Enquanto a falta de leitos em hospitais públicos tem sido o grande dilema da saúde em Joinville, pois, em muitos casos, é a principal causa da superlotação de emergências e retenção de macas de ambulâncias, uma estrutura inteira de um hospital do município vizinho está desativada, à mercê do vandalismo e da falta de manutenção.
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O Hospital de Caridade de São Francisco do Sul, que era administrado pela Venerável Ordem Terceira, ligada à Igreja Católica, parou de funcionar no dia 30 de setembro do ano passado. Desde então, duas salas de cirurgia, 35 leitos pré-operatórios e de maternidade, além de 40 leitos de internação em clínica médica totalmente equipados, não recebem mais pacientes.
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Alguns poucos voluntários procuram cuidar do espaço fazendo limpeza e consertando janelas quebradas pelos vândalos. Um deles é o seu Antônio Porto, de 74 anos, que é voluntário da entidade. Ele conhece o hospital como a palma da mão. Com os olhos marejados, faz questão de mostrar toda a estrutura. Cada ambiente possui uma recordação.
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Entre os diversos cômodos que seu Antônio ajudou a reformar está a capela. Mais adiante, em meio a enormes corredores vazios e tomados pelo silêncio, com um molho de chaves nas mãos, Antônio abre as portas dos quartos e das salas de cirurgia.
– Olha aí, outra sala de cirurgia parada. Todos os equipamentos funcionam é só ligar. Isso é muito triste – lamenta.
O lençol branco e bem passado de um dos leitos ficou sujo na semana passada, quando foi invadido por ladrões. Pelo menos três televisores, dois frigobares, um chuveiro e cabos do gerador de energia já foram roubados. Um vigia está sendo pago, com a ajuda da comunidade, para cuidar do patrimônio no período noturno. Porém, os furtos ocorrem em plena luz do dia. Mesmo que os voluntários se esforcem para preservar o hospital, a estrutura é grande demais para poucas mãos.
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À procura de solução
Por isso, um grupo de 15 pessoas da comunidade, decidiu se reunir para salvar o Hospital de Caridade. Antes de encontrar alternativas para tocar o espaço é preciso quitar a dívida que já ultrapassou os R$ 3 milhões.
De acordo com Luiz Vieira, 56 anos, integrante do conselho, nesta quinta-feira haverá a sexta reunião do grupo no salão paroquial da igreja. Uma nova diretoria será empossada no dia 24, pois a atual desistiu de tocar a Venerável Ordem Terceira.
– O hospital tem muito patrimônio, por isso, contratamos uma imobiliária para avaliar as terras. Então, vamos ver o que podemos vender para quitar a dívida – sugere Luiz.
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O grupo também pretende encontrar uma vocação para o hospital que complemente o atendimento dos hospitais da região. Várias sugestões de especialidades já surgiram como hospital psiquiátrico, tratamento de câncer, geriátrico ou, por que não, um centro para dependentes químicos. O conselho procura investidores interessados pela causa não só em São Francisco do Sul, mas em municípios vizinhos. ?
Quando tudo começou
O Hospital de Caridade foi fundado em 2 de outubro de 1859, época em que a Venerável Ordem Terceira chegou à São Francisco do Sul. A primeira tentativa de tocar uma unidade hospitalar na região ocorreu em um local conhecido como Morro do Hospício, onde havia ruínas de uma igreja de pedra.
Como a estrutura já estava precária, o atendimento acabou iniciando em uma casa na Ponta da Pedreira, próximo ao Porto. Anos depois, mudou de endereço para uma segunda casa próxima ao Museu do Mar. Mais tarde, em meados de 1915, foi construído o prédio no alto de um morro, na rua Barão do Rio Branco, no bairro Acarai, onde funcionou até o ano passado.
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