O depoimento do ex-ministro José Dirceu à Justiça Federal do Paraná, marcado para sexta-feira, em Curitiba, se transformou em mais um motivo de preocupação para a cúpula do PT. O temor é de que, para se defender das acusações de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, Dirceu aponte o partido como responsável por indicações na Petrobras, o que abriria um novo flanco de investigação contra dirigentes e ex-dirigentes petistas.

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Até a quarta-feira, era consenso no PT que Dirceu não incriminaria diretamente outros nomes. Ao apontar o partido como responsável pelas indicações, ele apenas colocaria em prática uma nova estratégia de defesa, avaliavam os petistas. No entanto, o depoimento do ex-ministro poderá, nesse caso, abrir um novo caminho para a investigação relativa ao partido.

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Outro temor é de que Dirceu utilize um de seus ex-assessores e amigos que também são alvos da operação para apontar novos nomes. Esse receio cresceu nos últimos dias após o depoimento do empresário Fernando Moura, conhecido no partido pela sólida amizade com José Dirceu.

Na última sexta-feira, Moura, réu da Operação Lava-Jato, disse que pagou propina para o PT e que seus contatos sobre valores ilícitos foram feitos com o ex-secretário-geral do partido Silvio Pereira e com o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque — preso desde abril do ano passado.

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— Qualquer coisa que fiz a nível de partido, de conversa, foi feito através do Sílvio Pereira — afirmou Moura em depoimento prestado no âmbito da mesma investigação na qual Dirceu será ouvido na quinta-feira.

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Interrogado pelo juiz federal Sérgio Moro, como réu no processo do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (gestão Lula), o lobista apontou contratos da Petrobras — obras de gasodutos, plataformas — em que ele diz ter feito acertos envolvendo Sílvio Pereira e Duque e que tinham o PT como beneficiário. Ele ainda citou os diretórios como receptores.

— Porcentagens de valores de comissão (iam) para o diretório nacional e diretório estadual de São Paulo — afirmou Moura.

— Isso, tanto com o senhor, quanto o Sílvio? — questionou um dos procuradores na audiência.

— Tenho certeza de que o Sílvio conversou comigo e com o Renato (Duque) também (sobre porcentuais) — disse Moura.

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O procurador insistiu:

— O senhor conversou com os empresários sobre isso também?

— Não. Os empresário eu não tive nenhum contato. O contato era direto com o Sílvio — respondeu afirmativamente Moura, que fechou acordo de delação com a Lava-Jato.

Em outro ponto, Moura foi questionado diretamente sobre o ex-ministro:

— Com relação aos recebimentos de José Dirceu, o senhor tinha participação, alguma vez coletou valores em espécie em favor dele?

— Nada. E nunca negociei com o Zé, direto, de dinheiro de nada — mencionou.

Moura também ressaltou que Pereira “nunca” lhe “falou que estava dando para o Zé”:

— Nunca paguei nada para ele e ele nunca pagou nada para mim.

Moura ainda foi questionado se Silvio Pereira sempre foi o contato entre ele e Dirceu:

— Silvo Pereira era quem eu tinha contato com ele, a minha relação com Zé era muito mais de amizade — respondeu Moura.

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Mensalão

Silvio Pereira está oficialmente afastado do PT desde o mensalão, deflagrado em 2005. No final de 2002, logo após a vitória de Lula na disputa pela Presidência, ele foi o responsável pelo preenchimento de cargos de primeiro escalão no governo que começava a ser montado.

No entanto, os petistas afirmam reservadamente que Silvinho, como ele é conhecido no partido, não tinha autonomia para as nomeações e trabalhava sob as orientações de Dirceu e do ex-tesoureiro Delúbio Soares.