Uma nova descoberta sobre a vida na Terra há milhões de anos foi anunciada por pesquisadores de Santa Catarina nesta semana. Trata-se de uma nova espécie fóssil do pterossauro, um réptil voador que viveu entre 110 e 80 milhões de anos atrás, e que foi encontrada no sítio paleontológico de Cruzeiro do Oeste, uma pequena cidade do interior do Paraná.

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O material foi coletado por uma equipe do Centro Paleontológico da Universidade do Contestado (Cenpaleo), em Mafra, Norte de Santa Catarina, coordenados pelo professor e pesquisador Luiz Carlos Weinschütz. Ele recebeu o nome de Keresdrakon vilsoni.

Esta é a quarta grande descoberta feita no mesmo local com apoio da equipe catarinense. Em 2014, foi divulgada a descoberta de fósseis de outra espécie de pterossauro, nomeada Caiuajara dobruskii. Um ano depois, anunciaram a descoberta do lagarto Gueragama sulamericana, e em junho de 2019, foi publicada a descoberta do dinossauro Vespersaurus paranaensis.

Nada disso teria acontecido se, há quase 50 anos, um agricultor tivesse se deixado levar pela opinião dos vizinhos e ignorado a ossada que encontrou quando tentava melhorar o caminho por onde passava com a carroça. Em 1971, Alexandre Dubroski e seu filho João cavavam a terra em uma área úmida quando acharam ossos que não se pareciam com de nenhum animal que eles conheciam.

Apesar de mais ninguém na comunidade de Cruzeiro do Oeste acreditar que aquilo tinha valor, Alexandre enviou o material para a Universidade de Ponta Grossa. Ele ficou lá arquivado por décadas, até que, em 2011, Weinschütz e o pesquisador Paulo Manzig o encontraram durante as pesquisas para produção de um livro sobre os fósseis da região Sul do País.

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— Meu colega reconheceu os ossos que poderiam ser de pterossauro, e ele sabia que não tinha esse tipo de ocorrência na região Sul do Brasil. Fomos até Cruzeiro do Oeste, conhecemos o neto do seu Dubroski, e descobrimos o local de onde ele tirou aqueles ossos — recorda Weinschütz, que coordena o Centro Paleontológico da Universidade do Contestado desde 2015.

A universidade de Mafra assumiu a escavação na cidade paranaense, que fica a cerca de 550 quilômetros de distância. Foram feitas quatro etapas de escavação, entre 2012 e 2014, o que gerou algumas toneladas de blocos de rocha que foram transportados para Mafra. A partir delas, foi possível realizar todas estas descobertas. A mais recente, o Keresdrakon Vilsoni, é uma espécie maior do que a do pterossauro encontrado anteriormente e, segundo o pesquisador, está em excelente estado de preservação.

— Ela abre uma perspectiva bem legal para a ciência, porque [o sítio de Cruzeiro do Oeste] é um dos raros locais do mundo onde tem várias espécies de animais de grande porte fossilizadas juntas. E isso facilita para interpretar o ambiente e como viviam os animais da época — explica ele.

Weinschütz explica que uma possível interpretação para que estas espécies diferentes tenham seu "cemitério" em uma cidadezinha do Paraná é que, na época em que viveram, a região Noroeste do Paraná, o Oeste de São Paulo e do Mato Grosso eram um grande deserto. Por isso, estas espécies viviam em torno de um lago de onde podiam tirar água e comida. Ali morriam e, quando havia chuvas – em locais desertos, as chuvas são raras mas, quando acontecem, são torrenciais – e lavavam as carcaças dos animais mortos, levando-os para o fundo do lago.

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— Encontramos essas diferentes espécies, mas com ossos espalhados. Então, é um trabalho longo de comparação de anatomia para chegar ao que temos hoje — afirma Weinschütz.

Com as descobertas, a cidade de Cruzeiro do Oeste criou o próprio centro de pesquisas e, no futuro, deve capitanear as escavações. Para o professor catarinense, embora a ocorrência de fósseis não seja tão grande naquela região, pouco trabalho foi realizado até agora considerando o potencial do local. Há possibilidade de aparecerem outras espécies e outros organismos nas pesquisas em campo, além do que ainda pode ser encontrado no material já coletado e que ainda não foi explorado no laboratório da Universidade de Mafra.

Um "dragão" com espírito de morte

O Keresdrakon vilsoni foi um pterossauro de grandes dimensões que apresentava um bico grande e forte, comparável ao de algumas aves atuais de grande porte, como jaburu brasileiro ou o marabu africano. É possível que tivesse hábitos alimentares carniceiros (à base de corpos ou restos de animais que foram deixados por outros) e de pilhagem.

O nome foi criado a partir da junção de "Keres", que, pela mitologia Grega, são espíritos que personificaram a morte violenta e estão associados a fatalidade e/ou pilhagem; e "drakon", que, pelo grego antigo, é a palavra para dragão ou enorme serpente.

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"Vilsoni" foi dado em homenagem a Vilson Greinert, um voluntário que dedicou centenas de horas preparando a maioria dos espécimes desse "cemitério dos pterossauros" que fazem parte do acervo da Universidade do Contestado, em Mafra.

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