Evento tradicional no calendário de Lages, na Serra catarinense, a Festa Nacional do Pinhão é um marco para a cultura da cidade. A realeza é parte fundamental da festa, e as roupas da rainha e das princesas estão entre os itens que mais geram expectativa e curiosidade no evento. Neste ano, os vestidos tiveram um diferencial, pois contaram com o toque artístico de alunos de uma escola municipal de Lages.
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A ideia partiu da estilista Ana Lopes, que estreou como responsável pelos figurinos da festa em 2022. A empresária do La Unica Ateliê conta que desde 2005 as roupas são feitas na empresa da família, mas, até a última edição, quem assinava as peças era a estilista Berenice Omizzolo, mãe da Ana.
— Minha mãe faz os vestidos da festa desde 2005, no geral acho que foram cinco vezes que a gente não fez. Nesse ano ela passou o bastão para mim e eu sempre tive a vontade de envolver a comunidade nesse processo. Tive a ideia de colocar o desenho das crianças como uma forma de inclusão mais lúdica — afirma a estilista.
Para que a ideia fosse colocada em prática, Ana teve o apoio da Secretaria de Educação da cidade que, por meio da titular da pasta, Ivana Michaltchuk, sugeriu que fosse feito um concurso cultural para selecionar os desenhos que iriam para as roupas.
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— Inicialmente eu queria escolher uma turma de alguma escola e os desenhos seriam feitos por aquelas crianças. Mas, com o concurso, vários alunos desenharam e um grupo formado por sete jurados selecionou alguns desenhos — explica Ana.
O local escolhido para a seletiva foi a Escola de Educação Básica (Emeb) Mutirão, localizada no bairro Habitação. No mês de abril, após a escolha da rainha e das princesas da festa, centenas de crianças começaram a trabalhar a criatividade e elaborar os desenhos. A intenção inicial era escolher 20 trabalhos, mas, por causa do grande engajamento, o número de selecionados subiu para 34.
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Após a seleção dos desenhos, foi iniciada a transformação dos trabalhos nos bordados que iriam compor os vestidos da realeza. Já no mês de maio, as crianças fizeram uma visita ao ateliê e, segundo a estilista, um dos momentos de maior expectativa para a equipe foi o encontro dos pequenos artistas com os materiais prontos.
— Eu confesso que estava com medo de eles olharem os bordados e não idenficiarem [os desenhos]. Mas, eles gostaram, reconheceram os desenhos e depois disso fizemos um evento no Teatro Marajoara para homenagear as crianças, com a intenção de que eles se sentissem realmente os verdadeiros artistas — afirma.
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Incentivo à cultura e aproximação da família
Para a direção da escola, a iniciativa foi um incentivo ao tema cultural que já é trabalhado em sala de aula e veio como uma forma de aproximar ainda mais as famílias da dinâmica educacional dos alunos do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental.
— Quando a Ana chegou com a proposta para nós, de cara a gente já topou. Nós trabalhamos esse tema em sala de aula e participar desse projeto pela primeira vez foi muito bom. Foi um trabalho que desenvolveu a criatividade dos alunos, engajou as crianças, trouxe a família para perto e mexeu com muitos sonhos — relata Cláudia Beloto, diretora da Emeb Mutirão Lages.
Segundo os relatos ouvidos pela diretora, um dos momentos mais marcantes para os alunos foi o reconhecimento recebido durante o evento no teatro.
— Tenho certeza de que os reflexos desse concurso vão durar por anos e em alguns dos alunos ficará marcado para a vida toda. Um deles me disse recentemente: “Diretora, pela primeira vez eu me senti importante quando charamaram meu nome” — conta Cláudia.
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Seguindo a temática das tradições da cidade, as crianças aprenderam mais sobre a simbologia da gralha-azul, do pinhão e da Araucária.
— Eu desenhei uma gralha dentro do pinhão. Achei muito legal e fiquei muito feliz de ter participado — disse Evelin Sefarim, de 11 anos, que é aluna do 5º ano.
Para outro aluno do 3º ano, a sensação de ver o desenho bordado causou muita alegria.
— Eu desenhei a gralha, a araucária e o pinhão e quando eles me mostraram pronto, eu olhei eu fiquei muito feliz. A minha família inteira ficou muito orgulhosa — conta Paulo Henrique Rodrigues, que tem oito anos.
Valorização e resgate dos trabalhos manuais
Além dos bordados, nesta edição da Festa do Pinhão, os vestidos da rainha Raíssa Freitas Wiggers, da primeira princesa, Natália Ribeiro Heineck, e da segunda princesa, Caroline Maria de Lima, têm veludo, crochê e macramê.
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— Nesse ano a gente usou o veludo na construção dos vestidos, temos o corselet e a saia em veludo. Para o vestido da rainha, a inspiração foi o formato da pena da gralha e o vestido das princesas fizemos como se fosse a copa do pinheiro. Usamos trabalhos manuais e as flores de fita para complementar os bordados das crianças — disse Ana.
Para a composição dos vestidos, a estilista teve o auxílio de artesãs da cidade que elaboraram as partes de crochê e macramê das roupas. Helenita Heinzen, Marizilda Heinzen Coelho e Maria Isabel Heinze, responsáveis pelo ateliê Tramas e Manhas, ressaltam a importância de resgatar o trabalho das peças feitas à mão.
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— Estamos muito gratas por fazer parte dessa história dos vestidos da realeza da Festa do Pinhao de 2022. É muito gratificante saber que por onde elas passarem estarão levando um pouco de nós e da nossa dedicação, afinal fomos nós que fizemos aquele trabalho. O resgate do que é feito a mão e do artesanato foi algo novo nos vestidos que também reforça o resgate de histórias e das tradições — diz Isabel Heinze.
Segundo a artesã, durante o processo de produção um dos principais desafios foi correr contra o tempo.
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— No processo, foram feitos experimentos que não deram certo, aí o tempo corria e nós corríamos atrás. Às vezes falta material na cidade, tem pedido de fios que demoraram para chegar — explica a artesã.
Bisneta de costureira e neta de alfaiate, Ana conta que a fascinação pela moda está no sangue.
— Não tenho como negar esse dom. Nessas últimas semanas estávamos olhando os vestidos que a minha mãe fez para a festa. O primeiro que ela fez foi na mesma cor desses meus primeiros vestidos. Foi muita coincidência — finaliza.