Certa vez Monteiro Lobato escreveu que, para Pedrinho, abril era o melhor mês do ano. ¿Por quê? Porque não é frio nem quente e não é mês das águas nem de seca – tudo na conta certa¿. Uma metáfora de um período do ano que representa a fase de transição de um verão ao outono. De um período a outro da vida. De mudança. Mas para Bruna*, os ares do quarto mês do ano não trazem a mesma alegria implícita do pequeno Pedro. Pelo contrário. Marca o aniversário de uma situação que ela não gostaria de lembrar: a de ter depressão.
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Para ela, nada veio na conta certa. Aos 18 anos, romper com o primeiro amor – o que pode parecer algo corriqueiro nos tempos atuais – fez a garota passar a lidar com sensações diferentes. Tudo era ruim. Tudo. Chorava, não sentia fome, tinha insônia. A única coisa que queria era ficar deitada na cama, onde os problemas não a perseguissem. Levar o lixo para fora de casa era tarefa árdua e tomar banho um artigo de luxo. Queria ficar sozinha no quarto. Nada além. Isso gradativamente foi corroendo a jovem que, consultas depois, começaria um tratamento.
Onze anos mais velha do que Bruna, Andressa* descobriu em fevereiro que estava com depressão. Logo após ser demitida de um trabalho com o qual tinha uma ligação forte, ela passou a procurar por uma nova ocupação. Não encontrou. Lá se foram três meses e os sintomas começaram a surgir. Ela tentava ignorar. Não conseguia. A doença já havia batido à porta.
– A sensação é horrível, de impotência, paralisia. Você senta no sofá e sabe que tem que fazer alguma coisa, mas não consegue. Não consegue levantar, ver perspectiva nas coisas, se questiona demais, se acha fraco, impotente. É como se existisse uma bolha em volta, fazendo com que você se sinta como se estivesse em um mundo paralelo – relata.
– Tinha dias que eu pensava ¿meu Deus, como vou levantar da cama¿. Acordava e dizia que não queria levantar. Queria fugir da realidade, sem encarar o dia. É algo tenso. Você não se sente pronto para enfrentar o que vai acontecer dali para frente. Eu só dormia, sem conseguir descobrir como sair. Nunca imaginei passar por isso – complementa.
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Casos como o dessas duas mulheres serão debatidos a partir de hoje em Blumenau durante a 1ª Jornada Blumenauense de Psiquiatria e Saúde Mental. Por afetar mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo – conforme dados da Organização das Nações Unidas (ONU) – o tema depressão foi o escolhido para direcionar as palestras e mesas-redondas que ocorrerão até amanhã no Hotel Himmelblau. Depressão na infância e adolescência, relação da alimentação e da prática de atividades físicas com a doença, suicídio e tratamento são alguns dos assuntos que serão abordados. Conforme Marco Aurélio Cigognini, coordenador do Núcleo de Pesquisas em Saúde Mental, a ideia de discutir o assunto surgiu devido ao impacto que a doença causa à população.
– Estamos diante de uma doença prevalente, crônica, incapacitante e que traz um sofrimento intangível à pessoa e à família desse indivíduo e pode levar até a morte, por meio do suicídio. É isso que queremos debater, aspectos como depressão unipolar e bipolar, tratamentos farmacológicos, psicológicos – explica Cigognini.
O número de casos de depressão vem em uma ascendente. De 2005 até 2015, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o aumento foi de 18%. Só no Brasil a doença atinge 5,8% da população – próximo de 11,5 milhões de pessoas –, o que coloca o país em primeiro lugar no ranking da América Latina. E há um assunto paralelo: se contarmos os distúrbios relacionados à ansiedade, esse número é ainda maior. São 18,6 milhões de brasileiros, o que corresponde a 9,3% dos habitantes do país.Serviço
– O quê: 1º Jornada Blumenauense de Psiquiatria e Saúde Mental.
– Quando: Hoje das 18h30min às 20h e amanhã das 8h às 18h.
– Onde: Hotel Himmelblau, em Blumenau
– Quanto: R$ 100 (estudante antecipado), R$ 120 (estudante que comprar na hora), R$ 250 (profissional antecipado), R$ 300 (profissional que comprar na hora).
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* Nomes foram trocados para preservar identidade das entrevistadasNúmeros crescentes