Completou uma semana nesta quarta-feira (13) o desaparecimento do avião que levava três brasileiros a bordo, todos eles moradores de Florianópolis. Eles viajavam pela Patagônia, fria região no sul da Argentina, em 6 de março. O sumiço da aeronave foi confirmado na tarde daquele dia, quando foram iniciadas as buscas que hoje estão aquém do início dos trabalhos.
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Na ocasião do desaparecimento, a aeronave de pequeno porte havia partido de El Calafate, na província de Santa Cruz, com destino à cidade de Trelew, também no sul argentino, mas um pouco acima no mapa, em uma província vizinha, de Chubut. O trio do avião estava na Argentina a passeio para encontros com outros fãs de aviação.
No fim de semana anterior ao desaparecimento, eles estiveram na celebração do aniversário de um aeroclube de Comodoro Rivadavia, cidade litorânea também em Chubut. Depois disso, os brasileiros decidiram então viajar para mais ao sul da Patagônia, até El Calafate, onde visitaram outro aeroclube.
Na viagem de volta a Chubut, a aeronave partiu junto com outros dois aviões, um deles também de brasileiros, que chegaram ao destino final. Já o avião ainda desaparecido fez um último contato com um centro de controle de Comodoro Rivadavia, na região onde se concentra a procura.
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Abaixo você pode conferir uma série de perguntas e respostas elaboradas pelo Diário Catarinense para entender o que já foi e o que não foi esclarecido sobre o caso, além das razões para isso.
As buscas foram encerradas?
Não completamente. O órgão que controla o tráfego aéreo argentino, a Empresa Argentina de Navegação Aérea (Eana), estava à frente da procura, mas comunicou na segunda (11) a suspensão das buscas em larga escala.
Até então, a Eana coordenava uma operação executada pela Força Aérea Argentina com a Prefeitura Naval Argentina, autoridade marítima no país, a Armada Argentina, braço naval das Forças Armadas locais, o Exército Argentino, a Defesa Civil de Chubut e o Aeroclube de Comodoro Rivadavia.
Agora, o trabalho é empenhado pelas autoridades locais da província de Chubut, e não mais pela força-tarefa nacional, segundo confirmou o subsecretário de Proteção Civil e Gestão de Riscos da região, Jose Mazzei, em contato com a NSC na terça (12). Ele disse que isso só deve ser encerrado quando não houver mais recursos.
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Além disso, a Eana ainda se mantém em estado de alerta, conforme ela própria pontuou em seu recente comunicado e o Itamaraty reiterou em manifestação ao G1 SC sobre o caso nesta quarta.
Luego de intensos rastrillajes por tierra, aire y mar, iniciados el pasado miércoles 6 de abril, queda suspendida la búsqueda a gran escala de la aeronave matrícula PP-ZRT.
— EANA S.E (@EANAoficial) April 11, 2022
Comunicado de prensa – EANA S.E. pic.twitter.com/YO3htUsSwp
Como funcionam as buscas?
A operação de procura se dividiu pelo ar, pelo mar e por terra desde o início dos trabalhos. Também de acordo com Jose Mazzei, isso será mantido, mas não há estimativa do número de pessoas agora dedicadas no caso. Antes, enquanto havia coordenação da Eana, ele havia falado em cerca de 300 envolvidos.
O Brasil tem equipes mobilizadas nas buscas?
Não. O governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (Republicanos), afirmou, em publicação nas redes sociais na terça, ter colocado as estruturas do Estado à disposição das buscas na Argentina em apelo ao Ministério das Relações Exteriores brasileiro. No entanto, não há confirmação de que o esforço tenha sido colocado em prática até então.
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O Itamaraty afirmou que enviou um funcionário do Consulado-Geral brasileiro no país vizinho até a região de Comodoro Rivadavia. O encarregado do Itamaraty acompanhou os trabalhos das autoridades argentinas na ocasião e prestou apoio aos familiares dos tripulantes que foram até lá.
Anteriormente a Força Aérea Brasileira (FAB) já havia reiterado que, em cumprimento aos acordos internacionais de aviação, as buscas ficam a cargo do país onde ocorreu o desaparecimento, a Argentina no caso.
O que os familiares dos tripulantes dizem?
Quando foi anunciado o fim da força-tarefa pela Eana, familiares dos tripulantes fizeram publicações nas redes sociais em apelo pela manutenção das buscas.
Anteriormente, o subsecretário de Proteção Civil e Gestão de Riscos de Chubut havia dito que fazia contatos com eles de duas a três vezes por dia por chamadas de vídeo e mensagens em aplicativos para tratar sobre os trabalhos na região.
