Apesar de ter sido destituído há dois meses, o “imperador do norte” do Afeganistão, Ata Mohamad Noor, se senta confortavelmente em uma poltrona do palácio, sob a foto do presidente Ashraf Ghani, com quem poderá disputar as presidenciais de 2019.
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Desde que Ghani decidiu destituí-lo, o governador de Balj, no norte do Afeganistão, se tornou um político em voga e um possível candidato às eleições previstas em 2019.
A destituição foi anunciada em 18 de dezembro, mas Noor se nega a abandonar o cargo de governador que ocupa desde 2004. Um posicionamento que gerou uma crise da qual o governo de Cabul, apoiado pelos Estados Unidos, teria prescindido de bom grado em um momento de recolhimento pela recente onda de atentados violentos.
“Acham que sou uma ameaça séria para as eleições de 2019”, afirma Noor à AFP enquanto se acomoda na poltrona e seus partidários disputam a honra de segurar o pakul (chapéu tradicional).
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“Sou muito honrado, por isso as pessoas confiam em mim. Sou uma grande preocupação para meus adversários, que tentaram me afastar”, acrescenta.
A opinião pública critica a decisão de Ghani por considerar que carece de argumentos. E, no entanto, o novo governador nomeado em substituição, Mohamad Daud, se encontra bloqueado em Cabul e está proibida a estância em “sua” cidade Mazar-e-Sharif.
Ao invés de enfraquecer Noor, um potencial adversário, Ghani o impulsionou – sem querer – a nível nacional.
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“Me sinto realmente muito feliz de ter feito coisas boas e de que as pessoas gostem de mim”, afirma este carismático veterano da guerra contra os soviéticos, vestindo uma túnica tradicional preta que combina com as botas.
– Medo de violência –
Durante semanas, os negociadores de Ghani e os do partido de Noor, o Jamiat-e-Islami, de maioria tajique, tentaram resolver o conflito cujas origens se remontam aos polêmicos resultados das presidenciais de 2014.
Ghani, pertencente à maioria pachtun, passou a ocupar a Presidência em detrimento de seu rival do Jamiat, Abdullah Abdullah, nomeado “chefe do Executivo” em virtude de um acordo facilitado por Washington.
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Mas o Jamiat considera que Ghani não cumpriu com a sua parte no acordo e reclama maior protagonismo para os partidos nas eleições legislativas previstas, teoricamente, para este ano.
As conversas não dão frutos e a Casa Branca teme que a situação degenere em violência.
“Se Ghani responder (aos nossos pedidos), é claro que imediatamente acabaremos com esta disputa”, assegura Noor. Mas “se não as aceitar (…) poderíamos nos mostrar menos flexíveis”.
– ‘Aqui há paz’ –
No Afeganistão as forças de segurança não conseguem fazer os rebeldes retrocederem, mas a província de Balj é relativamente tranquila e próspera.
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Alguns moradores declararam à AFP que isso se deve a Noor, um dos homens mais ricos do país. E relevam as suspeitas de corrupção que pesam sobre o conjunto dos políticos afegãos.
“Fiz muitas coisas e aqui a segurança está garantida”, afirma Abdul Jalil, sentado perto de sua carreta de tangerinas em uma rua de Mazar-e-Sharif onde, em comparação com Cabul, quase não são vistos reforços nem barreiras antiexplosivos.
O taxista Mohamad Hashem o descreve como o governador “perfeito”.
Embora sua popularidade seja indiscutível, muitos se questionam sobre suas possibilidades de vencer as presidenciais sem ser pachtun, em um país onde as afinidades políticas costumam estar relacionadas à etnia.
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“Sua rede conta com muitos pachtuns, mas não apoiarão um não pachtun”, declara uma fonte ocidental à AFP.
Se for se apresentar às eleições, Noor acredita que os votantes não irão reparar em suas raízes tajiques. A maioria dos afegãos busca, diz, o que melhor sirva a eles e lhes dê segurança.
* AFP