Os depoimentos de cinco policiais militares – quatro mulheres e um homem – foram decisivos para a denúncia do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) no caso do pedreiro Amarildo de Souza. Os promotores negam ter havido delação premiada. Uma das policiais que depôs, a soldado Thaís Gusmão, acabou no rol de 25 denunciados. À exceção de Thaís, que teria ficado do lado de fora “vigiando” enquanto a tortura transcorria, os demais depoentes ficaram dentro do contêiner.
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Do local, embora não pudessem ver, conseguiam escutar pelas paredes finas a aplicação dos suplícios a Amarildo. Em comum, os depoentes têm o pouco tempo na corporação. Os “recrutas”, na linguagem da promotora Carmen de Carvalho, não foram denunciados por omissão porque não teria ficado provada a capacidade deles para intervir e cessar a sevícia.
As soldados Carolina Andrade Martins, Dezea Juliana da Costa Sousa e Monique Sant’Ana Pinheiro teriam ficado bastante nervosas ao ouvir a tortura. O único depoente homem, Alan Jardim da Rosa, teria tentado intervir, mas foi ridicularizado por outros PMs, de acordo com a denúncia.
Conforme a promotora Carmen, a sessão de tormento aconteceu atrás do equipamento da UPP, no alto da favela da Rocinha. O pedreiro teria sido submetido a afogamento, com a cabeça dentro de um balde d’água, asfixia com saco plástico e choques elétricos com pistola Taser, de uso restrito e controlado pelo Exército. Ainda segundo a promotora, o corpo teria sido retirado pelo telhado e enrolado pela capa da motocicleta de um dos PMs, atada com fita-crepe. O MPRJ não conseguiu avançar nas apurações sobre o destino dado ao corpo de Amarildo.
Denúncias
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Do total de 25 PMs denunciados até agora, oito foram enquadrados por omissão – teriam condições de parar a tortura e nada fizeram para cessá-la. Houve ainda 17 acusados por ocultação de cadáver, quatro por fraude processual e 13 por formação de quadrilha.
O major Edson dos Santos, comandante da UPP na época do crime, cometeu fraude por duas vezes: uma, quando teria forjado um telefonema atribuído ao traficante Catatau em que ele diz ter sido responsável pela morte do pedreiro e outra por ter, supostamente, jogado óleo sobre o piso da área onde a sevícia ocorreu, para despistar a perícia em busca de gotas de sangue no local.
No caso da ligação de Catatau, os peritos descobriram que a voz que seria dele era, na verdade, de um policial, que ligara para um número que Santos sabia estar grampeado para imputar aos traficantes a morte de Amarildo. Na análise da promotora, o major liderava a quadrilha e estava na sede da UPP durante todo o tempo que o pedreiro era torturado.
O corregedor da Polícia Militar, Cezar Augusto Tanner, que estava ao lado dos promotores do Ministério Público, afirmou que “os PMs envolvidos vão parar de trabalhar a partir de agora” e elogiou o trabalho dos representantes do MPRJ.
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Confira a linha do tempo sobre o caso Amarildo