*Por Gretchen Reynolds
Nestes tempos difíceis, a prática de exercício físico pode promover uma ajuda indispensável à saúde mental para muitos de nós. Um novo e oportuno estudo constata que, em um grupo de adultos majoritariamente saudáveis, porém sedentários, na casa dos 20, 30 e 40 anos, fazer exercício reduz os níveis de depressão, hostilidade e outros sentimentos negativos.
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O estudo também conclui que os benefícios ao humor gerados pela prática de exercício podem durar semanas depois que as pessoas param de se exercitar, outro motivo convincente para tentarmos nos movimentar, quando e onde ainda pudermos, durante essa crise de coronavírus.
Claro que há muitas evidências de que a atividade física afeta a saúde mental. Em estudos anteriores, a prática regular de exercício reduziu substancialmente os riscos de depressão clínica entre pessoas com predisposição genética para a condição e ajudou a tratar a depressão grave, caso ela se desenvolvesse. Da mesma forma, fazer exercício frequentemente alivia a gravidade dos transtornos de ansiedade, segundo outras pesquisas.
Esses estudos, no entanto, em geral analisaram pessoas com sérias condições clínicas. Pesquisas com pessoas sem transtornos do humor não têm sido realizadas de forma tão sólida.
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Estudos epidemiológicos mostraram associações entre a atividade física e níveis mais baixos de depressão, ansiedade, agressividade e outros tipos de mau humor. Mas tais estudos foram observacionais, ou seja, analisaram a vida das pessoas e encontraram relações entre exercício regular e humor flutuante. Não conseguiram nos dizer se a prática de exercício realmente fez com que as pessoas se sentissem alegres e resilientes, apenas que as pessoas ativas também tendem a ser relativamente felizes.
Sendo assim, para o novo estudo, publicado este mês na "Health Psychology", pesquisadores do Centro Médico da Universidade Columbia, em Nova York, bem como de outras instituições, decidiram produzir um dos primeiros experimentos para testar os efeitos da prática de exercício sobre a saúde mental de pessoas geralmente saudáveis, embora inativas. Eles esperavam ver, de fato, se as pessoas em geral com boa saúde mental – sem histórico de depressão, ansiedade ou outros transtornos do humor – poderiam se tornar ainda mais ajustadas e felizes caso começassem a se exercitar.
Os cientistas principiaram recrutando 119 adultos sedentários, com idades entre 20 e 45 anos, sem nenhum problema de saúde mental diagnosticado. Em laboratório, os cientistas confirmaram o estado da saúde mental deles com uma série de questionários projetados para medir seus atuais níveis de depressão, ansiedade, hostilidade e raiva.
Em seguida, os pesquisadores designaram de forma aleatória os voluntários para dois grupos. Um continuou com a vida normal e serviu como um grupo de controle. O outro começou a se exercitar quatro vezes por semana no laboratório.
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O programa de exercícios consistia em uma rotina aeróbica padrão moderada. Eles caminhavam ou corriam em uma esteira ou pedalavam em uma bicicleta ergométrica por cerca de 35 minutos em um ritmo que os deixava ofegantes. (Tecnicamente, os batimentos cardíacos foram elevados para cerca de 70 a 80 por cento da frequência cardíaca máxima de cada pessoa.)
Essa rotina foi mantida por três meses. Em seguida, os dois grupos de voluntários retornaram ao laboratório para repetir os questionários de humor, e foi solicitado aos membros do grupo que se exercitou que parassem com o exercício durante um mês e retornassem à inatividade anterior à pesquisa.
"A maioria deles não queria desistir", disse Richard P. Sloan, professor de medicina comportamental da Columbia que supervisionou o novo estudo. O grupo que se exercitou aprendeu a gostar de se exercitar, completou.
Mas eles atenderam à solicitação e evitaram a prática de exercício por um mês. Todos então responderam aos questionários de humor pela última vez, e os cientistas verificaram mudanças ao longo dos quatro meses.
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Como esperado, notaram que todos os 119 homens e mulheres haviam iniciado o experimento com saúde mental robusta. Suas pontuações mostraram que estavam bem ajustados e joviais, com pontuações de ansiedade particularmente baixas.
No entanto, o grupo que se exercitou conseguiu reduzir ainda mais seus números. Após três meses de exercício, suas pontuações gerais na escala de depressão caíram cerca de 35 por cento, uma diferença significativa em relação ao grupo de controle, cujas pontuações de depressão pouco mudaram. Os níveis de agressividade no grupo que se exercitou também despencaram. O declínio da ansiedade e da raiva foi mais sutil, mas os pesquisadores acreditam que seus voluntários iniciaram com níveis já baixos para esses sentimentos, ou seja, eles realisticamente não poderiam cair muito mais.
As melhorias de humor também persistiram. Mesmo após um mês de inatividade, o grupo que praticou exercícios físicos apresentou pontuações mais saudáveis para depressão e hostilidade do que o grupo de controle, embora os números estivessem começando a retornar aos níveis iniciais.
No geral, os resultados sugerem que "o exercício físico promove benefícios reais ao humor", mesmo que este não seja severo ou grosseiro, disse Kathleen McIntyre, instrutora em serviço social psiquiátrico que liderou o estudo.
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A pesquisa não examinou como a prática de exercício físico pode melhorar nosso humor. McIntyre, porém, especulou que os efeitos provavelmente estejam ligados tanto à fisiologia quanto à psicologia, com o exercício alterando várias vias biológicas relacionadas ao afeto e às emoções, e fazendo com que os praticantes se sintam mais capazes e empoderados.
O estudo também analisou apenas o exercício aeróbico moderado e envolveu somente adultos sem qualquer deficiência ou doença diagnosticada.
Ainda assim, os resultados têm relevância óbvia neste momento, quando muitos de nós estamos nos sentindo sobrecarregados com a pandemia e seus efeitos potenciais em nossa saúde financeira, na mortalidade, na família, nos amigos e no futuro.
"Esse estudo nos relembra de que temos essa ferramenta de enfrentamento disponível. Se você pode sair, caminhar, fazer trilhas ou correr com segurança, isso pode ajudar a diminuir os sentimentos negativos que quase todo mundo está vivenciando no momento", explicou McIntyre.
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Caso atividades ao ar livre lhe pareçam imprudentes em sua localidade, substitua-as por aulas de exercício on-line ou salte pela sala com seus filhos. "Qualquer atividade física que você conseguir fazer é ótima e pode ajudar a elevar seu espírito e o de todos ao seu redor", completou a pesquisadora.
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