Há alguns dias uma agitação percorreu parte da comunidade mundial do surfe. O motivo foi o teaser de Inaippu (que significa reconexão, na língua oriental tâmil), novo longa de Loïc Wirth, cineasta catarinense de 27 anos.
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Em tempos de tamanha instantaneidade, um filme gestado por três anos gera comoção, principalmente se ele vem depois de uma obra como Intentio, primeiro longa de Loïc, superelogiado e agraciado com importantes prêmios: Melhor Filme no Festival de Anglet, da França; Melhor Cinematografia no Festival de San Diego, na Califórnia; Melhor Fotografia no Festival de Filmes SAL, em Portugal; e seleção oficial do Festival do Rio 2012.
Enquadrar a produção do menino do Canto da Lagoa, em Floripa, que já viajou os quatro cantos do mundo caçando imagens na categoria “filme de surfe” seria reduzi-la. Loïc vai bem além do aéreo ou do tubo: filma as culturas locais em costumes e expressões, além de mostrar paisagens tão belas quanto brutas em longas sequências que, quando sonorizadas com a trilha sempre certa, roubam o fôlego e emocionam. Com a coluna, o garoto de nome bretão e pai belga que desconstrói estereótipos citando cineastas russos, japoneses e sérvios como inspiração, falou sobre sua história.
Como começou a filmar?
Conheci o (filmmaker) Pietro França enquanto viajava. Ele e o Thomaz Seliens me emprestaram a primeira câmera que usei para filmar, aos 19 anos. A partir daí as coisas foram evoluindo naturalmente sem eu perceber que viraria meu trabalho.
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Por que acha que seu primeiro longa foi reverenciado e recebeu tantos prêmios?De que forma ele se diferencia?
Tentei passar mensagens e questionamentos sobre nossa forma de viver no mundo e acho que esse reconhecimento é consequência de as pessoas estarem abertas e interessadas nesses questionamentos. Acho que prêmios e reconhecimentos são formas simbólicas de as pessoas falarem que sentiram algo bonito por meio do filme.
Você abriu mão de seguir surfistas dos grandes circuitos mundiais em nome de um caminho independente e criativo. O que quer passar com seus filmes?
Quero passar amor. Pode soar boba essa resposta. Mas é o meu maior objetivo em filmar.
Onde Inaippu foi filmado e quando ele será lançado?
Filmei em 14 países diferentes. Mas estou buscando guardar os nomes para provocar uma sensação de cumplicidade com o mundo sem fronteiras e linhas imaginárias. O lançamento é no segundo semestre de 2017.
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Paciência de esperar o momento certo parece ser um adjetivo necessário a todo filmmaker. Quais são as outras características necessárias?
Em tempos de 3G, 4G e Instagram, instantaneidades tantas que nos fazem estar sempre com pressa e memórias mais curtas, isso se torna um desafio. Estou muito feliz por ter conseguido segurar essas filmagens o tempo que senti ser necessário. Outras características eu diria que são as mais clichês, porém mais importantes: fazer pelos motivos certos. Fazer porque tem algo dentro de você que te inspira a querer dividir isso com todos que podem sentir o mesmo.
As imagens que você capta são grandiosas, mostram gente e natureza e revelam um olhar maduro, apesar da sua pouca idade. Que referências te levaram a formar esse olhar?
Minha família sempre teve uma relação muito forte com a natureza. Meu pai e minha irmã trabalharam com ecologia e, minha mãe, fotógrafa, sempre registrou o mundo de um jeito muito único. Minha irmã também. Acho que crescer num ambiente assim me fez sentir parte disso tudo e querer enaltecer o mundo.
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Que profissionais do cinema você tem como referência/inspiração?
Admiro muito Tarkovsky, Hirokazu Koreeda, Jean-Pierre Jeaunet, Marc Caro e Emir Kusturica. No surfe, Joe G, Pietro França, Pablo Aguiar, Taylor Steele, Ryan Thomas e os irmãos Malloy sempre me inspiraram muito.
Como você bancou o segundo filme?
Faço trabalhos paralelos para poder investir nos equipamentos e nas viagens. Os surfistas também têm grande parte nisso, pois pagam minhas passagens e ajudam com estadia e alimentação. É muito bonito ter essa confiança deles em apostar nas minhas ideias.
O que mais te apaixona no ofício?
Ver o mundo em momentos tão dinâmicos. As pessoas e paisagens são elementos que não se pensa muito na hora de procurar ondas, mas acabam sendo a parte mais importante de toda a experiência.
Assista ao trailer de Inaippu aqui.