Em 1982, Ridley Scott já tinha no currículo Os Duelistas e Alien, o Oitavo Passageiro. Sua livre adaptação de Philip K. Dick – Androides Sonham com Ovelhas Elétricas? –, que resultou em Blade Runner, o Caçador de Androides, custou US$ 28 milhões, numa época em que os orçamentos milionários começavam a virar norma em Hollywood. A expectativa de um megaêxito frustrou-se, mas, em compensação, algo se passou. O filme deu origem a um culto. A visão decadente do futuro de Los Angeles, segundo Scott, seduziu legiões. Em 1992, a versão do diretor finalmente obteve o pleno reconhecimento.

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Existe toda uma bibliografia sobre os bastidores de Blade Runner. Harrison Ford não entendia o conceito, vivia às turras com o diretor e não se bicava com Sean Young, que fazia a replicante Rachel. Odiavam-se. Contra tudo isso, ou pode ser que por tudo isso, criou-se o mito do filme.

Exatamente 35 anos depois, surge Blade Runner 2049. O original passava-se em Los Angeles, 2019. Agora, 30 anos depois, um novo blade runner está caçando androides na cidade. Caçar não é bem o termo. Ele os “aposenta”. Nesse futuro ainda mais decadente, sucederam-se as revoltas de replicantes. De cara, K, vivido por Ryan Gosling, é mostrado em ação. Tensão, violência.

Aposentado o replicante, a missão complica-se com a descoberta de uma caixa. Nela está a pista para o mistério do novo filme. Há uma criança especial, um milagre. Foi parida por uma androide, filha de um humano.

– Quando me propuseram o filme, minha primeira reação foi dizer não – diz Denis Villeneuve, diretor convocado para o projeto (Ridley Scott assina a produção). – Gosto tanto do original. Mas justamente por gostar tanto, não poderia deixar que outro ferrasse com o que virou tão importante no imaginário coletivo. E disse sim.

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A história atraiu-o, e muito, pela relação criador/criatura, que ele chama de “tema de Frankenstein”:

– Mas não teria aceitado, se não me assegurassem toda liberdade. Fiz o filme que queria. Sorry, mas se não estivesse satisfeito não poderia culpar ninguém.

A Chegada, no ano passado, foi a primeira ficção científica de Denis Villeneuve.

– Sempre gostei muito do gênero. Pertenço a uma geração que via fantasias futuristas para tentar entender o mundo. 2001 (de Stanley Kubrick) é um dos filmes da minha vida. Mas eu não encontrava o meu viés, a história que queria contar. A Chegada marcou esse comprometimento.

E Blade Runner 2049?

– Não sei se você estará de acordo com o que vou dizer, mas esse filme engloba todos os que fiz antes – Incêndios, O Homem Duplicado, Sicário, A Chegada. É um filme sobre lembranças, duplos, poder, linguagem e comunicação. O tema do criador e da criatura é visceral. Possui dimensão mítica, bíblica. O anterior já tinha. O replicante cravava o prego na própria mão. O sacrifício permeia os dois filmes. O que vem para liderar, para libertar.

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Villeneuve admite que tomou muitas liberdades com o conceito visual de Ridley Scott. Acha que foi mais fiel a trilha sonora:

– Nunca vi alguém que, gostando de Blade Runner, não reverenciasse a trilha de Vangelis, incluindo a faixa One More Kiss, Dear, pela New American Orchestra. Com Johann Johansson e Han Zimmer, procuramos uma sonoridade grandiosa, majestosa, mas nada disso faria sentido sem o essencial. A melancolia. Para mim é o tema de Blade Runner 2049. Não falo da melancolia somente como tema musical, mas como conceito.

O elenco traz de volta Harrisson Ford no papel de Rick Deckard, caçador de androides que agora vive escondido e apresenta Jared Leto como Niander Wallace, biocientista milionário que retoma a produção de androides proibida pelo governo, e Ana de Armas, como a assistente desse, Joi.

Assista ao trailer de Blade Runner 2049:

* Estadão Conteúdo

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