Entre os 10 profissionais de saúde que foram os primeiros a receber a vacina contra o coronavírus em Blumenau estava Marianne Ramos de Lima e Silva, de 61 anos. A médica do Hospital Santa Isabel soube por telefone que seria uma das pessoas escolhidas e, depois de um dia de trabalho, foi ao salão nobre da prefeitura na tarde desta terça-feira (19), onde ocorreu a cerimônia de início da campanha de vacinação.

Continua depois da publicidade

> Receba notícias de Blumenau direto no Whatsapp. Clique e entre no grupo do Santa.

Marianne é médica pneumologista há 37 anos, 27 no mesmo hospital em Blumenau, cidade que adotou quando deixou o Rio de Janeiro. Está na linha de frente dos cuidados desde meados do ano passado, quando voltou de um afastamento de três meses por ter doado um rim ao sobrinho de 30 anos. A cirurgia ocorreu no dia em que a Organização Mundial da Saúde decretou haver uma pandemia no planeta. A alta, um dia antes do governo estadual declarar estado de calamidade pública, em 17 de março.

Os colegas de profissão temeram quando ela disse que queria ajudar no atendimento aos contaminados, já que havia passado pela cirurgia e possui mais de 60 anos, o que aumenta os riscos de desenvolver sintomas mais graves da doença. Quando a situação piorou e o município caminha para o primeiro pico, não teve outro jeito: Marianne, que já não atuava na UTI há nove anos, voltou para lidar diretamente com os pacientes mais graves da Covid-19.

— É um trabalho muito árduo, a gente dobrou a escala de UTI. Não só os médicos, mas todos os profissionais. É uma honra muito grande representar meus colegas nesta batalha que estamos enfrentando. A gente tem medo. Quem diz que não tem em trabalhar na pandemia não está falando a verdade — disse a médica minutos antes de receber a picada diante dos olhares de jornalistas e alguns políticos da cidade.

Continua depois da publicidade

Marianne fez o teste de coronavírus cinco vezes, o último, no começo do mês passado, deu positivo. Os sintomas foram leves, para alívio da médica. Dias antes, deixou a UTI para atender os pacientes que são internados, com ou sem Covid-19. Ela permanece nesse ofício desde que se recuperou da contaminação. 

> Astrazeneca e CoronaVac: as diferenças entre as vacinas da covid-19 em SC

> Vacina contra a Covid-19: quem pode ou não tomar

— A gente sabe que faz a diferença nas vidas das pessoas, mas na pandemia são experiências emocionantes. Você chegar e dizer para o paciente: “eu preciso intubar você, você não está bem” e saber que a sua voz, o seu olhar pode ser a última coisa que ele está vendo… isso me marcou muitas vezes, porque isso aconteceu — contou.

— Vacina salva vidas, não tem que ter medo. Negar que a doença existe não muda o fato de que ela é real, que mata pessoas. Tem que vacinar, por você, pelas pessoas que ama, pelo coletivo — pediu a especialista. 

Primeiro morador vacinado 

Marianne seria a primeira dos 10 a ser imunizada, mas a prefeitura decidiu, momentos antes da coletiva de imprensa começar, fazer a aplicação por ordem alfabética. Assim, o enfermeiro Fauzer Della Rosa Mendez, 39, tornou-se o primeiro morador de Blumenau a receber a dose. Ele trabalha na central de atendimento a casos suspeitos da Vila Germânica desde que a estrutura foi montada. Quando ela esteve desativada, atuou na Policlínica. Mendez, que tem 10 anos de profissão, é servidor há dois.

Continua depois da publicidade

— Eu não tenho como expressar, é gratidão. Estou maravilhado, não peguei coronavírus e não vou pegar! Não precisa ter medo, não tenha dúvida sobre tomar, a vacina foi aprovada pelos órgãos competentes — defendeu o enfermeiro.

Mendez aguarda a segunda dose para então conseguir deixar para trás o medo do vírus. Durante a pandemia, chorou por não poder pegar a filha de três anos no colo e pelo distanciamento que manteve da esposa. 

> ‘Vamos ser vacinados e vamos continuar tendo que usar máscaras’, diz pesquisadora da Fiocruz

> Como funciona uma vacina?

A preocupação que vê nos semblantes dos pacientes que recebem o diagnóstico é uma das coisas que mais o marca no trabalho na Vila Germânica. Contente em ter tido o privilégio das primeiras aplicações, sabe que ainda há um caminho de cuidados e atendimentos pela frente. Só que agora tem algo diferente. Mendez recebeu uma dose de esperança.

Vacinação em Blumenau

Antes das primeiras imunizações a prefeita interina, Maria Regina Soar (PSDB), explicou como será a campanha na cidade. Seguindo as regras do Ministério da Saúde, primeiro serão vacinados os profissionais da saúde e os idosos em instituições de longa permanência. 

Continua depois da publicidade

> Veja o número de vacinas a serem aplicadas em cada um dos 295 municípios de Santa Catarina.

Como a quantidade enviada (3.400) não é suficiente para atender nem os quase 8 mil trabalhadores da saúde da cidade, a prioridade será pelos que estão na linha de frente, nas UTIs e emergências especializadas em Covid-19, profissionais que atuam em instituições de longa permanência, profissionais do Samu e equipes envolvidas na vacinação.

Dentro desses grupos, os hospitais terão de indicar quem é prioridade. Depois disso, a vacinação ocorre em poucos dias, já que em média as doses são aplicadas de cinco em cinco minutos. 

Nesta primeira remessa, equipes volantes irão às unidades com agendamento prévio com as instituições. Quando o próximo lote chegar, a marcação de horário deve ser liberada pelo aplicativo Pronto da prefeitura, site e telefone. Porém, tudo dependerá da quantidade enviada.