Dois a cada cinco jovens de 14 a 17 anos estão à procura de emprego em Santa Catarina. Os adolescentes dessa faixa etária, que podem trabalhar dentro das regras da Lei da Aprendizagem, são considerados os mais vulneráveis às crises econômicas e representam hoje no Estado o grupo em que há maior taxa de desocupação. Além do grande volume proporcional de pessoas procurando trabalho nessa idade, o índice entre os jovens catarinenses foi o que mais cresceu no país desde 2012 conforme números do IBGE.
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De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) trimestral, o desemprego nesse grupo apresentou um avanço de 143% de 2012 até o começo desse ano. O crescimento foi o maior para o período entre todos os Estados. No país, o aumento médio foi de 82%. Historicamente, a faixa dos 14 aos 17 anos é a que apresenta o maior nível de desocupação, mesmo nos países desenvolvidos, segundo o coordenador de Trabalho e Renda do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos Henrique Leite Corseuil. Em Santa Catarina, a realidade não é diferente.
No primeiro trimestre de 2012, o desemprego no Estado atingia 4,1% da força de trabalho total, mas entre as pessoas de 14 a 17 anos, a taxa era de 17,3%. Nos primeiros três meses deste ano, a desocupação bateu recorde entre os catarinenses e atingiu o índice de 7,9%. Entre os adolescentes, contudo, alcançou 42%, o que representa 49 mil jovens desocupados. Para a pesquisa, o IBGE considera desocupado quem está efetivamente procurando trabalho.
– Essa é a faixa de idade que tem maior sensibilidade aos ciclos econômicos. E um dos motivos é que o desemprego não cresce só por demissão, mas porque há também redução de contratação. Então, os jovens que vão entrando no mercado de trabalho acabam não sendo absorvidos. Além disso, quando há demissão, sai mais barato dispensar o trabalhador que está há menos tempo – explica Corseuil.
Outro fator é que a falta de experiência, uma barreira natural para quem está em busca do primeiro emprego, torna-se um empecilho maior em recessões, conforme Cimar Azevedo, coordenador de trabalho e renda do IBGE:
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— O jovem na fila de desocupação, em condições normais, já fica atrás. À medida que o desemprego aumenta para todos, quem entra nessa fila são pessoas experientes, que saem na frente dos mais novos.
Para o estudante Vinicius Hortêncio, de 16 anos, a falta de experiência é o principal fator dificultador na hora de conseguir emprego. Há cerca de 12 meses, ele procura o primeiro emprego. Por isso, virou frequentador assíduo do Centro de Integração Empresa Escola (CIEE). O jovem começou a busca por trabalho por sugestão da mãe, mas agora tem um motivo a mais: o primeiro filho nasceu há um mês.
— Não tenho preferência, pode ser qualquer trabalho — diz.
Menos tempo na escola gera impacto social
De acordo com Azevedo, adolescentes que em condições econômicas normais estariam apenas estudando, acabam entrando para a força de trabalho porque o pai perdeu o emprego ou porque precisam ajudar na renda familiar quando as contas ficam mais apertadas em casa.
Segundo o pesquisador do IBGE, esse fenômeno tem um custo social, já que pode impactar na qualidade dos estudos ou resultar em evasão escolar. Para o economista e supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em Santa Catarina, José Álvaro Cardoso, a entrada prematura no mercado de trabalho tende a ser algo negativo.
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— Na maioria dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), as pessoas têm o primeiro emprego bem mais tarde. A média na Europa é de 25 anos. No Brasil, esse cálculo é de 14 ou 15 anos. O custo é uma escolaridade menor ou de qualidade inferior. E isso é determinante na vida do jovem.