Dennis Radünz conta que o pai quis com obstinação que ele fosse escritor. Tornou-se muito mais que poeta e cronista. É docente da escrita, pesquisador em literatura e dirige a Editora Nave. Percorre o país para promover, em oficinas e eventos, a escrita, a leitura e a cultura. Em julho, lançou o oitavo livro dele, “Foi no campo da dúvida”, que reconta uma narrativa da tradição oral do Meio-Oeste catarinense e reproduz o “linguajar” caboclo regional.
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Filho do jornalista e fotógrafo Lauro Lara, desde a primeira infância, visitava o pai na redação do Jornal de Santa Catarina, em Blumenau, cidade natal dele. Em casa, cresceu vendo o pai entrevistar, escrever, fotografar e revelar fotos. Aos 15 anos, publicou o primeiro poema no jornal da escola. Com “Nauemblu”, anagrama de Blumenau, e o poema “Ora-pro-nóbis” ficou em 1º lugar, respectivamente, em 1991 e 1992, no Concurso de Poesia Livrescrita, promovido pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (Furb). Nessa época, fazia parte do Núcleo de Teatro Experimental do Teatro Carlos Gomes e interpretou o protagonista de “Woyzeck”, de Georg Büchner. A encenação conquistou o prêmio de melhor espetáculo no Festival Catarinense de Teatro, em 1990.
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Antes de se render totalmente à literatura, alimentou na adolescência o sonho de ser arquiteto e músico. Na faculdade, escolheu Direito para seguir na diplomacia, mas transferiu-se para Ciências Sociais com a ideia de se tornar antropólogo. Desistiu de ambas e graduou-se em Letras. Aos 25 anos, lançou o primeiro livro, “Exeus” (1996), e a Academia Catarinense de Letras o escolheu “Escritor Revelação”. Mudou-se para Joinville, começou a colaborar no caderno de Cultura do jornal A Notícia e a escrever o “Livro de Mercúrio” (2001), que teve vários poemas musicados.
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Em 2001, chegou de mudança a Florianópolis, criou a editora Nauemblu e esteve à frente da publicação de dezenas de livros de arte e literatura. Destaque para “História natural de sonhos/Naturgeschichte von Träumen” (2004), que reúne poemas infantis de Fritz Müller e recebeu o selo “altamente recomendável” da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. No ano do bicentenário do naturalista alemão, ele decidiu relançar o título.
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Ao publicar o terceiro livro “Extraviário” (2006), apresentou-se no Festival Folia das Falas, em Florianópolis, com o espetáculo solo “Radical volátil”, interpretando os versos marcados pelo ritmo e melodia. O escritor voltou a colaborar em jornal com crônicas publicadas no Diário Catarinense – 31 delas selecionadas em “Cidades marinhas: solidões moradas” (2009). A crônica “Ilha do Carvão”, sobre o aterro da Baía Sul, foi adaptada para o curta-metragem homônimo dirigido por Fábio Brüggemann, de 2016. Nesse mesmo ano, lançou “Ossama”, a obra mais reconhecida, com repercussão na crítica e imprensa nacional e selecionada para distribuição em 295 bibliotecas públicas de SC.
Aos 51 anos, Dennis Radünz soma 31 deles dedicados à literatura. Da Fundação Catarinense de Cultura, recebeu o prêmio de “Reconhecimento por Trajetória Cultural” (2021). Em maio, foi premiado pela Academia Catarinense de Letras, na categoria Ensaio, com “Roça barroca: mundos torrentes”, a dissertação do mestrado sobre a poética de Josely Vianna Baptista.
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Em uma das diversas homenagens ao pai, falecido em 1993, escreveu: “Meu pai ‘intuiu’ bem e acabei vivendo tudo o que ele anteviu (talvez um escritor, um editor, talvez) e se falo de mim no Dia dos Pais, e não dele, é porque Lauro está aqui e continua nas minhas mãos, em minha voz e no que escrevo. Se eu me tornar um pai, serei como ele: um que motiva, reconhece e inspira”.
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*Texto de Gisele Kakuta Monteiro
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