Mobilizados há 19 dias numa greve considerada ilegal pela Justiça, os agentes penitenciários não conseguiram ser atendidos nas reivindicações trabalhistas que pleiteiam mas espalharam apreensão e transtornos pelo Estado. Em Florianópolis, ao bloquearem desde quinta-feira o trânsito na Trindade – pedindo que sejam respeitados os direitos dos detentos do complexo penitenciário naquele bairro -, duas dezenas de mulheres acabaram tumultuando a vida dos motoristas, prejudicando milhares de compromissos.

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No Sul do Estado, protesto por causa da suspensão das visitas de familiares aos presos intranquiliza a população. Na cadeia de São Pedro de Alcãntara, os mesmos ânimos exaltados. É justo que os presidiários paguem por reivindicações de uma categoria que tem, aliás, a função de manter a ordem no sistema carcerário? Ao mesmo tempo, pipocavam ontem no Estado informações de que três ônibus haviam sido incendiados, em Florianópolis e em Criciúma.

É temerário e prematuro relacionar esses fatos à greve dos agentes, mas à população também é lícito pensar que nas duas ondas de atentados ocorridas em Santa Catarina em 2012 e em 2013 a ordem partira justamente de encarcerados descontentes com algum tipo de tratamento. Feito o estrago, os agentes decidiram ontem por uma suspensão da greve por 48 horas, com base em um acordo com a Secretaria da Justiça e Cidadania, para realizar uma nova assembleia da categoria na segunda-feira. Uma providencial trégua.

É legítimo que os profissionais utilizem da prerrogativa constitucional para chamar atenção para suas reivindicações e ao que consideram de direito, mas é inadmissível que continuem com um movimento considerado ilegal pela Justiça sem que sejam de alguma forma responsabilizados.

E as instituições não podem permitir que o sistema permaneça tão vulnerável e que o clima de tensão aumente a ponto de colocar a coletividade em risco. Se a decretação de ilegalidade e a imposição de multas ao sindicato e a seus dirigentes em caso de descumprimento da determinação de retorno aos trabalhos não foram suficientes, cabe ao poder público buscar outra alternativa para evitar que a população continue sofrendo os impactos da mobilização.

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O Estado tem a responsabilidade de manter o controle nas unidades e estar preparado para situações como essa. Mesmo afirmando que já atendeu às reivindicações dos agentes, esgotando a capacidade financeira pública, as autoridades não devem se sentir descompromissadas porque o movimento paredista foi considerado ilegal pelo Judiciário. Afinal, os transtornos à população exigem uma ação firme, responsável e que restaure a normalidade o quanto antes.