O publicitário, humorista, cartunista, repórter e apresentador Danilo Gentili não poderia terminar melhor o ano. Seu talk show, o Agora é Tarde (Band), foi renovado para 2013, os projetos cinematográficos estão a mil e, recentemente, o jornal The Guardian o citou como sendo uma das estrelas do stand up comedy mundial.

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Gentili, que despontou na TV como o hilário repórter inexperiente do CQC e depois se consagrou por abordar políticos em Brasília de maneira debochada, foi comparado ao sueco Frankie Boyle, conhecido por seu humor pessimista e controverso. O paulistano está “na vanguarda” do stand up no Brasil por ser “um cara de papo reto que diz verdades contundentes sobre a realidade política brasileira”, diz a publicação britânica. A postura nem sempre agrada todo mundo, mas o apresentador, que tem 4 milhões de seguidores no Twitter, diz não se importar. O objetivo é produzir riso:

– Não me censuro, meu trabalho é criar. Trabalho com piada, meu papel é fazer rir – diz.

E, para isso, o Gentili produz sem parar: além do programa na TV, ele está envolvido em dois filmes – Mato sem Cachorro, de Pedro Amorim, diretor da série Mothern, do GNT, e Como se Tornar o Pior Aluno da Escola, adaptado do seu livro homônimo, lançado em 2009 pela Panda Books, que deve causar polêmica. Por conta de reclamações de pais ao Ministério Público, o livro não é recomendado para menores de 18 anos. Além das incursões no cinema, ele ainda trabalha em um jogo de tabuleiro para brincar de comédia em casa.

Gentili conversou com o TV Show por telefone e revelou como arruma tempo para tanta coisa:

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– Eu não durmo!

TV Show – Há sempre alguma polêmica nova envolvendo suas piadas. As pessoas estão perdendo a capacidade de rir de si mesmas ou o brasileiro virou fã do politicamente correto?

Danilo Gentili – Não acho que o brasileiro está certinho ou perdendo a capacidade de rir. O que acontece é que, às vezes, tem meia dúzia que acha chifre em cabeça de cavalo. Só que essa meia dúzia tem um megafone na mão. A impressão que dá é que tem meia dúzia de pessoas que querem que você siga uma cartilha política que nem me avisaram qual é. Tem tema que eu não posso abordar, e só descubro depois que fiz a piada. Mas vivo de comédia graças ao público brasileiro.

TV Show – A comédia aqui sempre teve uma vertente desbocada e politicamente incorreta com nomes como Ary Toledo e Costinha…

Gentili – Não sei o que está acontecendo. Hoje, você faz uma piada com um político na televisão, e todo mundo fala “Nossa, como ele é ousado”. Mas, quando eu era criança, todo programa que via falava de Sarney, Collor, e descia o pau nessas pessoas. Era muito normal, era até banalizado. De uns tempos pra cá, faço humor político e questionam como tenho coragem de fazer isso. Não sei de onde surgiu isso.

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TV Show – Isso chega a influenciar você de alguma maneira? Ou primeiro vem a piada e depois você vai lidar com as consequências?

Gentili – Tudo que consegui até hoje foi fazendo piada. Não vou me censurar. Tem gente ganhando dinheiro para censurar. Eu ganho para criar, então a parte de cortar não fica comigo. Recebo muitas mensagens ,”Você não tem o direito de falar isso”. Mas qualquer pessoa tem o direito de falar qualquer coisa. Meu trabalho é criar. Trabalho com piada, meu papel é fazer rir.

TV Show – E qual o papel do humor hoje?

Gentili – O papel do humor em qualquer lugar do universo é fazer rir, sem dúvida. Não adianta nada eu vir com uma crônica de um monte de regra ou de um monte de coisas que quero criticar, encher um teatro e ninguém rir. A matéria-prima que uso, às vezes, é meu ponto de vista. Isso torna meu trabalho autêntico, e autenticidade na comédia é fundamental.

TV Show – O humor tem limite?

Gentili – Não, não tem limite. O que tem limite é a chatice, pessoa ficar magoadinha com piada é mau humor. Isso que deveria ter limite, não humor.

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TV Show – E para o Agora é Tarde, como você escolhe os convidados para o programa?

Gentili – Escolho todo mundo, porque não escolho ninguém. Acho que a grande graça do talk show, aqui ou em qualquer lugar é justamente trazer qualquer pessoa que tenha uma coisa legal para mostrar. Minha parte do programa é tornar legal qualquer entrevista com qualquer pessoa.

TV Show – Existe alguém que você não gostaria de ter no programa?

Gentili – Não. A pessoa que eu menos gostaria de ter no programa é a pessoa que mais gostaria ter no sofá, porque provavelmente vai ser uma das melhores entrevistas. Recebo desde Ivete Sangalo até Tony da Gatorra (músico gaúcho famoso por tocar um instrumento feito por ele próprio, a gatorra, mistura de bateria eletrônica com sintetizador).

TV Show – Como foi a conversa com o Tony?

Gentili – Nossa, ele é mucho loco. Levei uma guitarra de brinquedo e fiquei solando com ele no fim da entrevista. Ele se divertiu muito. O papel do talk show é esse. É receber gente conhecida, mas também tornar gente conhecida.

TV Show – Você sente falta das entrevistas em Brasília? O que era mais difícil?

Gentili – Sinto muita falta daquela correria. A adrenalina era muito grande. O mais difícil era entrar quando estava impedido, mas eu sempre entrava. Ou passar pela segurança quando tinha barreira. Mas, quando rolavam essas dificuldades, as matérias eram sempre mais legais.

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TV Show – E no CQC, o quadro do Repórter Inexperiente foi inspirado em alguém?

Gentili – Quando comecei, me inspirei mesmo em mim. Porque eu não era repórter. E era inexperiente em TV. Então, peguei as coisas que eu realmente faria e exagerei.