Maior produtor nacional de suínos e segundo maior de aves, Santa Catarina vem expandindo o desempenho em gado para corte. O Estado ainda ocupa o 13º lugar na produção brasileira de bovinos, conforme dados da Epagri, e precisa importar 40% da carne de boi que consome. No entanto, o cenário tem melhorado ano a ano. Entre 2011 e 2015, o rebanho catarinense cresceu 8,49%, enquanto no Brasil aumentou apenas 1,12%. No mesmo período, a carne bovina passou da 11a para a sexta posição no ranking dos produtos mais importantes para o agronegócio catarinense. De 2014 para 2015, o abate em Santa Catarina teve incremento de 1,71%, e no país registrou um tombo de 9,6%.
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Produtores e pesquisadores não têm dúvidas de que o interesse pela pecuária de corte cresceu nos últimos tempos. Segundo o engenheiro agrônomo da Epagri Cassiano Eduardo Pinto, especialista em reprodução animal, o recuo da atividade em outros Estados tem relação com a ampliação por aqui.
– Houve uma conjuntura em nível nacional, desde 2007, de reduzir a pecuária para dar lugar ao plantio de soja e cana-de-açúcar, que ficaram muito rentáveis. Nessa onda, o preço do boi cresceu, e Santa Catarina foi influenciada por isso. Com essa crescente de preços, as pessoas se interessaram mais em produzir bovinos – explica.
O pecuarista Ricardo Lunardi, de Chapecó, trabalha há 30 anos no setor e calcula que há pelo menos cinco a atividade vem se intensificando.
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– Creio que nos últimos anos cresceu uns 60% ou 70% – afirma.
Outro fator que contribui para esse aumento é o fato de que a pecuária de corte, além de poder ser tão rentável quanto a lavoura de soja ou milho, tem risco menor de perda. Por isso, há produtores que têm migrado para a criação de gado, como o também chapecoense Ricardo Zanella.
– Faz quatro anos que larguei a lavoura do milho porque, até pelo tamanho da minha propriedade, não rendia tanto – diz.
Potencial inexplorado no mercado externo
O engenheiro da Epagri reconhece que, devido a limitações ambientais, Santa Catarina não tem como competir com Estados do Centro-Oeste e se tornar um grande produtor brasileiro. Entretanto, há diferenciais a serem explorados.
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– Aqui não temos como trabalhar gado como commodity, mas temos uma carne com mais qualidade por causa dos cruzamentos com raças europeias. É uma carne mais marmorizada, de valor agregado muito superior – justifica.
Esse diferencial de raças, aliado ao status sanitário – Santa Catarina é o único Estado livre de febre aftosa sem vacinação –, faz a carne bovina catarinense ter potencial para comercialização tanto no mercado interno quanto externo. A produção, contudo é insuficiente para exportar.
A despeito de todo o potencial, as vendas para outros países, já pequenas, caíram nos últimos anos. Em 2016, foram comercializados apenas US$ 4,49 milhões para o exterior. Com isso, a carne bovina ficou na 139ª posição na pauta de exportações catarinenses. O Estado também começou a exportar gado vivo, cujo valor alcançou ainda menos, US$ 2,5 milhões. Para melhorar o cenário e transformar o potencial em realidade, é necessário investir em tecnologia no campo, afirma o engenheiro.
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– Já tivemos compradores interessados. A África do Sul esteve aqui há alguns anos, mas não tínhamos como vender uma quantidade suficiente. A cadeia da carne bovina é longa e tem que investir dentro da porteira e fora dela para fazer parceria comercial. Se aplicarmos tecnologia, em médio prazo, no mínimo dez anos, podemos ser exportadores – calcula.
O secretário de Estado da Agricultura, Moacir Sopelsa, afirma que há frigoríficos catarinenses negociando para começar a exportar. Segundo ele, o governo vem incentivando a pecuária de corte por meio de financiamentos com juro subsidiado, além da redução da alíquota do ICMS no âmbito do programa de Apoio à Criação de Gado para Abate Precoce.
– Fora isso, estamos desenhando um programa para financiar embriões aos produtores. Temos muito material genético de qualidade em Santa Catarina. Se seguirmos investindo, acredito que nos tornaremos exportadores de cortes de carne mais nobres daqui a uns anos – avalia.
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O programa para embriões se justifica pelas divisas praticamente fechadas de Santa Catarina a animais vivos de outros Estados. É uma forma de manter o status sanitário, mas também alvo de reclamações de pecuaristas, já que gera dificuldades para repor a criação, o que aumenta os custos e complica a concorrência com o produto que vem do Centro-Oeste. Mesmo com o frete, a carne do Mato Grosso acaba chegando mais barata do que a produzida aqui.
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