Santa Catarina atingiu o maior número de casos de dengue já registrado em sua história e chegou ao fim do primeiro semestre de 2020 com 10.116 casos de pessoas infectadas pelo mosquito transmissor da doença. O fato é que o Aedes aegypti se fortaleceu, se adaptou e veio para ficar — e, se você é morador de Joinville, é bem provável que existam mosquitos vivendo ou nascendo perto de você. A cidade é o principal motivo para Santa Catarina ter batido o recorde de casos de dengue de sua história em 2020, quando ainda faltam mais seis meses para o ano terminar.

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Até 30 de junho, 9.682 pessoas já haviam contraído a doença transmitida pelo Aedes aegypti dentro Estado, considerando um período iniciado em 29 de dezembro de 2019. É como se, desde esta data, a cada dia, 52 pessoas tivessem ficado doentes, todos os dias. Destas, 7.903 viviam em Joinville, ou seja, 81,2% dos casos de Santa Catarina ocorreram apenas nesta cidade.

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A taxa de incidência da dengue em Joinville é de 1.294,2 por 100 mil habitantes — para a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma epidemia é caracterizada quando o nível de transmissão alcança uma taxa maior do que 300 casos de dengue por 100 mil/hab.

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Além de Joinville, outras nove cidades catarinenses também já são consideradas em situação de epidemia. Tijucas é a segunda com mais casos de transmissão: 211 pessoas foram diagnosticadas com dengue ao longo de 185 dias. Já Formosa do Sul, cidade do Oeste com população estimada em 2.510 pessoas, apresenta a maior taxa de incidência do Estado: 1.713,1 por 100 mil habitantes — foram 43 casos em 2020. 

Além dos casos contraídos dentro do Estado, também foram registrados 168 casos importados (transmissão fora do estado), 115 casos indeterminados (não foi possível definir o LPI) e 151 casos estão em investigação de LPI. O maior número de casos de dengue em Santa Catarina havia ocorrido em 2016, quando 4.379 pessoas contraíram a doença em todo o Estado.

— Desde 2013, Santa Catarina vem registrando municípios que são considerados infestados pelo mosquito, e a infestação traz esse risco de possibilidade de transmissão. Começou na região Oeste e, ao longo dos anos, foi se expandindo. Hoje, Santa Catarina tem 103 municípios considerados infestados — explica João Fuck, diretor da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive) de Santa Catarina.

foto mostra agentes chegando em casa com focos da dengue
Limpeza de terrenos de acumuladores está entre as ações da Vigilância Ambiental (Foto: Prefeitura de Joinville/ Divulgação)

De 14 casos em 2019 a quase 8 mil em 2020

Com a maior população de Santa Catarina e por sua proximidade com o Paraná (estado que em julho de 2019, por exemplo, já havia registrado 22.946 casos de dengue e 23 mortes pela doença ao longo de 12 meses), Joinville já poderia figurar na lista de cidades em alerta da Dive há muito tempo. 

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No entanto, em novembro de 2019, a cidade estava na lista de baixo risco de transmissão: em todo o ano passado, 14 moradores tiveram dengue comprovada por exames de sangue em Joinville e, destes, dez haviam contraído a doença em outras cidades, durante viagens. 

Agora, a situação é bem diferente: do total, apenas 53 casos confirmados não são autóctones, termo usado para definir o contágio dentro da cidade de residência do paciente. Nos últimos anos, o mosquito foi encontrando espaço para sua reprodução e infestando a maior parte da cidade. Atualmente, o bairro mais infestado é o Aventureiro, seguido pelo Boa Vista e pelo Comasa. 

— Joinville foi considerada infestada em 2015. Eram apenas dois bairros, e isso foi aumentando nos outros anos. A partir do momento que temos o mosquito em grande quantidade no município que tem o maior número de pessoas do Estado, vai gerar um número de casos maior — explica João.

“De carona” nos caminhões

Nos últimos anos, o Aedes aegypti têm expulsado o Aedes albopictus, uma espécie natural em Joinville, para tomar seu lugar na área urbana. Essa espécie de mosquito apresenta uma grande capacidade de evolução, o que significa que, mesmo nos climas mais frios, ele pode se adaptar e continuar se reproduzindo. E, para isso, encontra nas cidades um elemento importantíssimo: a fêmea precisa se alimentar com sangue após a fecundação, para fazer a produção de ovos.