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Logo após a confirmação do desaparecimento, a filha de um dos brasileiros envolvidos no ocorrido afirmou, em entrevista ao jornal O Globo, que a família havia tentado convencer o pai a não viajar para a Patagônia, por se tratar de um lugar inóspito.
Qual a chance de haver sobreviventes?
É cada vez menor com o passar do tempo, ainda de acordo com Jose Mazzei, líder da Defesa Civil de Chubut. Ele não descartou, no entanto, essa possibilidade.
— Na medida que os dias passam, as expectativas de sobrevida diminuem. Mas é claro que sempre vamos ter esperanças de poder encontrá-los com vida. Temos tudo preparado, o sistema de saúde preparado para nos depararmos com eles com vida — afirmou Mazzei, na segunda.
Quem estava no avião desaparecido?
Estavam a bordo do avião o dono dele, Antônio Carlos Castro Ramos, empresário do ramo da construção civil de Florianópolis, junto de dois amigos, o advogado Mário Pinho e o médico Gian Carlo Nercolini, conforme confirmaram familiares ao G1 SC.
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Quem estava pilotando na ocasião do desaparecimento?
Antônio Ramos pilotava o avião, ainda de acordo com familiares. Mesmo que possa existir alguma dúvida quanto a isso, os três eram habilitados para pilotar e eram proprietários de aeronaves baseadas no Aeroclube de Santa Catarina, localizado no município de São José, na Grande Florianópolis.
Qual é o avião desaparecido?
É uma aeronave modelo RV-10, de pequeno porte. Ela foi fabricada pela Flyer Indústria Aeronáutica em 2016 e pesa 1.224 kg.

Há algo irregular com o avião?
Não. Ele era registrado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) com a matrícula PP-ZRT. A aeronave não possuía autorização para táxi aéreo, o que não era o caso, no entanto, da viagem entre amigos na ocasião do desaparecimento.
Afinal, o que aconteceu com o avião?
As autoridades argentinas à frente das buscas não comunicaram nem estimaram o que pode ter ocorrido com o avião.
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A única hipótese até aqui foi levantada por Freddy Vergnole, que preside um aeroclube em El Calafate. Ele esteve com o grupo antes da decolagem e conversou com o piloto de um outro avião que percorreu o trecho na ocasião.
Segundo ele afirmou ao jornal argentino Diario Jornada, por conta das condições meteorológicas na ocasião do desaparecimento, houve formação de gelo nos aviões que passaram pela região de Comodoro Rivadavia naquela altura, situação para a qual um avião pequeno não está adaptado.
O gelo se acumula nas asas e produz peso sobre a aeronave, além de poder danificar o motor, exigindo habilidade e rapidez do piloto para se desvencilhar da situação.

Então o avião caiu?
Não é possível dizer isso até aqui, uma vez que não foram encontrados destroços da aeronave. Pode ter ocorrido, por exemplo, um pouso forçado dos tripulantes. Por isso as autoridades da Argentina tratam o caso como um desaparecimento.
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O trio de brasileiros sabia das condições desfavoráveis?
Sim, também segundo revelou Vergnole. O grupo decolou já ciente de que as condições meteorológicas de Comodoro Rivadavia a Trelew eram desfavoráveis e previu, como alternativa em seu plano de voo, uma parada em Puerto Deseado, ainda na província de Santa Cruz, antes do trecho considerado problemático na ocasião.
No entanto, os três aviões que partiram de El Calafate desistiram da ideia de parar no meio da rota e decidiram ir direto a Trelew, o que apenas dois deles conseguiram cumprir, segundo afirmou o presidente do aeroclube à NSC TV.
Por que o avião ainda não foi encontrado?
Isso se deve, principalmente, a dois motivos: um equipamento que auxiliaria na localização da aeronave em caso de acidente não foi acionado até então, segundo indicou a Eana, e as condições metereológicas têm sido desfavoráreis paras as buscas.
O primeiro fator trata do transmissor localizador de emergência (ELT, na sigla em inglês), que é acionado pelo impacto de uma eventual queda ou pode ser ativado manualmente pelo piloto. O aparelho transmite sinais que podem ser capturados por uma base aérea, o que auxilia órgãos de busca e salvamento, e tem uso requisitado pela Anac em aeronaves civis, caso do avião agora desaparecido.
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Quanto às condições do tempo, a região onde as buscas se concentram, ao redor de Comodoro Rivadavia, tem um clima considerado adverso por autoridades locais. Desde o início das buscas, foram frequentes dias com céu encoberto e fortes chuvas, o que compromete a visilidade local e atrapalha, principalmente, a busca aérea.
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