Sete meses consecutivos de trabalho. Pode até não parecer muito, mas é uma espécie de recorde quando a função é ser treinador de futebol no Brasil. A tarefa fica ainda mais difícil se a missão é agradar a exigente torcida joinvilense. E é por isso que Hemerson Maria deixa até o semblante sério de lado e abre o sorriso, raramente visto, para falar sobre a atual fase à frente do barco tricolor. Com os sete meses que completou nesta semana, ele é o treinador com a passagem mais longa no comando do JEC desde o técnico Paulo Bonamigo, que permaneceu 15 meses entre 1998 e 1999.

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Hemerson Maria soube da marca pessoal na tarde desta sexta-feira pela reportagem de A Notícia, a quem concedeu uma entrevista exclusiva. Durante uma conversa de cerca de meia hora na sala de imprensa do clube, o treinador falou sobre a fase que classifica como “um momento muito feliz na carreira.”

Entre os assuntos, o treinador descreveu as diferenças de trabalhar no Avaí e no Joinville, sobre a pressão que tem no comando do JEC, elegeu as melhores vitórias e as piores derrotas e ainda revelou que a derrota para o Figueirense na final do Estadual permanece entalada na garganta.

Hemerson Maria tem 34 jogos – deixando de fora os amistosos com América e Inter – como técnico do JEC. O aproveitamento de pontos é apenas regular – 53,9% -, mas os resultados obtidos sob sua liderança enchem a torcida de confiança sobre o acesso no fim da temporada: o vice-campeonato catarinense (mesmo com um time com menos recursos financeiros do que nas temporadas anteriores) e o fato de a equipe ser a única da Série B a figurar em todas as rodadas dentro do G4.

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Confira abaixo os principais trechos das entrevistas com o treinador e assista aos vídeos com as respostas de Hemerson Maria sobre os temas.

O segredo da longevidade

Para Hemerson Maria, não há segredo algum para explicar o porquê de ele ser o técnico que mais perdura no comando do JEC. De acordo com o treinador, o nome disso é trabalho. A formação de uma competente comissão técnica, a sua participação na montagem do elenco e o respaldo e a estrutura oferecidas pela diretoria do Tricolor são os motivos para que seu trabalho seja visto de forma positiva.

– Acho que esse é o segredo do nosso trabalho: esse planejamento que foi feito e a tranquilidade que foi passada para colher os resultados – diz.

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As diferenças entre trabalhar no Avaí e no JEC

Pressão por resultados existe em todo lugar, mas, para Hemerson Maria, é mais difícil trabalhar no Tricolor do que no Avaí. Na avaliação do comandante, em Florianópolis a pressão está dividida entre os dois clubes: Figueirense e Avaí. No caso de Joinville, a cidade respira JEC, e por isso a cobrança é mais concentrada.

– As duas campanhas muito boas que o Joinville fez na Série B fazem com que a cobrança seja um pouco maior do que em Florianópolis – esclarece.

As críticas recebidas

Hemerson Maria está aberto a receber críticas, embora, às vezes, as considere injustas. Nem toda derrota significa que o time está ruim e nem toda a vitória significa que a equipe jogou bem. Para o treinador, é preciso observar uma partida em vários aspectos.

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– Começamos a tomar gols de bola parada e foi falado da bola parada. Começamos a ter jogadores expulsos e começou a se falar de jogadores expulsos. Mesmo quando nós estávamos tomando gols de bola parada, o Joinville estava desenvolvendo um grande futebol – exemplifica.

As grandes vitórias e as piores derrotas

Hemerson Maria comandou o JEC em 34 jogos oficiais e os filmes de alguns deles ainda passam em sua cabeça. Curiosamente, os jogos contra os times da Capital – Avaí e Figueirense – são os que mais o enchem de orgulho e também os que mais o fazem sofrer. As vitórias sobre Figueirense e Avaí, fora de casa, pelo Campeonato Estadual, estão entre as grandes atuações do Tricolor na sua avaliação, assim como a última vitória sobre o Sampaio Corrêa. Já as derrotas mais amargas foram justamente para a dupla da ilha: a pior delas foi na final do Catarinense, contra o Figueira; a outra foi pela Série B, na Arena, diante do Leão.

– Joinville e Figueirense são grandes jogos, Joinville e Avaí são grandes jogos também. Essa rivalidade tem que existir. Ela que faz com que a vitória seja mais saborosa e a derrota mais dolorida – justifica.

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Pressão no JEC

Depois de três derrotas consecutivas – para ABC, Avaí e Bragantino -, Hemerson Maria viveu o seu momento de maior pressão no JEC. Impaciente com a série de resultados, a torcida começou a se mostrar nervosa. Mesmo assim, o presidente Nereu Martinelli deu respaldo ao seu trabalho e reafirmou a importância de manter um projeto para conquistar resultados a longo prazo. O discurso do presidente parece ter chegado aos ouvidos do treinador, que garante que nunca se sentiu ameaçado no cargo.

– Em nenhum momento me senti ameaçado, até porque o presidente sempre procurou me passar tranquilidade e tem confiança no meu trabalho. Em todos os momentos de dificuldade, o presidente esteve ao nosso lado, sempre com uma palavra amiga e de incentivo. Esse momento que o JEC está vivendo se deve muito à figura do presidente – elogiou.

A importância da família

Depois da derrota para o Avaí, na Série B, Hemerson Maria pegou o carro, dirigiu até Florianópolis e foi recuperar as energias perto da família. Quando não está em serviço, Hemerson Maria assume o papel de filho de José Maria, pai de Hérika e de irmão mais velho. Durante a disputa do Estadual, o treinador chegou a dedicar uma vitória sobre o Criciúma para seu pai. E é esse o combustível que move suas ambições: a vontade de orgulhar a família que torce pelo seu sucesso.

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– Minha família é o meu grande suporte. Eu tenho três ícones na vida: Deus, meu avô e meu pai. Meu avô foi uma pessoa que luto pele vida até o final, foi um guerreiro. E o meu pai é um exemplo de honestidade, que criou cinco filho em um período muito difícil – descreve.

O sorriso tímido

Quem vê Hemerson Maria no dia a dia raramente o vê sorrindo. Com o semblante quase sempre fechado e o tom de voz sereno, ele é um homem pacato, que esconde as emoções. E isso não é exclusividade do campo profissional. Na vida pessoal, o treinador reconhece que tem dificuldade de soltar o riso, situação que já virou até motivo de cobrança da filha.

– É uma reclamação que minha filha faz. Se ela me ver sorrindo aqui (no vídeo feito para a matéria de AN.com.br), ela vai reclamar. Quando vou bater uma foto com ela, eu falo que geralmente estrago a foto pois sou muito sério. Às vezes, o sorriso aparece, o que é bom também, porque acaba assustando muito vocês e os jogadores – brinca o comandante.

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