Sobre os pavers da Rua XV de Novembro não há camarote. Embora as varandas de apartamentos e marquises tenham status de lugar privilegiado para assistir ao desfile, é em meio ao povo que as pessoas querem estar. Amontoado como geraldinos do Estádio Aderbal Ramos da Silva nos anos 1980, o público tenta encontrar o melhor lugar para ver passar pela Wurststrasse alegorias, pessoas jeitosas e, obviamente, milhares de litros de chope. Lá, os objetivos são distintos – embora por vezes até se misturem: fazer um esquenta para a Oktoberfest, ver a beleza do evento, pleitear cerveja de graça esticando nem tão cautelosamente assim o caneco em direção à rua. Vale tudo em meio àquele que, para muitos, é o abre-alas da festa.
Continua depois da publicidade
A XV vira uma apoteose germânica e o desfile, sem dúvidas, é uma mostra da alegria que a Oktober proporciona. Só ela é capaz de trazer uma farra em meio ao congestionamento formado não apenas por carros (alegóricos, claro), mas também por pedestres. Ninguém se incomoda em demorar uma hora para atravessar o 1,3 quilômetro de extensão da via. Aliás, nas quartas-feiras e sábados de outubro, há um antagonismo: quanto mais tempo você demorar para ir de uma ponta a outra da rua, melhor.
Confira mais notícias sobre a Oktoberfest
Trajada tipicamente, Waleska Kienen Grahl está debutando nos desfiles e participa pela primeira vez das cerimônias de Oktoberfest. O problema é que ela não consegue ficar acordada por muito tempo e mesmo com o som das percussões, gritos e subwoofers tomando conta, tira uma bela soneca em seu veículo particular. Com apenas seis meses no mundo, ela com certeza não entende aquilo que se passa em volta, mas carrega consigo uma história familiar que vai além de ser apenas mais uma em meio à folia. Ao lado da mãe e do pai, Valquiria Kienen Grahl e Waldemiro Grahl Júnior, ela é levada em um desses carrinhos de puxar que eram comuns décadas atrás, o mesmo onde deitaram seu avô e seu pai.
– Foi um carrinho feito para que meu bisavô pudesse puxar o meu avô para lá e para cá na roça. Depois os primos usaram para brincar e acabou ficando na família – conta Waldemiro, que reformou o brinquedo para que fosse usado pela pequena Waleska.
Continua depois da publicidade
É difícil não se perder entre tantos wagens e um deles, o Wurstwagen, traz uma ligação peculiar e defumada com a Rua XV de Novembro. Chamada antigamente de Rua da Linguiça (por isso o “Wurststrasse” no começo deste texto), o carrinho é um amontoado de enchidos dos mais variados tipos. A música que compõe o rebolar dos embutidos pendurados cuidadosamente na lateral o ressalta como o prato principal da festa.

Lá estão Cesar e Jacqueline. Ao olhar normal, eles podem parecer apenas um casal comum – e talvez até sejam –, mas um detalhe na história chama a atenção: recém-casados, eles foram desfilar algumas horas depois de voltar da lua de mel na Alemanha – onde, obviamente, estiveram pela Oktoberfest de Munique. Dorzinha de cabeça pós-ingestão de alguns litros de chope? Nein, nein. Mal colocaram os pés no Brasil e o traje típico já estava a postos esperando para ser colocado.
– Jet lag, noite mal dormida no voo de volta, esperar quase cinco horas uma conexão em São Paulo, dirigir de Florianópolis até Blumenau. Nada diminuiu a adrenalina de estarmos prontos, felizes e cantando no primeiro desfile da Oktoberfest. Quando rolou o sorteio e ficamos sabendo que chegaríamos a tempo, olhamos um para o outro e demos um sorriso – relata o eufórico Cesar, que chegou à cidade ao lado da esposa apenas três horas antes de começar o desfile.
Àqueles que ainda não reservaram neste ano uma horinha de suas vidas para curtir a parada da Oktober, ainda há tempo: hoje, às 19h30min, e sábado, às 16h, as alegorias, homens e mulheres bem-apessoados, bandinhas e alegria contagiante tomarão conta novamente da Rua XV de Novembro. Uma boa opção para terminar um exaustivo dia de labuta ou então abrir os trabalhos do fim de semana. Que tal?
Continua depois da publicidade