. Hoje, Behnke é reconhecido em outra área. Não mais na montagem de ônibus que transportam dezenas de pessoas de uma só vez. Agora, ele próprio é a linha de montagem de dois equipamentos que transportam uma, no máximo duas ou três pessoas de cada vez, mas que exigem o mesmo cuidado em cada detalhe, do desenho ao acabamento.
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Behnke é conhecido em todo o País, junto com o irmão, Renato, cinco anos mais novo, pelas canoas canadenses e pranchas de stand up paddle que produz.
Nos fundos da casa onde mora, no bairro Amizade, em Jaraguá do Sul, ele montou uma pequena marcenaria e é onde passa os dias, desenhando, cortando, colando, montando, pintando e lixando madeiras nobres, que se transformam em peças de arte.
As canoas canadenses são inspiradas nas indígena, que eram construídas nas tribos da atual fronteira entre o Canadá e os Estados Unidos, os montes Apalaches.
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Como não há matéria prima idêntica à usada no Canadá, Behnke usa duas das madeiras brasileiras mais importantes e leves: o marupá e o cedro rosa. São árvores cuja extração é controlada pela Ibama e não são nada fáceis de encontrar legalmente em madeireiras da região. O marupá e o cedro rosa são usadas para produzir brinquedos, guitarras, violões e na indústria naval.
– Tenho alguma dificuldade em conseguir essas madeiras. Mas é tudo de acordo com a lei. Por isso garanto a qualidade do que faço – diz.
As resinas, tintas e a lona usadas para fazer a embarcação são, na maioria dos casos, importadas. A técnica foi aprendida por Renato no período em que morou nos Estados Unidos. Ele fez um curso e chegou a trazer uma das canoas no avião para o Brasil. O material é tão leve que uma criança levanta sem dificuldades a canoa. Uma das técnicas envolvidas é conhecida como skin on frame (péle sobre o quadro, numa tradução literal). É um método que consiste em montar estruturas de madeira só com amarras, ou seja, sem pregos. A estrutura é montada com madeiras leves, que são amarradas com cordas de alta resistência. Depois de montado o esqueleto, o barco é coberto com um tecido sintético (os índios cobriam com couro de animais) e selado com tintas e resinas, tornando a canoa impermeável e resistente. O método resulta em um barco forte, durável e, acima de tudo, leve.
Pranchas com mais estilo
As pranchas montadas em madeira são verdadeiras mini-asas de avião. A estrutura é muito parecida, com um esqueleto em madeira estruturada e a cobertura com madeira, resina e tintas. O projeto fica um pouco mais pesado do que as pranchas de material sintético, mas dão maior estabilidade e durabilidade.
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– Os modelos são idênticos às pranchas dos Estados Unidos, só que adaptadas para o perfil do brasileiro, que gosta mais de desing, cores, estilos – diz Behnke.
Por enquanto, o designer não tem loja nem exposição de produtos. Criou uma empresa e faz tudo sob encomenda. Assim, no boca a boca, já vendeu até para fora do Estado.
– Tudo é pelo boca a boca. As pessoas vão sabendo e indicando – diz, enquanto prepara um barco e uma nova prancha.