Uma reunião realizada na última terça-feira (24) na Câmara de Vereadores de Joinville reuniu a Procuradoria Especial da Mulher e o grupo de sororidade da faculdade Udesc, além de outras entidades interessadas, para debater as denúncias constantes de importunação sexual no transporte coletivo da cidade.
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O encontro foi idealizado pela Procuradoria após o grupo ganhar tração na mídia e nas redes socias com um de seus encontros contando com a presença da vereadora Ana Lúcia Martins (PT). Outras entidades também participaram, como a DPCAMI (Delegacia de Proteção a Criança, Adolescente, Mulher e Idoso), a OAB Mulher e a Rede Intersetorial de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher de Joinville.
Exigências e propostas
A discussão foi iniciada pela aluna de matémática da Udesc Ana Paula Sartori, de 20 anos, apresentando a origem do grupo sororidade e a principal problemática enfrentada pelas alunas: o assédio no transporte público da cidade. Ana contou que, ao trocar experiências com outras estudantes, foi descoberto um padrão:
— Na maioria dos casos, os ônibus estão lotados. E se o ônibus tá lotado, como eu vou comunicar ao motorista que eu sofri essa violência? Eu não consigo chegar até ele, não tem o que fazer.
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Sendo assim, o primeiro pedido do grupo foi a implementação de novos horários de circulação, o que reduziria a lotação dos veículos. Junto com isso, a estudante ainda reforçou que muitas linhas pararam de circular totalmente durante a pandemia, principalmente em horários noturnos, o que obrigou muitas mulheres a caminhar longas distâncias sozinhas durante a noite.
As principais propostas foram, no entanto, medidas de proteção e reação para as mulheres em caso de assédio. Considerando que em um ônibus lotado não é possível comunicar o motorista, uma das propostas foi a implementação de um botão do pânico em todos os carros. Desse modo, o motorista seria notificado no próprio painel e então teria a oportunidade de agir da forma correta.
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Ana também falou sobre a importância de instalar câmeras de segurança em terminais e ônibus, para ajudar na identificação do autor do crime. Na maioria dos casos de importunação sexual no transporte público, a vítima não conhece o criminoso ou não consegue identificá-lo.
— Tendo em vista que a vitima não conhece o agressor e, se não tem câmera de monitoramento tanto nos terminais quanto nos onibus, é quase impossível fazer a identificação — disse a delegada Cláudia Gonzaga, da DPCAMI de Joinville, sobre a importância das câmeras.
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A delegada ainda trouxe estatísticas de denúncias de importunação sexual em transporte público entre os anos de 2020 a 2022 em Joinville. Foram 12 casos no total, um deles em que a vítima era uma menina de 13 anos, sendo que apenas três deles resultaram na responsabilização do autor.
Já Alcides Bertoli, diretor da Gidion, trouxe em seu pronunciamento que em um levantamento feito pela empresa, não houveram registros oficiais de assédio dentro de ônibus ou terminais nos últimos dez anos. Segundo ele, os motorista dos ônibus são orientados a, assim que ficarem sabendo de um crime, parar o ônibus e acionar a Polícia Militar.
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O representante da empresa ainda ressaltou que “sempre orientou” seus dois filhos a gritarem diante de casos de assédio.
— É você, possivelmente um assediador, e o ônibus tem mais dez, vinte, trinta, quarenta pessoas que pensam como você. Então, no caso de quem tá sendo assediado, é se embuir de coragem e gritar.
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O diretor da empresa também anunciou uma campanha organizada em conjunto com a Transtusa, Passebus e a Seinfra, que colocará pôsteres dentro dos ônibus, incentivando a denúncia em casos de assédio.
Como surgiu o grupo sororidade
A iniciativa das alunas surgiu dentro de um grupo de sororidade da faculdade Udesc de Joinville, um ambiente comum criado em 2016 para as estudantes trocarem experiências, oportunidades de moradia, conselhos, entre outras coisas. Dentro do grupo, com mais de 200 pessoas, falava-se sobre assédio, mas o grupo não era destinado especialmente a isto.
Foi neste grupo que, em abril, Ana Paula denunciou o caso de assédio que sofreu quando voltava para casa da faculdade. A caminho do bairro Aventureiro, Ana e uma amiga perceberam os olhares constantes de dois homens. Ana os confrontou, mas ambos continuaram a segui-las depois de descer do ônibus. Sua amiga seguiu em outra direção, e os homens a seguiram, chamando-a de louca e ameaçando a seguir até sua casa.
Depois da denúncia, Ana descobriu que outras meninas possuíam experiências muito semelhantes de importunação sexual no transporte público. Um grupo de aproximadamente 20 alunas se reuniu para compartilhar conselhos e, aos poucos, passaram a discutir possíveis soluções para o problema.
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Cada vez mais meninas se juntaram às rodas de conversa e, no dia 24 de abril, a vereadora Ana Lúcia Martins (PT) fez parte de uma das discussões. Aos poucos, o grupo ganhou tração nas redes sociais e até fez aparições na mídia.
*Sob supervisão de Lucas Paraizo
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