O sotaque caipira fica mais evidente só aos domingos, durante as gravações do programa da comunitária Rádio Leste. Na maior parte do tempo, Roselene de Vicente, 39 anos, nem parece ter vindo do interior do Paraná.
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É só entre um intervalo e outro de consultas que a dentista aproveita para contar seus “causos” e divertir os pacientes.
O bom humor da paranaense já é conhecido em Joinville há 16 anos. Recém-formada em odontologia, Roselene se instalou na rua Baltazar Buschle, no bairro Boa Vista, e no local fez sua clientela, grande parte operários da Fundição Tupy.
A dentista é filha de colonos de Iporã (PR) e com muita dificuldade iniciou a faculdade em Curitiba. Os pais conseguiram pagar somente até a terceira mensalidade do curso, o restante foi pago por meio de crédito educativo. Roselene vem de uma família de 17 dentistas.
Na época em que se formou, muitos parentes retornavam para o interior para exercer a profissão. Mas Roselene quis arriscar em um novo território, já que muitos amigos haviam se mudado para Joinville. O primeiro consultório foi montado em uma casa de madeira alugada e os equipamentos foram financiados.
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– Fui a primeira da minha família a vir morar aqui – conta.
Os irmãos Odair e Marilene, também dentistas, se mudaram logo em seguida.
– Nesta época, eu já tinha clientes suficientes para dividir com eles – orgulha-se.
Foi em Joinville que a paranaense conheceu o marido Daniel, com quem tem dois filhos. Há seis anos, ela também topou comandar um programa semanal na rádio comunitária do bairro. Nas manhãs de domingo, ela coloca seu chapéu de palha, como uma típica caipira, para falar com os ouvintes imigrantes paranaenses.
– Para mim, é uma vitória falar para um público, porque sofri muito na faculdade por causa do sotaque – recorda.
As expressões que só paranaense compreende e histórias engraçadas de imigrantes que chegam na cidade são contadas com bom humor por Roselene. A dentista ainda faz a seleção das músicas do programa dominical e atende aos telefonemas dos ouvintes.
– Às vezes, os pacientes nem acreditam que sou a mesma pessoa da rádio – brinca.
Com a carreira profissional realizada em Joinville, resta a Roselene concretizar o sonho de ter um espaço para acolher os paranaenses que vêm para a cidade sem rumo definido.
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– Seria um cantinho para reunir coisas que as pessoas não precisam mais e que pode servir para outra – planeja.