Do caso de espionagem dos Estados Unidos, que afetou o Brasil, à pressão dos fundos “abutres” sobre a Argentina, passando pelo capitalismo selvagem e pela falta de democracia na ONU, a América Latina inundou de queixas a Assembleia Geral, em Nova York.

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>>>> Leia a íntegra do discurso de José Mujica na ONU

Na terça-feira, o discurso da presidente Dilma Rousseff pareceu dar o tom aos pronunciamentos dos chefes de governo sul-americanos que a sucederam. O tema da vigilância eletrônica foi um dos mais populares. Segundo o presidente uruguaio, José Mujica, a espionagem na rede mundial de computadores “apenas gera desconfiança”. Ele criticou também as consequências do capitalismo e o avanço tecnológico, que têm nos Estados Unidos sua encarnação máxima.

– Parece que nascemos para consumir e consumir – afirmou Mujica, acrescentando que, se a humanidade quisesse “viver como um americano médio”, seriam necessários “três planetas”.

Mujica também criticou a atual ordem mundial e lembrou dos “restos do colonialismo nas Malvinas” e dos “bloqueios inúteis a esse jacaré sob o sol do Caribe que se chama Cuba”.

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Se temas como Malvinas e Cuba estão há anos na agenda sul-americana, a presidente argentina, Cristina Kirchner, escolheu como alvo um assunto que mantém o país em suspense: o julgamento em curso nos Estados Unidos sobre os fundos especulativos, chamados de “abutres” por Buenos Aires, para a cobrança de bônus em default desde 2001.

– Estamos pedindo simplesmente que nos deixem pagar – reclamou Cristina.

A presidente denunciou o grupo de 0,45% de credores que pode bloquear o pagamento a 93% dos proprietários de bônus que concordaram com a reestruturação da dívida feita pela Argentina em 2005 e 2010. O impasse pode levar o país a um novo calote.

Já o presidente chileno, Sebastián Piñera, um empresário conservador, preferiu criticar o funcionamento pouco democrático da ONU, pedindo a reforma do Conselho de Segurança com a eliminação do direito a veto e a inclusão de novos membros permanentes, como o Brasil.

Todas essas críticas ressoaram no órgão sem a presença dos presidentes mais “antiimperialistas”, conforme definição do boliviano Evo Morales. Às ausências anunciadas de Rafael Correa (Equador), Daniel Ortega (Nicarágua) e, sem surpresa, Raúl Castro(Cuba), somou-se a deserção de Nicolás Maduro (Venezuela) no último momento. A Venezuela havia pedido à ONU “garantias” de que Maduro e sua comitiva seriam “respeitados” nos EUA, após problemas com o uso do espaço aéreo americano para uma viagem de Maduro à China e com a concessão de vistos para a delegação venezuelana.

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