Oscar Schmidt não tem como passar despercebido. Sua figura se impõe – e não só pela altura de 2 metros e cinco centímetros. O ex-atleta, que atualmente é palestrante, passou pelo Litoral Norte e deu uma parada na sede do Grupo RBS em Itajaí, onde concedeu entrevista. Simpático, não deixou pergunta sem resposta e demonstrou estar à vontade para falar sobre a doença que vem enfrentando.
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Depois da entrevista, Anne Reinecke Phillipi, 11 anos, ganhou uma atenção especial do ídolo Oscar Schmidt em Itajaí. A garota, que treina basquete no Colégio São José, correu para a sede da RBS quando viu o atleta em uma entrevista na TV. Levou para casa duas bolas assinadas por Oscar e uma foto com o astro.
Como você avalia a preparação do Brasil para sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016?
O Brasil já fez a maior parte dos estádios, falta pouco. Agora se você me perguntar sobre as cidades, o transporte e coisas do gênero, precisa melhorar muito e em todas, principalmente as que serão sedes das competições.
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Em relação ao basquete, que análise você faz do momento da modalidade? Você acredita que a seleção masculina consegue brigar por medalha em 2016?
Tenho quase certeza que conseguimos disputar medalha. Devia ter disputado agora em Londres, mas perdemos pra Argentina, de novo. A gente só ganha deles quando quase não vale nada. Ganhamos no pré-olímpico e depois perdemos a final. Mas acredito que o Brasil está num caminho ótimo.
Você sempre se disse um soldado da Pátria, que nunca negou uma convocação para a Seleção Brasileira. Às vésperas do Sulamericano, muitos jogadores pediram dispensas. O que você acha disso?
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No Sulamericano você aceita, porque muitos atletas já jogaram essa competição. Mas quando é o Pré-olímpico e os atletas pedem dispensa, esses são deploráveis. E esses pedidos aconteceram muito no passado. A competição mais importante do basquete é o Pré-olímpico, muito mais do que o Mundial e a Olimpíada.
Como você avalia a atitude do Leandrinho, que pediu dispensa da seleção e não disputou o Pré-olímpico em 2011?
Quando o Brasil disputava vaga o Leandrinho estava jogando no Flamengo e isso é deplorável. Espero que acabe isso. Mas pelo menos ele foi pra Olimpíada. Vamos ver se agora ele continua aceitando as convocações. O Nenê é outro que não foi. Não tenho nenhum contato com esses atletas, nem quero ter.
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Em 2000 você enfrentou o ainda adolescente Tiago Splitter, em Blumenau, pela Liga Nacional. No fim daquele jogo você profetizou que ele seria um dos grandes nomes do basquete brasileiro. Na última temporada da NBA, por pouco o Splitter não se tornou o primeiro brasileiro campeão da liga norte-americana. Que análise você faz do Tiago? A profecia se cumpriu?
Sem dúvida. Qualquer um que visse o Tiago jogando faria a mesma profecia. Ele é um menino de ouro, quem não gostaria de ser pai dele? Está sempre presente, acho que agora no Sulamericano é a primeira vez que ele não vai pra seleção quando é convocado. Adoro ele e espero que seja convocado sempre, porque apesar das suas limitações, e ele tem algumas, ele está sempre presente e faz muito pela Seleção Brasileira sempre.
Na sua vida pessoal, enfrentar o câncer foi um grande desafio?
Está sendo. Já operei pela segunda vez. Primeiro tirei um tumor grande, que não era maligno, era quase benigno. Passei dois anos bem e depois voltou, pequeno, mas maligno. Fiz tratamento de novo e estou fazendo outras coisas também, como operação espírita. Vou dar muitas chances pro “homem” me salvar lá (risos). Estar aqui, bem, é uma superação. Porque no tratamento você fica derrubado, com um cansaço que nunca tive na vida, um terror. Mas depois passa e aos poucos você volta. Agora já jogo futebol, faço até gol de cabeça.
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O que mudou na sua vida após a descoberta da doença?
Depois que descobri o câncer mudou muita coisa. De dois anos pra cá gasto tudo o que tenho, às vezes gasto mais do que ganho, porque caixão não tem cofre. O que eu ganhei como jogador, você fica com medo quando para de jogar, pensa em comprar imóveis ou onde investir e você muitas vezes não viaja, deixa de curtir sua vida. Eu já fazia isso antes, mas agora faço muito mais. Hoje trabalho oito meses e descanso quatro.
O que representou para você o encontro com o Papa, no Rio de Janeiro?
Se não curar agora não cura mais. Pra quem acredita em Deus, você apertar a mão do Papa é muito emocionante. Naquele dia, parei de me emocionar só à noite. Não podia lembrar do assunto que me emocionava. Mas não pelo meu tumor. Não pensei minimamente no meu tumor, mas só em estar vendo o Papa e ele tocando em mim. Foi um privilégio, era um sonho que pensei que nunca ia realizar. Ele (Papa Francisco) é o primeiro argentino humilde que eu conheço.
Colaboraram Victor Pereira e Dagmara Spautz