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— Joinville é um local propício para o mosquito: úmido e quente, ambiente que ele adora. Com a infestação no Norte do Paraná e, como muitos joinvilenses têm parentes lá, eles vieram junto no carro, na roupa. Eles também vinham do Rio de Janeiro, de São Paulo, nos caminhões — explica o engenheiro sanitarista da Vigilância Ambiental de Joinville, João Martins.

As crenças sobre o mosquito transmissor também mudaram. Antes, acreditava-se que ele não ultrapassava os dois metros de altura em seu voo e, agora, já são encontrados focos em calhas e caixas d`água. Os antigos conselhos de esvaziar pratos e vasos de plantas e outros itens domésticos não são mais suficientes para conter a infestação.

— Estamos observando que seus locais de habitat são mais amplos, e isso depende de toda uma mudança de cultura — analisa o coordenador da Vigilância Ambiental de Joinville, Henrique Deckmann.

Entenda a doença:

Se você estiver sentindo dores de cabeça, febre alta, moleza no corpo e perceber manchas na pele, pode estar com dengue. Os sinais da doença se manifestam a partir do terceiro dia após a picada do mosquito e duram, em média, de cinco a seis dias. Existem duas variações da dengue, a clássica e a hemorrágica, e os sintomas variam de acordo com o tipo de vírus.

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Dengue clássica

Na dengue clássica, o infectado terá febre com início repentino, dor de cabeça, no corpo, nas articulações e por trás dos olhos. Náuseas, vômitos e cansaço extremo também são algumas consequências da doença. É comum o aparecimento de manchas na pele, semelhantes a do sarampo, principalmente no tórax e nos membros superiores. Essa é a forma mais branda da dengue que pode atingir crianças e a adultos, mas raramente leva à morte.

Dengue hemorrágica

A dengue hemorrágica é mais severa e pode ser fatal. Os sintomas são os mesmos da dengue clássica, com algumas variações. A diferença é que quando a febre cessa, surgem novos sinais de alerta como dores abdomnais fortes, vômitos persistentes, pele pálida, fria e úmida. Além desses sintomas, pode haver confusão mental, sede excessiva, dificuldades de respirar, sangramentos pelo nariz, boca e gengiva.

Na dengue hemorrágica, o quadro se agrava rapidamente, e o doente pode apresentar sinais de insuficiência circulatória e choque, podendo levar à morte em até 24 horas. De acordo com o Ministério da Saúde, 5% das pessoas que contraem a dengue hemorrágica morrem. Ao observar o primeiro sintoma, deve-se buscar orientação médica no posto de saúde ou hospital mais próximo. Quem já contraiu a formação clássica da doença deve agir com rapidez quando perceber o reaparecimento dos sintomas, pois corre o risco de estar com dengue hemorrágica

Como se pega dengue:

A dengue é transmitida por um vírus, assim como a gripe. Mas ao contrário de algumas doenças virais que podem ser contraídas pelo ar ou em um simples aperto de mão, o vírus da dengue precisa de um vetor para passar de uma pessoa para outra. O responsável por isso é o mosquito Aedes aegypti. Ao picar uma pessoa doente, o mosquito “armazena” o sangue infectado. Quando ele pica uma segunda pessoa, ela recebe o vírus que veio da primeira. Por isso a principal forma de combater a dengue é eliminando o responsável por transmitir o vírus.

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Como identificar o mosquito da dengue:

O mosquito responsável pela transmissão da dengue é o Aedes aegypti. Ele é conhecido como “pernilongo rajado” porque tem listras brancas e pretas ao logo do corpo. Também é possível identificar o mosquito da dengue por suas patas que são compridas e finas – são seis ao total. Ele mede menos de 1 centímetro e costuma picar nas primeiras horas da manhã e nas últimas da tarde, evitando o sol forte. Não é possível perceber que foi picado porque, no momento em que ela ocorre, não provoca dor nem coceira.

O voo dele é considerado baixo, já que ele não ultrapassa os dois metros de altura. Sozinho, ele alcança no máximo a distância de um quilômetro mas, geralmente, só busca sangue humano a até 200 metros de seu criadouro, já que precisa disso para a reprodução.

*com informações do Ministério da Saúde

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